PANDEMIA

Volta às aulas: pesquisadora diz que menor taxa de transmissão da covid-19 seria mais seguro

Ana Brito integra a rede de pesquisadores responsável por parecer técnico que fez com que o Sintepe não optasse pela volta às aulas presenciais

Yuri Nery
Yuri Nery
Publicado em 21/10/2020 às 18:09
Yacy Ribeiro/JC IMAGEM
FOTO: Yacy Ribeiro/JC IMAGEM

O risco à saúde dos trabalhadores foi uma justificativas apresentadas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (Sintepe) para não retornar às aulas presenciais na rede estadual de ensino nesta quarta-feira (21), para quando estava definido o retorno dos alunos do 3º ano do ensino médio nas escolas públicas. A decisão teve como base parecer elaborado por especialistas da Rede Solidária em Defesa da Vida. A professora e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz em Pernambuco (Fiocruz-PE), Ana Brito, que integra a rede responsável pelo documento, explica que os critérios que foram considerados para a elaboração do parecer.

“Nós levamos em consideração, como todos outros pesquisadores e cientistas do mundo inteiro, dois princípios básicos. O princípio da precaução e o princípio da segurança sanitária”, disse.

Crianças e adolescentes como vetores de transmissão

Ana Brito destaca que as crianças e adolescentes se encaixam em situação de vulnerabilidade por serem agentes de transmissão durante a circulação do vírus. “Nós não temos condições de segurança sanitária para estimularmos a aglomeração de populações vulneráveis (...) as populações que têm comorbidade, os idosos, e as crianças e adolescentes, que a vulnerabilidade é como vetor de transmissão (...) elas mantém a circulação. Está aí o exemplo, do surto que foi identificado e notificado em um colégio onde só retornou o 3º ano do ensino médio. Porque o vírus vai aonde o povo está”, detalhou.

Condições ideias para o retorno às aulas

A pesquisadora destaca ainda qual seria a melhor maneira de se ter uma volta às aulas de maneira segura tanto para alunos quanto para professores. “Nós teríamos que ter uma taxa de transmissão viral, ou de reprodução do vírus menor do que 0.5. Nós temos muito próximo de nove e meio, 0.95 (...) Para que nós deixemos de ter transmissão ativa, essa taxa de reprodução viral, ela tem que ser inferior a meio, ou seja, 100 pessoas serão capazes de infectar 50. Quando está nessa fase, é que praticamente o vírus já não circula nesses grandes aglomerados populacionais”, comentou.

Uma montanha de casos

A especialista diz que o Brasil não controlou a primeira onda da covid-19 e afirma que o país vive uma montanha de casos de óbitos provocados pela infecção do novo coronavírus. “Nós estamos em um país, um estado, em uma região, que temos um grande e desproporcional número de casos permanentemente mantidos de covid e de óbitos por covid há mais de 20 semanas. Nenhum país do mundo viveu essa situação. Nós não temos espelho no resto do mundo (...) O Brasil não controlou a primeira onda. O Brasil vive em uma montanha de casos de óbitos”, explicou.

Confira a entrevista na íntegra: