Escândalo no governo Bolsonaro

'Aperto na bunda, dono das mulheres, ameaçador': O que as funcionárias da Caixa falam nas denúncias de assédio sexual contra Pedro Guimarães

Um dos maiores aliados do presidente Jair Bolsonaro, Pedro Guimarães é acusado de assédio sexual; Relatos são chocantes

Gabriel dos Santos
Gabriel dos Santos
Publicado em 29/06/2022 às 8:35 | Atualizado em 29/06/2022 às 8:43
Notícia
Foto: AFP
Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal - FOTO: Foto: AFP

A denúncia de assédio sexual contra o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, está recheada de relatos chocantes e angustiantes. As vítimas descrevem o chefe como um homem ameaçador e hostil, além de detalharem os casos de assédio. 

O site Metrópoles teve acesso ao conteúdo da denúncia contra Pedro Guimarães - que é um dos principais aliados políticos do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Veja o que disseram as funcionárias da Caixa.

Aperto na bunda

Na reportagem do Metrópoles, ao menos duas vítimas afirmam que Pedro Guimarães passou a mão em suas nádegas. Uma terceira denunciante diz que o presidente da Caixa passou a mão em seus seios. 

Uma das funcionárias, identificada na reportagem como Beatriz, relatou que foi vítima de Pedro Guimarães em uma viagem a uma capital da região Sudeste. O caso aconteceu enquanto os dois saiam de um restaurante onde jantaram. 

“Ele passou a mão em mim. Foi um absurdo. Ele apertou minha bunda. Literalmente isso”, diz Beatriz chorando. 

Ela conta que, ao perceber o assédio de Pedro Guimarães, saiu de perto do chefe e se aproximou de um colega que estava no local. 

"Falei com esse colega: ‘Fica aqui falando comigo’. Ele respondeu que não estava entendendo nada. Eu disse: ‘Não me solta, só fica conversando, como se nada tivesse acontecido. Finge que estou tratando alguma coisa com você. Nem olhei para trás”.

“Nem contei a ele o que tinha acontecido. Depois, subi para o meu quarto e desabei. Chorei, desesperada, em pânico", detalha Beatriz. “Nunca precisei disso na minha vida para ganhar cargo. Prefiro até não ter cargo, mas nunca precisei disso.”

“Hoje ainda trabalho nas agendas de vez em quando. Mas tento não ficar perto. Quando tenho que viajar, tenho crise de ansiedade”, acrescentou.

"Passou a mão no meu peito"

Outra vítima, identificada como Cristina, diz que, ao finalizar uma agenda oficial no litoral do Nordeste, Pedro Guimarães levou a comitiva para um banho de mar. 

"Ficamos no mar por um tempo, e ele ficava circulando entre os grupos. De vez em quando ele aparecia do meu lado. Teve uma hora em que ele chegou e perguntou: ‘Você confia em mim? Confia na minha gestão? Você está comigo agora. Vem cá, me abraça”. “Aí ele disse: me abraça direito, porra. E deu umas catracadas, e passou a mão em mim. Na hora de tirar a mão, passou a mão no meu peito”, afirma. 

Valéria, que também estava no grupo, denuncia que Pedro também passou a mão nela. “Eu estava com a roupa molhada. Ele chegou perto, disse que gostava muito de mim, perguntou se eu estava feliz e passou a mão na minha bunda”.

“Foi uma mãozona. Ali, ficou muito claro (o assédio). Foi como se ele dissesse: ‘Se você der para mim, você vai ser promovida’”. O relato, detalha o Metrópoles, já foi feito aos procuradores do Ministério Público Federal, que investiga as denúncias. 

Dono das mulheres

Há relatos de outros toques íntimos de Pedro em funcionárias. “É comum ele pegar na cintura, pegar no pescoço. Já aconteceu comigo e com várias colegas. Ele trata as mulheres que estão perto como se fossem dele. Ele já tentou várias vezes avançar o sinal comigo. É uma pessoa que não sabe escutar não”. “Quando escuta, vira a cara e passa a ignorar. Quando me encontrava, nem me cumprimentava mais”, disse uma funcionária identificada como Ana. 

Nos relatos, as vítimas também denunciam que Pedro Guimarães escolhe "mulheres bonitas" para viajar com ele pelo país em agendas oficiais. Além disso, alertam que o presidente da Caixa faz promoções suspeitas de mulheres que não teriam motivos, mas que vão trabalhar com ele na sede do banco público em Brasília. 

“E se o presidente quiser transar com você?”

Na denúncia, há relatos de uma viagem na qual Pedro teria se exibido para duas subordinadas na piscina do hotel. “Ele parecia um boto, se exibindo. Era uma espécie de dança do acasalamento”, afirma uma mulher. 

Em seguida, as mulheres teriam recebido uma proposta de um funcionário bem próximo de Pedro Guimarães. “E se o presidente quiser transar com você?”, perguntou a pessoa para duas mulheres. 

Convites ao quarto de Pedro Guimarães

A denúncia também registra vários convites de Pedro Guimarães para que as funcionárias fossem até o quarto do chefe. Em um dos relatos, o presidente da Caixa teria recebido uma das funcionárias apenas de samba-canção. 

Perfil ameaçador 

A reportagem do Metrópoles registra que, em geral, as mulheres demoraram a denunciar Pedro Guimarães por medo.

No G1, o blog de Andreia Sadi ouviu duas mulheres alvo de Guimarães e fontes do Ministério Público

As mulheres dizem que há pelo menos 12 vítimas que registraram denúncia contra Pedro Guimarães. Elas também relataram à Andreia Sadi que tinham medo de Pedro, que tem um "perfil ameaçador" segundo elas.

Sadi também ouviu que há relatos de café jogado em pessoas durante reuniões e palavras de baixo calão dirigidos a mulheres, inclusive durante reuniões do banco. 

Nas reuniões, Pedro não autorizava a entrada de celulares como forma de evitar que as conversas fossem gravadas. 

O que diz a Caixa?

Em nota enviada ao Metrópoles, a Caixa disse:

“A Caixa não tem conhecimento das denúncias apresentadas pelo veículo. A Caixa esclarece que adota medidas de eliminação de condutas relacionadas a qualquer tipo de assédio. O banco possui um sólido sistema de integridade, ancorado na observância dos diversos protocolos de prevenção, ao Código de Ética e ao de Conduta, que vedam a prática de ‘qualquer tipo de assédio, mediante conduta verbal ou física de humilhação, coação ou ameaça’. A Caixa possui, ainda, canal de denúncias, por meio do qual são apuradas quaisquer supostas irregularidades atribuídas à conduta de qualquer empregado, independente da função hierárquica, que garante o anonimato, o sigilo e o correto processamento das denúncias. Ademais, todo empregado do banco participa da ação educacional sobre Ética e Conduta na Caixa, da reunião anual sobre Código de Ética na sua Unidade, bem como deve assinar o Termo de Ciência de Ética, por meio dos canais internos. A Caixa possui, ainda, a cartilha ‘Promovendo um Ambiente de Trabalho Saudável’, que visa contribuir para a prevenção do assédio de forma ampla, com conteúdo informativo sobre esse tipo de prática, auxiliando na conscientização, reflexão, prevenção e promoção de um ambiente de trabalho saudável.”

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