SAÚDE

Fungo preto: Brasil corre risco de sofrer surto da doença? Médico fala sobre situação

Investigação de casos suspeitos do fungo preto em pacientes com covid-19 têm chamado atenção de especialistas

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 01/06/2021 às 18:12
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A investigação de casos suspeitos da mucormicose, conhecida como "fungo preto", tem preocupado a população. Nesta terça-feira (1º), em entrevista ao Balanço de Notícias, o médico Felipe Prohaska, chefe da triagem de doenças infecciosas e responsável técnico pelo Ambulatório de Micologia e Imunobiológicos do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, fala sobre a doença e a situação no Brasil.

Fatores de risco

O médico Felipe Prohaska conta que a mucormicose já é conhecida pelos especialistas, porém é não são frequentes, os casos. “Aqui ele é incomum, mas é existente. É um fungo que a gente vê de duas a três vezes por ano. Esse ano só tenho um paciente que eu tenho feito o acompanhamento", explicou.

O infectologista destaca quais são os fatores de risco para o surgimento do fungo preto. "Os pacientes que têm fator de risco para esse tipo de fungo são os transplantados, os pacientes que fazem doses corticoide muito altas por muito tempo e aqueles que têm problema de ferro no sangue, doenças que acumulam ferro no sangue. Essas situações favorecem a infecção pela mucormicose”, detalhou.

Relação com a covid-19

Prohaska fala sobre a relação do fungo preto com a covid-19. "Acreditamos que na situação da covid-19 provavelmente o vírus deve baixar a imunidade e o tratamento que se faz é com uso de corticoide, que é uma das coisas que favorece o surgimento. Se você faz corticoide, numa dose muito alta, por um tempo muito prolongado desregula a glicose e pode causar diabetes. Juntando a imunossupressão do corticoide com a desregulação da glicose causada pela diabetes num paciente imunossuprimido pós-viral pode surgir o famoso fungo negro”, apontou.

No último sábado (29), o Ministério da Saúde emitiu Comunicação de Risco sobre o provável caso de 'fungo preto' em paciente de 52 anos em Joinville, em Santa Catarina. O homem está internado em um hospital particular e fez uma cirurgia. Ele testou positivo para o novo coronavírus em fevereiro deste ano e possui histórico de comorbidades.

Em Manaus, a morte de um paciente de 56 anos e diabético também está sendo investigada. Ele foi internado com sintomas gripais, mas não testou positivo para a covid-19, de acordo com a informação divulgada no domingo (30) pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas.

Situação do Brasil

Segundo o especialista, a Índia tem uma situação epidemiológica diferente do Brasil, o que afasta o perigo da situação se agravar aqui. “A gente não vai passar a mesma situação da Índia porque nossa situação epidemiológica é muito diferente. Nossa situação tropical também é diferente, e o contexto com que o vírus tem desenvolvimento não é muito parecido com o do Brasil. Não acredito que venha a ter um surto dessa doença aqui”, afirmou o médico, apontando que o país asiático tem uma população muito grande, além de ter condições sanitárias precárias.

No entanto, ele diz que é preciso cuidado para fazer o diagnóstico precoce. “O melhor tratamento é diagnóstico cedo para poder se instituir o tratamento correto para o paciente”, concluiu.

Veja a entrevista completa:

O que é a mucormicose, como contrair e quais os sintomas?

A mucormicose é uma infecção muito rara causada pela exposição ao fungo mucoso, que faz parte da família Mucoraceae. O fungo é causado por mofo encontrado em ambientes úmidos, como solo ou composto, e pode atacar o trato respiratório. Não é contagioso e não se espalha de pessoa para pessoa.

Vários tipos de fungos podem causar a doença. Esses fungos não são prejudiciais para a maioria das pessoas, mas podem ser fatais em pessoas com diabetes ou em pessoas gravemente imunossuprimidas.

A mucormicose comumente afeta os seios da face ou os pulmões depois que uma pessoa inala os esporos do fungo no ar e também pode afetar a pele após uma lesão superficial, como um corte ou queimadura. Os sintomas dependem de onde o fungo está crescendo no corpo, mas podem incluir edema facial, febre, úlceras na pele e lesões pretas na boca.