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FALTA DE DIESEL NA ARGENTINA: Brasil pode sofrer o mesmo desabastecimento? Saiba o que pode acontecer

Crise do diesel na Argentina acende alerta no Brasil; Petrobrás já trabalha com possibilidade preocupante para os brasileiros

Gabriel dos Santos
Gabriel dos Santos
Publicado em 09/06/2022 às 8:24 | Atualizado em 09/06/2022 às 8:26
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TIÃO SIQUEIRA/JC IMAGEM/IMAGEM ILUSTRATIVA
COMBUSTÍVEL Novo modelo de comercialização do biodiesel entra em vigor no dia 1º de janeiro de 2022 - FOTO: TIÃO SIQUEIRA/JC IMAGEM/IMAGEM ILUSTRATIVA

Os argentinos enfrentam, neste momento, uma crítica falta de abastecimento de diesel, que provoca inúmeras dificuldades no dia a dia da população. Aqui no Brasil, embora até esta quinta-feira (9) não haver nenhuma sinalização de falta do combustível nos postos do país, especialistas afirmam que o momento é de máxima atenção. 

Ouvidos pelo G1, esses especialistas alertam que não é impossível que as bombas de diesel sequem aqui no Brasil também, uma vez que os dados de estoque não são públicos. 

No final de maio passado, a Petrobras informou ao governo federal que havia risco de desabastecimento, se o país não praticasse os preços da comercialização internacional do diesel - leia-se: cobrar mais pelo combustível que já está caro. 

Por causa das sucessivas reclamações dos motoristas com os aumentos dos preços, a Petrobras tem desrespeitado a política de paridade de importação (PPI), demorado para reajustas preços e mantido o valor do diesel abaixo do que é praticado internacional. 

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O problema disso é que essa dinâmica não se torna atrativa para empresas que importam o diesel de fora do país, e 30% do combustível comercializado no Brasil vem de fora. 

“Não vai faltar se importadores puderem trabalhar sem problemas, mas as empresas estão deixando de importar por conta da defasagem de preço e o burburinho em cima da questão dos combustíveis”, disse o ex-diretor da ANP e professor de economia da UFRJ, Helder Queiroz. 

Há estoque de diesel no Brasil?

Sim. No dia 27 de maio, o governo federal disse que havia estoque suficiente para 38 dias. “Esse estoque serve para eventuais problemas de ruptura de fornecimento ou demanda muito grande por conta de algum choque”, esclarece Queiroz. 

Apesar disso, David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP e professor da PUC-Rio, explicou que o segundo semestre é, tradicionalmente, um período no qual há maior demanda pelo diesel. 

“Nos Estados Unidos — de onde vem boa parte do nosso diesel importado — há sempre chance de furacões, que diminuem a produção das refinarias. E há estocagem para o inverno no hemisfério norte”, comenta. 

O que acontece se o diesel acabar?

De acordo com o economista Alexandre Chaia, professor do Insper, em um caso de desabastecimento do diesel, o país poderia enfrentar consequências semelhantes às daquelas vistas durante a greve dos caminhoneiros em 2018. 

Isso aconteceria porque o transporte de cargas no Brasil acontece principalmente por meio das estradas e os veículos dependem exclusivamente do diesel. 

“As empresas teriam que selecionar o que transportar. Isso geraria um repique da inflação, porque os produtos passam a faltar na prateleira do mercado e, consequentemente, ficarão mais caros”, detalha Chaia.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo G1, a forma de reverter essa preocupação é corrigindo o valor do combustível conforme os preços praticados internacionalmente, a fim de gerar competitividade entre os importadores. Ou seja, o preço voltaria a subir. 

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