Política

Quem é Eduardo Leite, o governador do Rio Grande do Sul? Ele se assumiu gay e é considerado pré-candidato à Presidência em 2022

Eduardo Leite (PSDB) tem 36 anos, transita entre pautas da direita e da esquerda, é contra a reeleição, apoia a Ciência e é famoso nas redes sociais

Gabriel dos Santos
Gabriel dos Santos
Publicado em 02/07/2021 às 9:08 | Atualizado em 30/10/2022 às 19:04
Reprodução/  TV Globo
FOTO: Reprodução/ TV Globo

Ele é bonito, simpático, jovem e é famoso nas redes sociais. As características que poderiam ser atribuídas a qualquer galã de TV ou digital influencer se referem, nesta reportagem, ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), reeleito neste domingo (30).

Aos 36 anos de idade, o tucano é o mais jovem governador do Brasil e está na boca do povo após revelar algo comum, mas que ainda é um tabu, especialmente, no conservador mundo da política: ele é gay.

E foi também pré-candidato à Presidência da República nas eleições de 2022, figurando como uma das possíveis alternativas para quem não quer votar nem em Lula nem em Bolsonaro. Quem é Eduardo Leite? Descubra nesta reportagem.

A beleza de Eduardo Leite sempre chamou a atenção do eleitorado. A revista GQ escreveu em dezembro passado que algumas mulheres gaúchas chegam a mandar fotos e figurinhas do governador ao desejarem “bom dia” ou “sextou” em conversas do WhatsApp. “Falam que sou bonito, mas bonito mesmo é o trabalho que vamos fazer”, repetia Leite durante a campanha e pouco após ser eleito em 2018 para comandar o Palácio do Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul. E, para além da imagem física bem cuidada, Eduardo tem mesmo se mostrado um nome proeminente no serviço público.

Vida política

Nascido em Pelotas, no RS, Eduardo Leite começou bem cedo na política. Após completar 16 anos em um sábado, tirou o título de eleitor na segunda-feira seguinte e se filiou ao PSDB no mesmo ano, de acordo com o jornal gaúcho Zero Hora. Filho do advogado Luiz Marasco Leite, que concorreu à Prefeitura da cidade em 1988, Eduardo tem outros dois irmãos e, desde a infância, gostava de política. Ele amava, por exemplo, brincar com os adesivos e bandeiras da campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso à presidência em 1994. No colégio, foi líder de turma e presidente do Grêmio Estudantil.

Em 2004, se candidatou a vereador da cidade natal e recebeu 2.937 votos, conquistando a suplência. Pouco depois, foi chefe de gabinete dos prefeitos Bernardo de Souza e Fetter Jr. “Nunca fui indicado politicamente. Nada de vamos colocar o Eduardo aqui porque meu partido impôs. Foi a partir do trabalho que eu desenvolvi que consegui o reconhecimento. Sei bem o que me aguarda lá”, orgulha-se Eduardo, em entrevista ao Zero Hora.

Em 2008, foi eleito vereador. Mais tarde, em 2012, chegou à Prefeitura de Pelotas aos 27 anos de idade. “Quero ser o prefeito da saúde. Isso envolve fazer com que os postos de saúde tenham médico. Pelotas perde profissionais por causa da baixa remuneração”, disse ao vencer as eleições de 2012.

“Sempre refutei qualquer tentativa de me colocar como pior por ser jovem, não foi a idade o tema central desta campanha eleitoral. O que eu consegui demonstrar, e que é próprio da juventude, foi a vontade, a disposição, a capacidade de se indignar com as coisas, esse inconformismo”, comentou à época.

Eduardo estudou políticas públicas na Columbia University, em Nova York, EUA, e cursa mestrado em gestão pública na Fundação Getulio Vargas. De acordo com o perfil do governador no site do governo do RS, Eduardo deixou a Prefeitura de Pelotas com 87% de aprovação em pesquisas populares. "Eduardo Leite foi escolhido pela revista americana Americas Quarterly como um dos cinco políticos mais promissores da América Latina, entre os nomes com menos de 40 anos de idade", acrescenta o perfil.

Governador do Rio Grande do Sul

Avesso às reeleições, não se candidatou novamente à Prefeitura de Pelotas e partiu para o governo do estado. Em 2018, teve 3.128.317 votos, o que corresponde a 53,62% dos votos, derrotando o muito experiente José Ivo Sartori (MDB), 37 anos mais velho que o tucano.

"A partir de agora, me sinto governador, evidentemente, de todos os gaúchos, os que votaram em mim e os que não votaram. Vou me fazer merecedor da confiança dos que votaram, e buscar a confiança daqueles que não votaram", disse Leite à imprensa ao vencer a eleição.

