CORONAVÍRUS

Covid-19: entenda o que muda no dia a dia se doença virar endemia

Alguns países decidiram considerar a covid-19 como uma endemia e não mais como pandemia

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 09/02/2022 às 15:23 | Atualizado em 09/02/2022 às 15:27
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Covid-19 - FOTO: Pixabay

Após mais de dois anos desde que o novo coronavírus, SARS-CoV-2, foi identificado o mundo ainda sofre as consequências da pandemia da covid-19. No entanto, com o avanço da vacinação contra a doença, a sociedade começa a vislumbrar um futuro mais otimista.

Nas últimas semanas, alguns países decidiram que a covid-19 não será mais encarada como pandemia e será tratada como endemia. A decisão foi divulgada pelo Reino Unido, pela França, Espanha e Dinamarca. Mas, o que muda na prática?

Qual a diferença entre endemia e pandemia?

Uma doença se torna uma pandemia quando atinge níveis mundiais, ou seja, quando determinado agente se dissemina em diversos países ou continentes, usualmente afetando um grande número de pessoas. Quem define quando uma doença se torna esse tipo de ameaça global é a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Já endemia acontece quando a doença é recorrente na região, mas não há um aumento significativo no número de casos e a população convive com ela. Por exemplo, a dengue tem caráter endêmico no Brasil, porque ocorre durante o verão em certas regiões.

É a hora de considerar covid-19 uma doença endêmica?

Em janeiro, um evento promovido pelo Fórum Econômico Mundial discutiu todos os conceitos e debateram quando a covid-19 poderia ser realmente classificada como uma endemia. A informação é da BBC.

Para o imunologista Anthony Fauci, líder da resposta à pandemia dos Estados Unidos, o novo coronavírus não será extinto e, aos poucos, passará a afetar os seres humanos de maneira semelhante a outros agentes causadores de um resfriado comum.

A ideia também foi defendida pelo diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, Mike Ryan, que acrescentou que “provavelmente nunca vamos eliminar esse vírus”, mas que será “possível acabar com a emergência de saúde pública".

No entanto, Mike Ryan reforçou, na época, que endemia não é sinônimo de algo bom. "Ela só significa que a doença ficará entre nós para sempre. O que precisamos é diminuir a incidência, aumentando o número de pessoas vacinadas, para que ninguém mais precise morrer [de covid]", completou.

A epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo, em entrevista à BBC, acredita que ainda faltam parâmetros e uma estabilidade nas notificações por um período mais prolongado para considerar a covid-19 como uma endemia.

"Isso ainda não foi bem estabelecido. Quais são os números de casos, hospitalizações e mortes pela doença aceitáveis, ou esperados, todos os anos?", questionou.

O que muda se a covid-19 passar a ser endemia?

Com a covid-19 passando a ser endemia, no geral, não será mais necessário usar máscara em locais fechados, mostrar comprovante de vacinação e as aglomerações estarão completamente liberadas, práticas que foram fundamentais para conter a disseminação do vírus até agora.

Para Ethel Maciel, alguns cuidados, no entanto, deverão ser mantidos, mesmo que a situação fique menos grave. "O vírus vai continuar circulando. Mesmo que as medidas não sejam mais obrigatórias, é importante que todos tomem alguns cuidados quando necessário", orienta.

Alguém que, por exemplo, esteja com sintomas de gripe ou covid deverá trabalhar de casa, se possível, para não colocar em risco os demais colegas. Caso precise sair de casa o uso de máscara poderá ser adotado para evitar a transmissão do vírus para outras pessoas.

"É a mesma coisa que acontece com a infecção pelo HIV. Ter uma relação sexual sem preservativo te coloca numa situação de risco, mesmo que essa doença seja considerada hoje uma endemia", compara.

Vale alertar que caso surja uma nova variante agressiva e com capacidade de escapar da eficácia da vacina contra a covid-19, será preciso instaurar novamente muitos desses cuidados preventivos que começam a ser abandonados em certas partes do mundo.

Numa fase de endemia da covid-19, a forma de vigilância da doença também muda. Nos últimos dois anos, alguns países conseguiram criar uma forma de realizar uma busca ativa de infectados, mesmo aqueles sem sintomas típicos da covid. Tendas de testagem em diversos pontos e kits de diagnóstico foram distribuídos gratuitamente (ou vendidos por um preço baixo) para a população.

Quem testa positivo é monitorado e orientado a ficar em quarentena, assim como as pessoas com quem eles tiveram contato próximo nos dias anteriores eram comunicadas a também buscar os exames.

Durante uma pandemia ou uma epidemia, essa estratégia permite cortar as cadeias de transmissão do vírus na comunidade e evita que a situação cresça e gere uma bola de neve, que desemboca em um aumento massivo de hospitalizações e mortes.

Com a endemia, todo esse processo deixa de existir, pois há um controle no número de casos e mortes.

"Passa-se então para um modelo de vigilância sentinela, em que não é necessário testar todo mundo que apresenta sintomas de infecção respiratória", explica o infectologista Julio Croda, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), em entrevista à BBC. "Se a vigilância notar um novo crescimento em determinada região, é possível intervir cedo, antecipando campanhas de vacinação ou disponibilizando mais testes para aquele local", completou.

Vacinas contra a covid-19 

Com relação às vacinas contra a covid-19, num cenário de endemia, Croda acredita que "é possível que precisemos de vacinas adaptadas de acordo com o surgimento de novas variantes, para proteger principalmente os grupos mais vulneráveis, como idosos, pacientes imunossuprimidos e crianças". 

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