VIOLÊNCIA

Mortos no Jacarezinho: O que já se sabe sobre a operação policial mais letal da história do RJ

Um operação na comunidade do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, acabou com 25 pessoas mortas

Com informações da Agência Brasil
Com informações da Agência Brasil
Publicado em 07/05/2021 às 14:49
Reprodução/ Redes sociais
FOTO: Reprodução/ Redes sociais

Pelo menos 25 pessoas foram mortas na manhã desta quinta-feira (6) durante a Operação Exceptis, da Polícia Civil, na comunidade do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro. Um policial está entre os mortos. O caso chocou o país e ganhou repercussão internacional. Essa foi a operação mais letal da história do Rio de Janeiro. Moradores denunciam que as vítimas foram executadas pelos policiais. A polícia nega, e diz que mortes ocorreram por confronto. O que se sabe, até o momento, sobre a ação?

Qual era o objetivo da Operação Exceptis?

A Polícia Civil afirma que a operação visava combater grupos armados de traficantes de drogas que estariam aliciando crianças para o crime. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou regras para que operações policiais em comunidades pudessem ser realizadas. As ações só seriam permitidas de maneira excepcional.

A polícia garantiu que cumpriu todos os protocolos exigidos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público confirmou que foi avisado.

De acordo com a Polícia Civil, a região do Jacarezinho é um dos quartéis-generais da facção Comando Vermelho na zona norte e abriga “uma quantidade relevante de armamentos” protegidos por barricadas e táticas de guerrilha adotadas pelo grupo criminoso.

Denúncia de execuções

Nas rede sociais, diversos vídeos publicados por testemunhas denunciam que os suspeitos foram executados. Relatos de execuções também foram dados à Defensoria Pública. Moradores também revelaram que os policiais estaria confiscando aparelhos celulares sob a alegação de que estavam enviando informações para traficantes.

  

Delegado defende operação: "polícia atua somente em legítima defesa"

O delegado Fabrício Oliveira, chefe da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), unidade especial da Polícia Civil, contou que os confrontos se estenderam por toda a comunidade e os criminosos invadiram as casas dos moradores, o que forçou os policiais a entrarem nas residências. Porém, ele negou que tenha havido execuções de suspeitos.

“Negativo [não houve execuções]. A polícia cumpre rigorosamente a lei. O policial tem todo o dever de se proteger, se defender. E a polícia atua somente em legítima defesa. Em todos os casos, e eu estava presente pessoalmente na operação, em que houve confrontos dentro de casas. Foram casas que foram invadidas por criminosos e os moradores estavam acuados”, declarou.

Outro delegado que participou diretamente da ação, Felipe Curi, diretor do Departamento de Polícia Especializada, também frisou que não houve execuções por parte dos policiais e que os mortos foram abatidos por resistirem e atirarem contra os agentes.

“A única execução que houve na operação foi a do policial, infelizmente. Esse foi realmente executado, friamente, pelos traficantes. As outras mortes que aconteceram, infelizmente, foram de traficantes que atentaram contra a vida dos policiais, houve a resposta e acabaram neutralizados. É simples assim”, disse Curi.

Críticas ao STF

O subsecretário Operacional de Polícia, delegado Rodrigo Oliveira, criticou a legislação que impede as operações policiais em comunidades durante a pandemia, a não ser em casos de excepcionalidade, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e disse que isto tem dado força aos criminosos, que passaram a agir livremente nesses locais.

“Não tem endereço no estado do Rio em que a Polícia Civil não se faça presente. Nós iremos a qualquer lugar, usando todos os meios disponíveis, dentro da legalidade, dentro das normas impostas pelo STF. De um tempo para cá, por força de um ativismo judicial, a gente foi, de alguma forma, impedido ou teve dificultada a atuação da polícia em algumas localidades. O resultado disso é o fortalecimento do tráfico. Parte desse ativismo, que orienta a sociedade em uma direção, não está do lado da Polícia Civil ou da sociedade de bem. O interesse deles são outros. O sangue desse policial que faleceu hoje, em prol da sociedade, de alguma forma está nas mãos dessas pessoas. Dessas entidades ou de quem quer que seja”, disse Oliveira, que depois negou estar falando do STF.

O que foi apreendido?

A polícia diz apreendido com os suspeitos mortos os seguintes itens:

  • 16 pistolas
  • 6 fuzis
  • 1 submetralhadora
  • 12 granadas
  • 1 escopeta

A polícia ter apreendido, ainda, uma grande quantidade de munições, drogas, cadernos de anotações do tráfico e uma peça de artilharia de canhão.

  

Quem eram os mortos?

Dos 21 mandados de prisão da operação Exceptis, três foram cumpridos e outros três investigados acabaram mortos. No entanto, a Polícia Civil do Rio de Janeiro não revelou o nome de todos os mortos e também não esclareceu as circunstâncias em que foram mortos.

A Ordem dos Advogados do Brasil seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ) divulgou uma lista com alguns identificados. Confira abaixo:

  • Carlos Ivan Avelino da Costa Júnior
  • Cleiton da Silva de Freitas Lima, 27 anos
  • Francisco Fabio Dias Araújo Chaves, 25 anos
  • Isaac Pinheiro de Oliveira, 22 anos*
  • Jhonatan Araújo da silva, 18 anos
  • John Jefferson Mendes Rufino da Silva, 30 anos
  • Jorge Jonas do Carmo, 31 anos
  • Marcio da Silva, 43 anos
  • Marcio Manoel da Silva, 41 anos
  • Mauricio Ferreira da Silva, 27 anos
  • Raí Barreto de Araújo, 19 anos
  • Richard Gabriel da Silva Ferreira, 23 anos*
  • Rômulo Oliveira Lúcio, 20 anos*
  • Toni da Conceição, 30 anos
  • Wagner Luís de Magalhaes Fagundes, 38 anos

A lista de denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) continha os nomes de Isaac, Richard e Rômulo.

Durante a ação, o agente civil André Leonardo de Mello Frias, de 45 anos, lotado na Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), foi morto com um tiro na cabeça quando desembarcava de um veículo blindado.

  

Feridos em metrô

Durante o tiroteio, dois passageiros do metrô foram feridos dentro de um trem da Linha 2, na altura da estação Triagem, na zona norte. Segundo o MetrôRio, o acidente ocorreu “após o vidro de uma das composições aparentemente ser atingido por projétil vindo da área externa”. Um passageiro foi atingido de raspão no braço e o outro por estilhaços de vidro. Ambos foram socorridos para hospitais municipais.