E o trabalhou começou rápido. Aprovou as reformas previdenciária e administrativa do Rio Grande do Sul. “Ele tem uma agenda de mudanças no jogo . Fez a reforma administrativa e previdenciária mais profunda do país. E tem uma tranquilidade… Em dois anos, eu nunca o vi perder a paciência. Brinco com ele: 'Às vezes eu acho que você é um velhinho, é muito sensato' ”, disse a coordenadora do comitê de dados de combate ao coronavírus, Leany Lemos, em entrevista à GQ. Eduardo também defende reformas tributária e política para todo o país.

Pandemia

Na pandemia, Eduardo também se destaca como um dos governadores mais atentos às informações provenientes da Ciência. “Na gestão da pandemia, o Rio Grande do Sul desenvolveu um modelo que serviu de parâmetro para outros estados: construiu 900 novos leitos e dobrou os de UTI de forma permanente”, explicou Leany.

“Este ano, que é especialmente sendo difícil em função do quadro da pandemia, nós conseguimos estruturar um modelo de distanciamento, que chamamos de distanciamento controlado , o que especializou um conciliar melhor a proteção à vida com a atividade econômica”, disse o governador também à GQ.

Homossexualidade

Após muita especulação, Eduardo Leite confirmou ser gay em entrevista exclusiva ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, na madrugada desta sexta-feira (2). "Eu sou gay. E sou um governador gay, e não um gay governador, tanto quanto Obama nos Estados Unidos não foi um negro presidente, foi um presidente negro. E tenho orgulho disso”, disse Eduardo, provocando, imediatamente, uma onda de solidariedade e apoio de famosos e anônimos nas redes sociais. Políticos como o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), a deputada estadual Luciana Genro (Psol), que é opositora de Leite no RS, e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) foram alguns dos que aplaudiram o governador pela coragem de assumir a orientação sexual para todo o país.

"Agora, como a minha participação nessa política nacional, nesse debate nacional começa a despertar talvez maiores ataques por conta de adversários, alguns vêm com piadas, ilações, como se eu tivesse algo a esconder. Pois bem, que fique claro, não tenho nada a esconder. Tenho orgulho dessa integridade de poder aqui dizer também sobre a minha orientação sexual, quem eu sou, embora devêssemos viver num país em que isso fosse uma não-questão, mas, se é, está aqui claro", acrescentou Leite na conversa com Pedro Bial.

Nas eleições de 2018, fake news divulgadas nas redes sociais por opositores de Eduardo Leite mostravam fotos do então candidato sem camisa ao lado de um irmão dele, dizendo que eram um casal, e questionando: “É isto que queremos para o Rio Grande? O primeiro governador homossexual do Brasil”. À época, Leite explicou que o homem que aparecia na foto se tratava de um irmão, mas não confirmou se era gay ou hétero.

“Evidentemente que a família sofre bastante por mais que a política seja assim. Mas o que me tranquiliza é o modo profissional com que o Eduardo encara isso ”, declarou à GQ o irmão mais velho, Gabriel Leite, 42 anos, que é delegado federal.

Vida pessoal

Extremamente reservado, Eduardo Leite deixa que poucas informações sejam reveladas sobre sua vida pessoal. O que se sabe é que ele tem dois cachorrinhos e pediu para que uma academia fosse montada no Palácio do Piratini. “Com recursos próprios”, garante. Os exercícios físicos são feitos durante uma hora por dia, de domingo a domingo.

No cardápio do Palácio, Eduardo, que é fã de doces, veta sobremesas, com exceção de quando recepciona convidados para eventos no local. Ele preferiu morar na sede do governo, segundo ele, para diminuir gastos com segurança.

Fã de música, o governador toca pandeiro e já estudou saxofone. Nas festas com a família, organizadas pela mãe, a cientista política Eliana Cavalheiro Leite, o governador canta ao lado do pai, que toca acordeom e violão. Não se sabe se Eduardo Leite tem namorado ou se está solteiro.

Planos para 2022

Eduardo é um dos principais nomes ventilados para se candidatar à Presidência em 2022. Em 2018, ele chegou a declarar voto ao atual presidente Jair Bolsonaro, mas, hoje, é adversário do presidente.

“Eu declarei voto em Bolsonaro considerando quem eram os adversários [Fernando Haddad, do PT]”. “Não foi como [João] Doria fez em São Paulo, com o BolsoDoria”, disse à GQ, criticando Bolsonaro. Ele lamentou quando o presidente falou que o Brasil era um “país de maricas”, em referência à pandemia do novo coronavírus.

A gente tem que trazer o Brasil de volta para o bom senso, para o equilíbrio. Essa é a nossa missão. Não é para atender um projeto pessoal. Eu não sou um obcecado pelo poder. Já provei isso quando não concorri à reeleição como prefeito, como vereador. Estou na política para fazer a minha parte. Se for como candidato, beleza. Senão, se for como eleitor, como cidadão, eu vou estar lá fazendo a minha parte também”, disse Eduardo Leite, em entrevista à BandNews FM na última quinta-feira (1º).