Pandemia do novo coronavírus

Lockdown é mais efetivo do que vacina quando a curva de casos está subindo, diz ex-presidente da Anvisa

Médico sanitarista, Gonzalo Vecina Neto explicou que o prazo de para conseguir imunidade com a vacina demora cerca de 20 dias, após o recebimento da segunda dose

Gabriel dos Santos Araujo Dias
Gabriel dos Santos Araujo Dias
Publicado em 11/03/2021 às 11:05
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O médico sanitarista e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina Neto, afirmou que o país ainda não chegou no pior momento da pandemia do novo coronavírus. Ele aposta que o país deve chegar à marca de três mil mortes registradas em 24 horas e disse que, quando a curva de novos casos está subindo, um lockdown é mais efetivo do que vacinas.

As declarações foram dadas em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, na manhã desta quinta-feira (11). “A vacina com as quais nós estamos trabalhando são de duas doses e o efeito [acontece] de 20 a 25 dias depois da segunda dose. Aó a da Janssen que é de uma dose. Aí 20 ou 30 dias depois da aplicação você está imunizado. No caso da AstraZeneca/Oxford, você toma a primeira dose, 90 dias depois toma a segunda dose, e só 20 dias depois é que está imune”, iniciou o especialista, completando em seguida: “No caso de um lockdown, 14 dias depois do início, você tem a queda do número de casos”, explicou.

“Então, a queda do número de casos acontece depois [no caso das vacinas, em comparação a um lockdown]. Veja o caso de Israel, com mais da metade da população vacinada, começa a ocorrer uma queda no número de casos”, analisou. “O lockdown é mais efetivo do que a vacina, quando se está em curva ascendente”, concluiu.

Atualmente, o Brasil só tem duas vacinas sendo usadas no processo de imunização. Ambas precisam de duas doses. Até agora, o país vacinou apenas 4,13% da população.

Pior ano da vida

Na entrevista, Vecina também disse que a pandemia do novo coronavírus fez ele enfrentar o pior ano de sua vida. “Sem nenhuma dúvida. Esse foi um ano muito difícil. Primeiro, que eu não conseguia, apesar de tudo que eu estudei, eu não tinha percepção de que ia durar tanto tempo e que seria uma desgraça muito maior que a Gripe Espanhola, e que chegaríamos neste momento desta forma. Estamos em uma curva ascendente, terrível. Este ano, tive todo dia que me superar para conseguir levantar e fazer coisas e voltar a pensar em como deveríamos enfrentar essa desgraça, sem governo, sozinhos”, lembrou, criticando a postura do governo federal no enfrentamento da pandemia. “Passei a vida toda trabalhando com o estado para a sociedade e de repente me vejo órfão, sem auxilio do estado. Não me lembro de ter vivido coisa pior”, disse.

Confira a entrevista na íntegra: