PANDEMIA

Infectologista alerta que novo coronavírus continua com transmissão ativa em todo o país

Mesmo com taxa de transmissão abaixo de 1, médica pede que a população mantenha os cuidados para evitar a infecção pelo novo coronavírus

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 19/08/2020 às 16:58
Jailton Júnior/TV Jornal
FOTO: Jailton Júnior/TV Jornal

Pela primeira vez, desde o mês de abril, segundo cálculos do Centro de Controle de Epidemia do Imperial College, o Brasil registrou desaceleração no contágio pelo novo coronavírus. Para a semana que começou no último domingo (16), a taxa de contágio aqui no Brasil foi calculada em 0,98. Mas esse dado não pode ser considerado como um passe livre para achar que a pandemia da covid-19 acabou. Afinal, países como Equador e Bolívia, que haviam reduzido os índices de contágio, voltaram a apresentar aceleração nesta semana. A cautela é defendida pela médica epidemiologista e infectologista Ana Brito.

A médica explica como é feita a avaliação. “A taxa de contágio, como nosso país tem uma baixa testagem, assim como os países da América do Sul como um todo, ela é baseada no número de mortes e assim o Imperial College tem feito estimativas e projeções para quase todos os países do mundo, porque o número de mortos é mais confiável do ponto de vista da ocorrência, porque tem implicações jurídicas também. O óbito tem que ser notificado, ter uma causa básica que é universalmente codificada e tem que ter um registro em cartório (...) pela primeira vez, em quatro meses, se estima que a taxa de contágio ou de reprodução do vírus seja inferior a um. Isso quer dizer que uma pessoa infecta menos de uma pessoa”, detalhou a médica.

Segundo a especialista, quando o novo coronavírus começou a se espalhar, sua transmissão era muito alta, podendo uma pessoa pessoa infectada transmitir o vírus para até outras quatro. No entanto, ela reforça que essa queda não quer dizer que a transmissão não está ativa. “É importante saber que nós temos transmissão ativa do vírus no nosso país. Temos, inclusive, taxa de transmissão maior do que 1 em algumas regiões. Há regiões em que a pandemia ocorreu mais tardiamente, como o Sul e o Centro-Oeste do país e alguns estados do Norte. É possível, por exemplo, que no interior de Pernambuco, Ceará ou Bahia as taxas de transmissão ainda sejam superiores a 1 porque nós ainda temos aceleração de números de casos novos da doença e temos registros diários de mortes”, comentou.

Ana Brito ainda diz que a ideia equivocada de que o país tem uma queda na transmissão do novo coronavírus não pode ser entendida como uma realidade de todo o Brasil. “A ideia de uma medida central para o Brasil pode incorrer nessa impressão de que a doença já está resolvida, a gente já tem uma taxa de transmissão menor do que 1 (...) Mas não é. Nem reflete isso porque nós não somos um país homogêneo, nem dizer que uma taxa é menor do que 1 significa que não está havendo transmissão ativa. Nós continuamos tendo transmissão ativa do vírus em todas as regiões do país, inclusive naquelas que já alcançaram um fator e agora tendem a declinar, como é o caso do Recife e algumas cidades da Região Metropolitana”, alertou.

A médica lembrou que é importante manter os cuidados para prevenir a infecção pelo novo coronavírus e criticou a situação do transporte públicos. "Manter-se em isolamento social, quem puder (...) Não ter aglomeração. A questão do transporte coletivo tem que ser equacionado. É impossível a gente ver aqueles transportes lotados de pessoas. Em São Paulo, um estudo mostrou que os trabalhadores que dependem de transporte público têm três vezes mais chance de morrer por covid do que a pessoas que chegam ao seu trabalho ou de carro, bicicleta ou a pé", apontou.

A epidemiologista também falou sobre os pedidos para volta às aulas presenciais. “Nova Zelândia teve cinco casos, fechou novamente fronteiras. A gente tem 40 mortes por dia no Estado de Pernambuco e estão querendo abrir escolas, que ainda é o contingente que tem mantido esse número estável no estado. Eu não tenho a menor dúvida. Manter 1/3 da população em casa tem sido garantido pelas escolas e pela proteção aos idosos", criticou.

Subnotificação de óbitos

Segundo a médica, como a taxa é avaliada a partir do número de óbitos é preciso estar atento à subnotificação de óbitos no país. “A gente se baseia no número de óbitos confirmados para o vírus. Obviamente que algumas outras pessoas evoluíram para o óbito e que tinham covid não foram diagnosticadas, nem quando foram assistidas, nem no momento do óbito. Nós temos uma subnotificação de óbitos, embora seja bem menor do que a subnotificação de infectados. E esse número, que aparentemente pode ser inferior a 1, pode representar apenas uma flutuação das últimas semanas. A gente tem flutuação inclusive pelas confirmações dos óbitos, que demoram muito mais do que dos casos (...) Pode não ser uma taxa real e sofrer flutuações como em outros países que a gente tem observado”, disse.

O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização.
- Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Ficar em casa quando estiver doente.
- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
- Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
- Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.