LUTO

Mulher que recebeu coração da adolescente Eloá Pimentel, em 2008, morre de covid-19

Sequestrada pelo ex-namorado, Eloá Pimentel foi morta após passar mais de 100 horas mantida em cárcere privado, em 2008; seus órgãos foram doados

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 04/05/2021 às 17:51
Reprodução/ Internet
FOTO: Reprodução/ Internet

Em 2008, o Brasil assistiu ao trágico desfecho do sequestro da adolescente Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos. Após quase 101 horas mantida em cárcere privado, a garota foi baleada pelo ex-namorado e acabou falecendo. Eloá teve a morte cerebral anunciada pelos médicos em 18 de outubro de 2008. Cinco pessoas receberam os órgãos da vítima. Uma delas foi a vendedora Maria Augusta da Silva dos Anjos, de 51 anos, que foi submetida a um transplante cardíaco e recebeu o coração de Eloá. Nesta segunda-feira (3), a família da vendedora comunicou que a mulher faleceu vítima da covid-19.

Segundo a família da transplantada, Augusta estava internada em um hospital particular em Paraupebas, no Pará. Ela era casada, não tinha filhos e morava em Canaã dos Carajás, interior do estado.

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Ao portal G1, a mãe de Eloá Pimentel lamentou o falecimento de Augusta. "Eu não esperava essa notícia. Eu estava torcendo para a Augusta se recuperar. Para mim foi muito triste. Minha família, meus filhos estão tristes. Até porque amanhã [5 de maio] minha filha Eloá faria 28 anos se estivesse viva. Augusta era como uma filha para mim também, pois ela carregava o coração de Eloá", disse a autônoma Ana Cristina Pimentel, de 54 anos.

Augusta foi uma das receptoras. Havia ganhado o coração no dia de seu aniversário, em 20 de outubro de 2008. Na última segunda à tarde, ele parou de bater, segundo contou a fisioterapeuta Jeanne Carla Rodrigues Ambar, sobrinha dela. De acordo com a sobrinha, a morte de Maria Augusta, que estava internada no Hospital Santa Terezinha, foi causada por complicações da Covid.

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Segundo o G1, Augusta foi diagnosticada com covid-19 havia um mês. Ela vinha fazendo tratamento em casa, mas sentiu falta de ar em 25 de abril, quando precisou ser internada. No dia 27 acabou intubada.

Jeanne Carla Rodrigues Ambar, sobrinha de Augusta, contou que a tia costumava ir ao hospital para tratamento e para exames de rotina relacionados ao transplante, mas a família não sabe onde nem como ela foi contaminada pelo coronavírus.

Nas redes sociais, a sobrinha de Augusta compartilhou uma mensagem de despedida para tia. "Ela viveu da melhor forma que podia e todos nós, unidos, ao longo desses 51 anos, proporcionamos os melhores momentos e as melhores coisas pra ela, por ela e com ela", diz um trecho da postagem. Veja abaixo a publicação completa:

Minha tia Augusta viveu 51 anos. Foram anos difíceis, cheios de batalhas e grandes vitórias. Foi muito sofrimento pro...

Publicado por Jeanne Carla em Segunda-feira, 3 de maio de 2021

Caso Eloá Pimentel

Eloá Pimentel e Lindemberg Alves
Eloá Pimentel e Lindemberg Alves
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Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, foi sequestrada pelo ex-namorado, o entregador de pizzas Lindemberg Alves, à época com 22 anos, que não aceitava o fim da relação. De 13 a 17 de outubro de 2008, a imprensa transmitiu ao vivo o sequestro da garota até o momento do seu desfecho trágico.

Lindemberg invadiu o domicílio de sua ex-namorada no bairro de Jardim Santo André, no município de Santo André, na Grande São Paulo, onde ela e colegas realizavam trabalhos escolares. Inicialmente dois reféns foram liberados, restando no interior do apartamento, Eloá e sua amiga Nayara Silva.

Após mais de cem horas de cárcere privado, policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e da Tropa de Choque da Polícia Militar explodiram a porta e entraram em luta corporal com Lindemberg, que atirou em direção às reféns. Nayara deixou o apartamento andando, mas ferida com um tiro no rosto, enquanto Eloá, carregada nos braços de um policial, foi levada inconsciente ao Centro Hospitalar de Santo André, onde morreu horas depois em decorrência dos dois tiros que levou.

Eloá teve a morte cerebral anunciada pelos médicos em 18 de outubro de 2008.

Cinco pessoas, incluindo Augusta, receberam órgãos de Eloá que foram doados por Ana Cristina e Everaldo, pais da jovem. Foram transplantados coração, pulmão, córneas, fígado, rins e pâncreas.

O sequestrador foi preso e condenado a 98 anos e 10 meses de prisão. Em 6 de Junho de 2013, o Tribunal de Justiça de São Paulo reduziu a pena para 39 anos e três meses de prisão.