Blackface

Bia Kicis faz post racista com Moro e Mandetta para satirizar seleção da Magazine Luiza

A deputada Federal postou em suas redes sociais uma imagem que utilizou de “Blackface”; entenda o que é o termo

Carol Coimbra
Carol Coimbra
Publicado em 28/09/2020 às 8:54
Reprodução/Twitter
FOTO: Reprodução/Twitter

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), aliada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), zombou da criação do programa de trainees voltado exclusivamente para a população negra, anunciado pela rede de lojas Magazine Luiza. A satíra foi postada nas redes sociais da deputada no último sábado (26).

No post, Kicis usou da imagem dos ex-ministros da Justiça e Segurança Pública, Sério Moro, e da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, exonerados por Bolsonaro. Na imagem compartilhada pela deputada, os rostos dos dois estão pintados de preto insinuando que eles estariam aptos a participarem do programa da Magazine Luiza por estarem desempregados.

Confira a postagem:

 

Apesar de ter sido bastante linchada como racista, a deputada postou a imagem novamente em suas redes sociais como uma tentativa de explicar-se. “Cuidado, se você consegue enxergar racismo nesse post ao invés de vê-lo na atitude da Magazine Luiza, o estrago do ensino aos moldes de Paulo Freire pode ter sido muito grande na sua capacidade de interpretar textos e de compreender a vida”, escreveu.

A atitude de Kicis foi considerada por muitos internautas como Blackface.

Blackface

A tradução literal da palavra “blackface” significa “rosto negro”.

O blackface é uma prática considerada racista que surgiu em torno de 1830 nos teatros de Nova York. Os atores brancos utilizavam carvão de cortiça e outros tipos de tinta para pintar os seus rostos de preto. Os lábios e olhos não eram cobertos de coloração preta, eles eram realçados com uma forte pintura vermelha.

A intenção do ato que fazia parte das atrações dos Minstrel Shows (shows de menestréis ou jograis), bastante populares no século XX, era representar personagens afro-americanos, ironizando e ridicularizando de modo extravagante os negros. Eles eram apresentados com personalidades pejorativas, sempre como pessoas inúteis, ignorantes, bêbados, etc.

O público que assistia tais apresentações eram em sua maioria ex-escravistas e pessoas majoritariamente brancas.

Além de ajudar a potencializar os estereótipos racistas contra os negros, o blackface também impedia a abertura de espaço para que os negros pudessem participar do núcleo de espetáculos teatrais.

O blackface é considerado ofensivo pelo fato de pregar estereótipos negativos sobre a população negra. A prática surgiu nos Estados Unidos para entreter audiências brancas às custas de um grupo minoritário que lutava por seus direitos civis após séculos de escravidão.

O declínio deste “gênero teatral” se iniciou junto ao crescimento do movimento dos direitos civis dos negros no Estado Unidos, em torno da década de 1960.

Magazine Luiza e Polêmicas

A estratégia de inclusão social da rede de lojas gerou bastante polêmica nas redes sociais desde que foi lançada. Muitas pessoas consideraram o ato de “racismo reverso”. No entanto, muitos defenderam a atitude da marca.

Independente de qualquer crítica, a presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Luiza Trajano, já afirmou que não vai desistir do programa de empregos para as pessoas negras.

O Ministério Público do Trabalho recebeu 11 denúncias recebidas contra a rede, relatando discriminação por parte da empresa, mas, para o MPT, o processo de seleção da Magazine Luiza destinado a pessoas negras não se trata de violação trabalhista, mas sim de uma ação afirmativa de reparação histórica.