Menina Sem Nome

‘Menina sem nome’: saiba como será a visitação ao famoso túmulo no feriado de Finados deste ano

O túmulo da menina sem nome é o mais visitado do cemitério de Santo Amaro, área central do Recife; relembre a história

Carol Coimbra
Carol Coimbra
Publicado em 29/10/2020 às 9:10
Felipe Ribeiro/JC Imagem
FOTO: Felipe Ribeiro/JC Imagem

O túmulo da “menina sem nome” é o mais visitado do cemitério de Santo Amaro, localizado no Centro do Recife. No local, pessoas depositam bonecas, doces, entre outros objetos para homenageá-la. Devotos atribuem à menina milagres e graças alcançadas. O feriado do Dia de Finados (2 de novembro) que ocorre na próxima segunda-feira, sempre gera aglomerações nos arredores do túmulo.

Este ano, por causa da pandemia da covid-19, a situação será um pouco diferente. Quem costuma ir agradecer e prestar homenagem para a menina terá que seguir alguns protocolos. Segundo o diretor administrativo e financeiro da Emlurb, Adriano Freitas, a expectativa é que, este ano, o local, que sempre gera aglomerações, seja menos movimentado.

“Em razão da pandemia, nossa expectativa é que o público diminua, inclusive por ser um feriado em uma segunda-feira, as pessoas já estão antecipando essa visitação. Nós esperamos um público menor este ano, no dia 2, até porque não haverá missas e nenhum evento além da visitação, as pessoas não vão se aglomerar. Elas chegam ao cemitério, visitam o túmulo da menina sem nome e, de lá, já vão embora”, explicou.

Leia Também: Menina Sem Nome, o túmulo mais visitado de cemitério no Recife em Dia de Finados

O fim trágico da Menina sem Nome

Dia de Finados em 2020 será marcado por proibição de missas nos cemitérios por causa do coronavírus

Adriano falou que, na visitação deste ano, é preciso seguir alguns protocolos. Ele afirmou também que haverá fiscalização nos arredores no túmulo para que todas as medidas de segurança exigidas pelo cemitério sejam seguidas. “O túmulo da menina sem nome é o mais visitado. Nós teremos um cuidado especial lá no entorno dele, com a guarda municipal e com a vigilância da Emlurb para orientar as pessoas para terem o cuidado, e manutenção de 1,5 metro dentro do cemitério. Então, lá também vale essa regra. Além de usar máscara que cubra boca e o nariz a todo o tempo. O cemitério tem controle no acesso para uso de máscara e dispensa de álcool em gel para higienização”, disse.

Caso alguém não queira seguir as ordens sanitárias, a Emlurb irá agir. “Se houver resistência, iremos orientar a pessoa para que cumpra essas orientações”, destacou.

História da Menina sem Nome

A garota foi encontrada morta na manhã do dia 23 de junho de 1970, na Praia do Pina, Zona Sul do Recife. Ela estava com as mãos amarradas para trás e sem usar roupas. Em volta de seu pescoço, havia uma outra corda.
O caso teve grande repercussão em Pernambuco na época. Forças policiais foram mobilizadas para achar o assassino e, durante os 45 anos que seguiram o assassinato, a versão corrente foi de que ela havia sido violentada e jogada, com as mãos atadas, na areia da praia. Também se levantou a possibilidade de afogamento.

O ofício de remoção de corpos número 891, de 1970, assinado pelo delegado Josenaldo Galvão, dá conta de que, na manhã do dia 23 de junho, foi encontrada na Praia do Pina uma garota de cor parda, aparentando 8 anos. Estava com as mãos amarradas por trás do corpo e com um laço no pescoço.
O laudo do IML traz uma profusão de fotos da vítima, as primeiras a vir a público desde o trágico caso. São oito fotografias, todas nas revelações originais. As imagens dão rosto à Menina sem Nome e a mostram ainda amarrada, sobre a mesa da perícia. Os detalhes das marcas no pescoço e na face também são mostrados nas fotos. A expressão de desolação no rosto da menina denuncia o sofrimento provocado pelo agressor antes de sua morte.

Segundo o documento, às 14h do dia 23 de junho foi realizada a necropsia, na sede do Instituto de Medicina Legal. O laudo ajuda a elucidar parte do mistério que envolve a garota: ela não foi estuprada nem morreu por afogamento. A causa mortis, de acordo com o perito Nivaldo Ribeiro, que assina o laudo, foi asfixia por sufocação. “A asfixia foi produzida por meio misto, constricção incompleta do laço no pescoço e aspiração de grãos de areia”, diz o texto. Um indicativo de que ela foi amarrada e sufocada com a face na areia da praia.

A morte ocorreu entre 20h e 21h do dia anterior ao que ela foi encontrada. “A vítima não apresentava lesões de defesa”, prossegue o perito, o que demonstra que ela foi amarrada antes de ser morta. O documento descarta a tese de abuso sexual. De acordo com laudo, o hímen da garota estava intacto e não havia quaisquer lacerações no ânus.O cadáver da Menina sem Nome foi encontrado pelo vendedor Arlindo José da Silva, conhecido como Galego, e por uma criança que fazia serviços para ele, o garoto Osvaldo Ulisses do Nascimento, de 11 anos. Arlindo chegou a ser preso como suspeito do crime, pois a polícia encontrou em sua casa, dois dias depois, uma calça suja de sangue. Ele também foi incriminado pelo depoimento de Osvaldo, que afirmou tê-lo visto com cordas no dia anterior ao crime, e que ele teria comentado que “procurava uma mulher para passar a noite”.

Arlindo foi solto menos de uma semana depois do crime, quando os policiais prenderam o mecânico Geraldo Magno de Oliveira, 22 anos. Ele confessou o assassinato da garota. Em seu depoimento, Magno conta que sempre via a menina perambular sozinha pelo Pina, e que teria lhe oferecido a quantia de 5 cruzeiros para que ela passasse a noite com ele. O assassinato, segundo o mecânico, ocorreu porque ela o teria chamado de “vigarista” e “velhaco” por não ter entregue o dinheiro, como havia sido combinado. O mecânico se disse arrependido de ter cometido o crime e falou que preferia morrer a ficar conhecido como assassino de uma criança.

Ainda em 1970, durante a primeira audiência com o então juiz Nildo Nery dos Santos – que chegou à presidência do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) em 2000 – Magno negou a autoria do crime e deu depoimentos contraditórios, alegando inclusive ter sido vítima de coação e tortura por parte dos policiais. O desembargador aposentado Nildo Nery, que afirmou não ter dúvidas de ter sido Geraldo Magno o verdadeiro assassino na Menina sem Nome. “Lembro como se fosse hoje do dia em que ele confessou, com detalhes, o crime. Pela riqueza de informações, tudo remetia a ele”, completa. Nildo Nery informou que Geraldo Magno foi assassinado na prisão, na Ilha de Itamaracá, Região Metropolitana do Recife, antes de ser julgado.

Ou seja, vão ficar duas grandes lacunas no caso: uma é o fato de o réu confesso não ter chegado a receber a sentença da Justiça e, portanto, não ter cumprido a pena pelo assassinato. A outra: a identidade da menina, que continua sem nome.