Esperança

'Casa Milagre': Rio de lava do vulcão Cumbre Vieja deixa uma casa inteira e isolada em seu caminho de destruição

A moradia já é chamada Casa Milagre, nas redes sociais. O vulcão Cumbre Vieja, que entrou em erupção em La Palma, nas Ilhas Canárias, já destruiu mais de 200 casas

Com informações da Agência Brasil
Com informações da Agência Brasil
Publicado em 24/09/2021 às 8:39 | Atualizado em 10/02/2022 às 17:11
Alfonso Escalero/ Ilovetheworld/Direitos Reservados
FOTO: Alfonso Escalero/ Ilovetheworld/Direitos Reservados

O vulcão Cumbre Vieja, que entrou em erupção em La Palma, nas Ilhas Canárias, já destruiu mais de 200 casas e milhares de pessoas tiverem que ser evacuadas. A lava continua a descer lentamente a caminho do mar, destruindo tudo por onde passa. No entanto, uma pequena casa que escapou à força da natureza. A Casa Milagre, como já é chamada nas redes sociais.

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História da casa

O jornalista Gonzalo Suárez conta, no El Mundo, que a holandesa Ada Monnikendam navegava pelas redes sociais, quando viu uma das várias fotografias do vulcão e da lava em La Palma. Era uma imagem, escreveu o jornalista, "de uma idílica casa unifamiliar que escapou milagrosamente ao rio de lava do vulcão do Cumbre Vieja, numa minúscula ilha rodeada de rocha" vulcânica.

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Ao ver a imagem, Ada disse que conhecia a casa. "Eu e o meu marido construímos", afirmou. O casal construiu a casa para Inge e Rainer Cocq, dois dinamarqueses que não vão à ilha, desde que começou a pandemia. São octogenários e, com a pandemia de covid-19, ficaram com receio de viajar.

Ada Monnikendam informou que todos choraram como loucos, quando ela lhes contou que "a casa estava intacta". A holandesa vive na ilha, desde 1976. É representante de uma empresa de construção de casas unifamiliares. Foi ela quem tratou da construção da "casa milagre", como agora é conhecida.

A lava circulou à volta da pequena casa, que fica em El Paraíso, onde mais da metade de todas as residências foram destruídas, assim como a escola da localidade.

Os donos continuam na Dinamarca e não pensam em viajar logo para a ilha. Segundo o jornalista, eles ficaram, obviamente, muito contentes, porque a casa escapou à fúria da natureza. Dizem agora que, talvez, voltem, quando a situação se acalmar. Eles ou os filhos.

A lava procedente do vulcão Cumbre Vieja, localizado em La Palma, nas ilhas Canárias, já avançou por mais de 166 hectares da região, destruindo cerca de 350 edifícios. Os dados indicam um incremento de, pelo menos, 30 edificações e 12 hectares destruídos, em relação à quarta-feira. A área tem o cultivo de bananas como principal atividade econômica. Segundo especialistas, a erupção vulcânica, que teve início no último domingo (19) e chegou ao 6º dia, nesta sexta-feira (24), pode durar mais 79 dias.

Estabilidade e avanço da lava

Nessa quinta-feira (23), o Departamento de Segurança Interna (DHS) espanhol confirmou que, embora o vulcão tenha entrado em uma zona de estabilidade e a velocidade da lava tenha diminuído, a atividade eruptiva continua ativa. No momento, a lava vem avançando cerca de quatro metros por hora e pode chegar a barreiras de oito a 15 metros.

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Sem feridos

As autoridades da região já tinham divulgado um alerta sobre a atividade vulcânica após registrarem um grande número de abalos sísmicos semanas antes. Dessa forma, foi possível realizar operações de evacuação nas áreas expostas à erupção. A erupção do Cumbre Vieja provocou a evacuação de 6.100 pessoas, entre elas 400 turistas, mas sem que houvesse qualquer registro de mortos ou feridos.

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O rei da Espanha, Felipe VI, visitou a ilha de La Palma, acompanhado da rainha Letizia, nessa quinta (23), para demonstrar seu apoio e solidariedade com as pessoas afetadas. Ele foi acompanhado pelo primeiro-ministro, Pedro Sánchez, que regressou à ilha, depois de voar diretamente da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.

O monarca se encontrou com pessoas que tiveram que deixar suas casas e prometeu que "não faltará ajuda". "Aqui estão todas as administrações representadas e esse compromisso é muito claro, elas vão fazer tudo o que está em suas mãos", disse Felipe VI aos jornalistas.

"São dias e noites de tristeza imensa e de angústia para tantas famílias, como pudemos ver agora na visita", acrescentou. "Custará muito voltar à normalidade. Muito, isso ninguém pode negar, mas toda [a ilha de] La Palma saíra disso", garantiu. "Todas essas famílias, apesar do desastre, terão um futuro, porque todos vamos ajudá-las a recuperar suas vidas".

Fluxo interrompido

Um dos dois fluxos ativos de lava do vulcão Cumbre Vieja nas Ilhas Canárias, na Espanha, que estava destruindo tudo pelo caminho, interrompeu o seu deslocamento, segundo anunciou o comitê de emergência.

"Uma das línguas [de lava] está parada", disse aos jornalistas María José Blanco, diretora do Instituto Geográfico Nacional (IGN), em coletiva após a reunião do Comitê Diretor do Pevolca (Plano de Emergências Vulcânicas das Ilhas Canárias).

O outro fluxo, por sua vez, "continua avançando, mas muito mais lento que anteriormente", a cerca de quatro metros por hora, acrescentou a responsável do IGN após o quinto dia de erupção.

Blanco, contudo, esclareceu que isso não significa que o vulcão tenha perdido força: "o centro de emissão segue ativo, com uma coluna [de cinza e gases] que atinge 4500 metros de altura".

O fluxo ativo tem 12 metros, em seu ponto mais alto, e 500 de largura, detalhou Blanco, dimensões estas que explicam a lentidão do deslocamento.

O motivo da parada ou da desaceleração de um fluxo de lava se dá pelo fato de que fica cada vez mais difícil "avançar porque [o fluxo] tem que incorporar todo o material que já está depositado, que já tem grande volume e está frio em sua superfície", explicou Blanco.

Além disso, a especialista acrescentou que as características do terreno têm papel fundamental no avanço destrutivo: ele não depende apenas "da emissão, da temperatura e da fluidez da lava, mas também da topografia". "Possivelmente, a topografia tem domínio sobre a evolução do deslocamento de lava", concluiu a especialista.

Caminho para o mar

Ademais, Blanco confirmou que não se espera, neste momento, que os fluxos de lava atinjam o mar, como se temia, devido às reações que isso provoca. "Com as velocidades que [os fluxos] têm agora mesmo e as taxas de emissão que estamos vendo pelo centro emissor, hoje eles não vão chegar ao mar, nem amanhã", garantiu.

A chegada da lava ao mar gera temores, especialmente porque pode provocar explosões, ondas de água fervente e, inclusive, nuvens tóxicas, segundo informações da página web do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês).

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