
O discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU na manhã desta terça-feira (21) conteve uma série de mentiras e informações inconsistentes. As informações falsas estão relacionadas especialmente às questões ambientais e aos protestos antidemocráticos e com tom golpista do 7 de setembro. Único líder mundial presente na reunião a declarar que não se vacinou, Bolsonaro ignorou os efeitos comprovadamente positivos do isolamento social na pandemia e distorceu dados econômicos. Veja as informações corretas:
Atos golpistas de 7 de Setembro
- O que Bolsonaro disse:
Bolsonaro afirmou que os atos antidemocráticos do 7 de setembro convocados por ele foram a maior manifestação da história do Brasil. Essa é uma tentativa de mostrar ao mundo que tem apoio popular.
- Explicação correta:
Na verdade, não há nenhum dado que comprove que as manifestações do 7 de setembro foram as maiores da história do país. Os dados existentes mostram o contrário. Em São Paulo, por exemplo, o governo paulista calculou 125 mil pessoas reunidas na Avenida Paulista em apoio ao governo Bolsonaro. No entanto, em 2016, manifestação a favor do impeachment da ex-presidente Dilma reuniu 500 mil pessoas, na mesma Avenida Paulista, de acordo com o DataFolha.
Amazônia
- O que Bolsonaro disse:
Criticado dentro e fora do Brasil pela condução da questão ambiental em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que houve redução de 32% no desmatamento da Amazônia no mês de agosto de 2021, se comparado com o mesmo mês de 2020.
- Explicação correta:
Apesar de ter mesmo havido redução de 32% no desmatamento entre agosto deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado, a informação não reflete a realidade ambiental do país. Isso porque o desmatamento neste último mês de agosto representa quase que o dobro do que foi desmatado entre janeiro e agosto de 2018.
Investimento externo
- O que Bolsonaro disse
Em seu discurso, o presidente disse que as estatais brasileiras davam prejuízos e que hoje são lucrativas, além de afirmar que o Banco de Desenvolvimento "era usado para financiar obras em países comunistas, sem garantias". "Até aqui, foram contratados US$ 100 bilhões de novos investimentos e arrecadados US$ 23 bilhões em outorgas. Na área de infraestrutura, leiloamos, para a iniciativa privada, 34 aeroportos e 29 terminais portuários", afirmou Bolsonaro.
- Explicação correta
O presidente não apresentou a fonte dos seus dados. Segundo o portal UOL,e, segundo ranking divulgado em junho pela ONU, o investimento estrangeiro no Brasil em 2020 despencou para níveis de 20 anos atrás, diante da dificuldade de controlar a pandemia de covid-19 e das incertezas sobre os rumos econômicos e políticos do país.
Além disso, de acordo com dados do Banco Central, em junho, o investimento estrangeiro mensal no Brasil caiu para o menor nível em cinco anos, mas houve recuperação no mês seguinte.
Pandemia
- O que Bolsonaro disse
Bolsonaro voltou a defender medidas que sem comprovação científica no enfrentamento à covid-19. Ele também aproveitou a ocasião para criticar o lockdown, uma das ações com comprovada eficácia no combate ao novo coronavírus pois diminui a circulação do vírus.
"As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo", disse Jair Bolsonaro.
O presidente ainda fez apologia ao chamado tratamento precoce, indicando que a medida foi uma recomendação do Conselho Federal de Medicina (CFM). "Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off label. Não entendemos por que muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial", afirmou.
- Explicação correta
Apesar das falas do presidente, não há comprovação de que as medidas de restrição tenham sido responsáveis pela alta da inflação do país. No entanto, o lockdown funcionou em todos os lugares que o implementaram corretamente. O isolamento ajudou a diminuir o ritmo de casos e de mortes.
Com relação ao tratamento precoce, adotado no Brasil com uso de cloroquina e ivermectina, já é consenso internacional que os medicamentos não têm eficácia contra a covid-19. Além disso, podem ser prejudiciais aos pacientes.