LIBERDADE

A época da ditadura já passou, diz radialista após ser ameaçado por criticar Bolsonaro

Homens invadiram rádio e ameaçaram radialista que fez críticas a Bolsonaro, no interior de Pernambuco

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 07/04/2021 às 18:49
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O radialista Júnior Albuquerque, que teve o programa invadido e foi ameaçado após tecer críticas ao presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, disse que nunca havia passado por uma situação parecida. O apresentador de um programa opinativo na Rádio Comunidade, em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, concedeu entrevista ao programa Balanço de Notícias, nesta quarta-feira (7), e falou sobre o episódio.

“Nunca tinha acontecido. A gente já faz rádio há cerca de 10 anos. Nesse programa eu já estou há cerca de três anos (...) Nunca tinha passado por um constrangimento desse tamanho, e nunca achava que iria passar. Até porque a gente vive numa democracia plena, a época da ditadura já passou”, disse.

De acordo com o apresentador, ele deixa o espaço aberto para que as pessoas possam expor opiniões contrárias à sua. "Como lá é um programa opinativo, externar a nossa opinião. Eu sempre digo: essa é a minha opinião. Quem tiver uma opinião contrária, eu respeito. Democracia é isso. Democracia é para a gente debater ideias", afirmou. "Esse pessoal parece que o único entendimento que tem é o da violência", completou o radialista.

Segundo Júnior Albuquerque ao final do programa, ele e o dono da rádio foram até a delegacia para registrar um BO e, ainda esta semana, ele irá procurar o Ministério Público da cidade. Ele contou que já conhecia dois dos agressores de vista, pois eles costumam fazer críticas durante as transmissões ao vivo do programa. "A gente nunca pensou que eles teriam tal atitude, de invadir um local de trabalho, uma emissora de rádio, um veículo de comunicação, para tentar intimidar e agredir”, disse.

Relembre o caso

Quatro homens invadiram uma emissora de rádio e ameaçaram um radialista que fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco. O crime aconteceu na noite dessa terça-feira (6). Os invasores se declararam apoiadores de Bolsonaro e ficaram furiosos após o profissional fazer questionamentos sobre a política sanitária do presidente na pandemia do novo coronavírus.

O alvo dos invasores foi o radialista Júnior Albuquerque, da Rádio Comunidade. “Há algumas semanas, entrou em pauta as quase 300 mil mortes por covid-19 no Brasil (na época ainda não havíamos superado esta triste marca) e eu fiz um comentário opinativo, onde expus que no meu ponto de vista, Hitler não era o único culpado do genocídio que aconteceu na Alemanha, pois quem o apoiou e quem se calou também teve sua parcela de culpa. Assim como no Brasil, em relação à covid-19, os eleitores de Bolsonaro que concordam com a política sanitária que ele vinha fazendo, também iam ter culpa e a história ia dizer isso", explicou.

Após o comentário, Júnior passou a receber ameaças. No último dia 30, o radialista voltou ao assunto e disse, ao vivo, que gostaria de conversar com apoiadores do presidente Bolsonaro.

Mesmo convidados para participar de um debate civilizado e pacífico, os apoiadores que estiveram na emissora nessa terça-feira preferiram adotar uma postura ameaçadora e agressiva.

De acordo com o profissional, os invasores só não bateram nele porque outros radialistas da emissora estavam no local. Júnior já prestou queixa na Polícia Civil e disse que vai procurar o Ministério Público de Pernambuco para registrar a ameaça.

Veja o vídeo:

Nota da Asserpe

Por meio de nota, a Associação de Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco (Asserpe) condenou o episódio e pediu resposta das autoridades. A Asserpe também solidarizou com o radialista Júnior Albuquerque e a Rádio Comunidade.

Confira a nota completa:

"A Asserpe condena o episódio de invasão de um estúdio de rádio na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, ocorrido nesta terça (6).

A Rádio Comunidade tinha programa apresentado pelo radialista Júnior Albuquerque. Segundo relatos, ele cobrava maior atuação do Governo Federal na pandemia e foi surpreendido por militantes políticos do presidente Jair Bolsonaro que invadiram os estúdios, o intimidaram e o ameaçaram.

O fato de tratar-se de emissora comunitária não associada não muda a posição de nossa entidade, por tratar-se de ameaça à liberdade de imprensa, a qual defendemos de forma altiva. Também porque abre um perigoso precedente que ameaça todos os veículos, inclusive comerciais.

A Asserpe espera resposta a altura em virtude da gravidade do incidente pelas autoridades que investigam o caso.

A Asserpe defende de forma intransigente a liberdade de imprensa conquistada pelos veículos de comunicação e condena todo ataque à esse direito fundamental.

Por fim, se solidariza com o radialista Júnior Albuquerque e à Rádio Comunidade, esperando que fatos como esses não se repitam."

Nota do Sinjope

O Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco também condenou o episódio. Confira a nota completa da entidade: