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Compras na internet: quais cuidados devo tomar? Corro riscos? E, em caso de problemas, a quem devo recorrer?

De acordo com uma pesquisa, na pandemia, compras por internet cresceram 41% no Brasil

Caterine Costa de Oliveira
Caterine Costa de Oliveira
Publicado em 06/10/2021 às 12:53
Foto: Pixabay
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Você concorda que uma das melhores facilidades criadas pelo ser humano nos últimos tempos foi a compra através da internet? É muito bom poder escolher o produto ou o serviço que deseja, sem sair de casa, e recebê-lo no conforto do seu lar ou no local que você decidir. Mas essa facilidade, às vezes, traz dor de cabeça ao consumidor.

A estudante de Direito Jéssica Rodrigues, de 23 anos, já passou por apuros ao fazer compras pela internet. Antenada, ela gosta de ficar atualizada com o que tem novo no mercado de smartphones. Navegando no Instagram, achou o perfil de uma página que estava vendendo um celular de última geração por R$3.000,00. “Imperdível”, pensou, já que o preço médio do aparelho, em outras lojas, era R$4.600,00. Logo depois, ela entrou em contato com o vendedor e fechou negócio. Logo, fez um depósito de R$ 800,00 de entrada. O restante do valor seria quitado em 10 parcelas no boleto.

Acontece que, após receber a primeira parte acordada, o homem simplesmente sumiu. “Fiz o depósito e mandei o comprovante pra ele. Ele pediu pra eu aguardar que chegaria em dois dias e, depois, sumiu”, conta a jovem, lembrando que nunca mais teve notícias do golpista. Jéssica tentou resolver o problema recorrendo ao Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), em Afogados, Zona Oeste do Recife. Lá recebeu a orientação de que o registro não poderia ser feito. “Me informaram que o Depatri só trata de casos de golpes com valores acima de 40 salários mínimos. Me mandaram procurar a delegacia do bairro, mas fui na delegacia de Água Fria [zona norte do Recife], e ela estava fechando, por causa do fim do expediente. Daí, desisti de procurar”, contou a jovem que acabou perdendo o valor para o bandido.

Com a pandemia do novo coronavírus, as vendas online aumentaram significativamente. O e-commerce no Brasil cresceu 41% em 2020. Esse percentual equivale a 13 milhões de pessoas que passaram a fazer compras pela internet, de acordo com uma pesquisa realizada pela Webshoppers (relatório de maior credibilidade sobre o comércio eletrônico brasileiro). Ainda segundo a pesquisa, 7 em cada 10 consumidores realizam até cinco compras pela internet por mês. Com esse alargamento no mercado de vendas online, também aumentaram os problemas e muitas pessoas passam por dramas semelhantes ao de Jéssica.

Outro exemplo, é Leandro Gomes que, só em 2021, teve dificuldades ligadas a compras pela internet duas vezes. Em janeiro, precisou comprar uma nova bomba de combustível para seu veículo. Escolheu usar uma grande plataforma de comércio eletrônico. Realizou a compra no valor de R$ 135,00, mas o produto não chegou. No site, constava que o produto havia sido entregue, mas o técnico em Telecomunicações nunca o recebeu. Ele recorreu na própria plataforma e o valor foi estornado no cartão de crédito. “Recebi o dinheiro de volta, refiz a compra com outro vendedor e recebi o produto com tudo certinho”, relatou. Já em julho deste ano, Leandro decidiu comprar um relógio de parede através de site internacional e o problema se repetiu. No site, constava entregue, mas o produto não havia chegado. Abriu um procedimento que a empresa chama de "disputa" por duas vezes, mas até agora nada foi resolvido. E nesses casos citados que não tiveram solução, o que deveria ser feito? Será que há como evitar esses tipos de imprevistos?

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Fui vítima! O que faço?

De acordo com o Delegado Eronides Meneses da Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DPCRICI), com o aumento do número de consumidores que encontraram o mundo das compras online durante a pandemia, elevaram-se os números de registros de boletim de ocorrência envolvendo problemas ligados a golpes nessas transações. Ele explica o que fazer caso você tenha algum problema nas compras online.

“Quando ocorre esse tipo de fraude, se for um valor inferior a 40 salários mínimos, o cidadão pode procurar qualquer delegacia [de bairro] e registrar o Boletim de Ocorrências, lembrando que isso pode ser feito também via internet. Caso seja um valor superior, é recomendado procurar as delegacias especializadas, que são: Delegacia de Crimes Cibernéticos ou Delegacia de Estelionato”, afirmou. Eronides sugere também que, nesses tipos de problemas envolvendo compras com pagamento via transações bancárias, a vítima procure processar o titular da conta que recebeu o valor para, assim, tentar o ressarcimento. Porém, o ideal é procurar evitar esses problemas.

O delegado recomenda que as pessoas utilizem aplicativos para realizar compras ou sites mais populares no mercado. "O mais recomendado é comprar em lojas mais populares e nunca deixar o cartão salvos nos aplicativos de compra. A senha do cartão nunca deve ser solicitada pelos sites", ressalta.

Número de seguidores no Instagram não é certeza de confiança

Um dos golpes mais comuns que têm chegado na delegacia, segundo o delegado, é o de pessoas relatando compras em perfis de redes sociais com muitos seguidores, mas que não entregam o produto adquirido. "Tem lojas com 10 mil seguidores aplicando golpes", afirmou o delegado. Esses tipos de vendedores, conforme Eronides, costumam bloquear os comentários de seguidores para que as próximas vítimas não desconfiem.

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Dicas para não cair em golpes na internet

Na pandemia, as reclamações referente a problemas com compras pela internet no Procon de Pernambuco subiram cerca de 30%. “A realidade do e-commerce está bastante presente, traz suas vantagens, mas o consumidor precisa estar munido de algumas informações para evitar qualquer tipo de problema. É importante que o consumidor conheça seus direitos e fique ligado em algumas situações que podem ser indício de fraudes", afirmou Mariana Pontual, secretária-executiva de Justiça e Promoções de Direito do Consumidor. A pedido da reportagem, ela listou as principais dicas para evitar preocupações em transações via internet. Confira:

  • Prefira comprar em lojas que você possui mais familiaridade;
  • Ao acessar o site, digite o endereço completo;
  • Evite acessar sites através de links (principalmente compartilhados em redes sociais como o WhatsApp);
  • Verifique se o site possui “HTTPS”, no navegador, e se possui um cadeado ao lado do endereço, isso significa que o site é um ambiente seguro para realizar compras;
  • Procure não realizar compras em computadores de terceiros;
  • Evite realizar compras utilizando redes de WI-FI de locais públicos;
  • Mantenha sempre o seu antivírus, tanto do computador, quanto do smartphone, atualizado;
  • Utilize cartões de crédito virtuais;
  • Antes de fazer a compra, cheque endereço, CNPJ ou se o estabelecimento possui canal de Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC);
  • Busque referências do estabelecimento através de sites de reclamações;
  • Ficar atento ao prazo de entrega e ao valor do frete das compras;
  • Desconfie de produtos muito baratos;
  • Quando tem vantagens mirabolantes, redobre as atenções.

Em casos de problemas, busque primeiro resolver o problema com o estabelecimento. Uma outra alternativa é, caso a compra tenha sido feita através do cartão de crédito, tentar uma solução com a financeira, que nesses casos tem uma “responsabilidade solidária”, como nomeia a secretária. Caso não resolva por nenhuma das partes, pode procurar o Procon, que atualmente está funcionando com atendimento presencial através de agendamento. “É aberto um processo administrativo, marca-se a audiência, as partes têm oportunidade de apresentar defesa para haver o julgamento”, explica Mariana, que também esclarece que todos os processos são analisados, podendo ter solução positiva para o consumidor ou não.

Como falar com o Procon-PE?

Horário de funcionamento das 8h às 17h
Telefone: 0800.282.1512;
WhatsApp: (81) 3181.7000
Site: www.procon.pe.gov.br;
Instagram: @proconpe
E-mail: [email protected]

Endereço: Rua Floriano Peixoto, 141 - Bairro de Santo Antônio - CEP: 50.020-065 - Recife-PE

Prazos

A secretária explicou que não há prazos para abertura de reclamações junto ao Procon-PE, após o crime. Porém é importante que seja feito o mais breve possível, pois dessa forma existem mais possibilidades de uma resolução positiva. “Vai depender de cada situação. Será mais difícil de conseguir, mas não impossível. Será verificado da mesma forma. Talvez seja necessário uma ação judicial", acrescentou Mariana Pontual, sobre reclamações registradas muito tempo após a realização da compra. Outra sugestão dada pela especialista é que os consumidores sempre chequem as faturas dos cartões de crédito para evitar demora no registro da contestação.

Grandes empresas de e-commerce falam sobre segurança

As maiores empresas que atuam no Brasil no segmento de compras pela internet, atualmente, dizem adotar medidas para evitar que seus clientes passem por problemas relacionadas às transações nos sites. No caso das Lojas Americanas, por exemplo, há a recomendação que os consumidores verifiquem os preços dos produtos no próprio site da instituição.

“A Americanas recomenda aos clientes que confiram sempre os produtos e seus preços no site, aplicativo e redes sociais oficiais da marca. Além disso, que fiquem atentos a campanhas com preços muito baixos, principalmente relacionadas a produtos de informática, eletrônicos e eletrodomésticos. A Americanas possui um Guia de Segurança com informações para que os clientes possam fazer suas compras na internet de maneira mais segura, que está disponível na parte inferior, na aba ‘Mais Informações’ do site oficial", disse a empresa em nota.

A OLX, também do segmento de comércio eletrônico, informou que, no próprio site, existe uma aba específica para fornecer aos compradores dicas de segurança. "A plataforma investe constantemente em tecnologia e serviços de orientação ao usuário, com dicas com as melhores práticas de negociação, como manter as conversas no chat da plataforma, não deixar o número de telefone exposto nos anúncios, além da recomendação de evitar intermediários e não entregar bens ou produtos de forma antecipada, sem a confirmação do pagamento na conta bancária", explicou a instituição.

Caso o cliente sinta-se lesado ou suspeite de alguma irregularidade, é possível fazer uma denuncia para que a empresa investigue o anúncio para consequentemente excluir da plataforma. Confira as dicas de segurança da OLX:

  • Negocie sempre pelos chats das plataformas de compra e venda e evite aplicativos de mensagem. Fraudadores preferem ambientes digitais onde não poderão ser rastreados e não gostam de deixar rastro de suas atuações;
  • Recebeu um comprovante de pagamento por mensagem ou e-mail? Desconfie, confira diretamente no banco ou na carteira digital se o valor já foi computado, e confira o status da transação na plataforma onde está negociando;
  • Só entregue o produto após a confirmação do pagamento;
  • Desconfie de compradores apressados, essa é uma das táticas utilizadas para que a pessoa entregue o produto antes da confirmação do pagamento;
  • Fique atento aos e-mails recebidos dos sites. E-mails oficiais da empresa normalmente usam o nome da marca e não informações genéricas ou domínio de emails gratuitos;
  • Empresas também costumam ter o whatsapp verificado, quando aparece um selo de confirmação que aquela conta é idônea. Se não tiver o selo, desconfie.

Mercado Livre

Procurado, o Mercado Livre, uma mais populares plataformas de e-commerce do país, disse que trabalha atendendo rigorosamente normas internas e a legislação vigente. Além disso, de acordo com a empresa, ocorre um investimento constante em tecnologia e segurança para refrear ações de fraudadores. "No caso de eventual anúncio irregular, por exemplo, após identificação automática ou por meio de denúncia de usuários ou marcas cadastradas, esse anúncio é excluído, o vendedor notificado e denunciado aos órgãos competentes - podendo ainda ser bloqueado da plataforma em caráter definitivo", relata a instituição.