Política

Bolsonaro não atende expectativas da população, diz ex-ministro General Santos Cruz

Na avaliação de Santos Cruz, que é ex-ministro de Bolsonaro, presidente foi eleito graças a expectativas de mudança de comportamento dos políticos, mas que mudanças não aconteceram

Gabriel dos Santos Araujo Dias
Gabriel dos Santos Araujo Dias
Publicado em 31/03/2021 às 9:52
Reprodução/Rádio Jornal
FOTO: Reprodução/Rádio Jornal

Ex-ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz se tornou crítico do governo que ele mesmo fez parte. Hoje, afastado da cena política, Santos Cruz acredita que Bolsonaro foi eleito com base em expectativas da população de mudança de comportamento entre os principais políticos da nação, o que não aconteceu. A declaração foi dada um dia após a demissão em bloco dos comandantes das três Forças Armadas.

Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, Santos Cruz disse que é dever do governo promover a paz social, o que Bolsonaro não tem conseguido. “O presidente Bolsonaro, no momento da eleição, tinha uma expectativa grande. Tinha uma rejeição ao PT, mas, infelizmente, desde o início, ele não atendeu as expectativas da população”, cravou.

“Você vai trabalhar em um governo para ajudar a população, mas, desde o primeiro momento, isso ficou comprometido pelo comportamento pessoal do presidente e desse grupo mais extremista, com uma intensa ação de internet. O pais não encontrou a paz que precisa depois da eleição. Depois da eleição, você tem de governar pra todo mundo. Essa paz não chegou e isso perturbou o ambiente político todo”, analisou.

Crítica à demissão dos comandantes das Forças Armadas

Santos Cruz também aproveitou a entrevista para criticar a decisão do governo de demitir os comandantes das três Forças Armadas. “Infelizmente, o afastamento dos comandantes se deu de forma absurda, houve falta do mínimo de consideração institucional e com o público. Uma reforma ministerial é normal, agora, os comandantes militares não são políticos, não fazem parte deste nível ministerial. Eles são pessoas que vem de dentro da própria instituição e têm uma média de 45 anos de serviço. Foram testados e selecionados dentro da instituição. Não é como trocar um ministro”, lembrou. Os três comandantes saíram após a queda inesperada do ex-ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.

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O ex-ministro também elogiou a postura dos comandantes demitidos. Na avaliação dele, como diz os principais especialistas no assunto, as Forças Armadas não devem ser “arrastadas para a política”. “As Forças Armadas não devem se alinhar [politicamente]. Elas ajudam na política pública, mantêm o estado de direito, têm deveres constitucionais. Não é para alinhamento político. Os comandantes estavam certos na sua conduta”, disse acrescentando que acredita que, neste momento, há grande coesão entre as Forças Armadas.

Na entrevista, Santos Cruz também criticou a influência dos filhos de Bolsonaro nas decisões do governo e disse que o fanatismo que acontece no Brasil por parte de apoiadores de Bolsonaro é perigoso.

“Eu vivi anos em áreas de conflito. Vejo que o fanatismo que está acontecendo no Brasil é perigoso. Fanatismo leva à violência. Sempre quero alertar sobre isso. Não se pode deixar evoluir o fanatismo. O pessoal não tem noção do que é guerra civil”, alertou.

Ouça a entrevista na íntegra: