CRISE YANOMAMI: O que aconteceu com indígenas? Por que crianças Yanomami estão morrendo? Onde fica? Veja resumo e entenda
Indígenas Yanomami estão no centro da maior crise humanitária do Brasil neste século; entre 2019 e 2022, quase 600 crianças morreram - muitas delas vítimas da fome.

YANOMAMI - Nos últimos dias, as fotos de crianças e adultos desnutridos e as notícias de centenas de pessoas morrendo de fome chamaram atenção para uma grave crise humanitária que está sendo vivida, hoje em dia, por indígenas Yanomami:
- Entre 2019 e 2022, quase 600 crianças morreram;
- No ano passado, mais de 70% do povo Yanomami contraiu malária.
Nesta reportagem, entenda quem são os indígenas Yanomami e o que os levou a essa grave situação.

QUEM SÃO OS YANOMAMI E ONDE ELES MORAM?
O povo Yanomami vive na Floresta Amazônica, em um território localizado entre os estados de Roraima e Amazônia e a Venezuela. O local de maior preocupação na atual crise fica localizada no oeste de Roraima.
No total, a população Yanomami é composta por aproximadamente 30 mil indígenas (entre adultos e crianças) que moram em um conjunto de centenas de aldeias.
O que aconteceu com os Yanomami? Por que as crianças estão morrendo?
Os Yanomami vivem da agricultura e da pesca na floresta. Nos últimos anos, o garimpo ilegal invadiu as terras do povo Yanomami, causando, entre outros problemas, a contaminação do solo, deixando a terra improdutiva para a agricultura, e dos rios que mata os peixes. Os animais (que serviam de caça) também fugiram das redondezas.

De acordo com o Ministério Público Federal, nos últimos anos, as terras foram invadidas por aproximadamente 20 mil homens que trabalham no garimpo ilegal.
Especialistas alertam que o homem branco levou a malária para dentro da floresta, o que causou uma epidemia entre os Yanomami.
Além disso, as pesadas máquinas usadas na exploração de minérios devastam os rios, que ficam sem qualquer chance de gerar vida.

A atividade do garimpo também provoca problemas de saúde na vida dos Yanomami. Entre as doenças, infecções por mercúrio, graves quadros de diarreia, pneumonia, e a queda de cabelo das crianças. Até a amamentação dos bebês é arriscada, já que a infecção passa de mãe para filho pelo leite materno.
Há relatos ainda de crianças e mulheres estupradas por garimpeiros.
COMO CHEGOU A ESSA SITUAÇÃO?
Órgãos de defesa dos povos originários afirmam que fizeram inúmeras denúncias contra o garimpo ilegal para o governo federal, enquanto Jair Bolsonaro era presidente, mas o poder público não fez nada.
Na verdade, o ex-presidente Bolsonaro se mostrou simpático ao garimpo, chegando até a fazer uma visita a um local de exploração. Em Roraima, nas eleições 2022, garimpeiros fizeram campanha pró-Bolsonaro.
Enquanto presidente, Bolsonaro deu pelo menos duas lavras para exploração de garimpo, por meio da Agência Nacional de Mineração para pessoas ligadas ao garimpo ilegal de minério, segundo apurou a Folha de São Paulo.
Reportagem de Sônia Bridi e Paulo Zero, no Fantástico, da TV Globo, mostrou que, em dezembro de 2022, a área atingida pelo garimpo ilegal chegava a 5 mil hectares. É um aumento de 300% em relação ao final de 2018, antes de Bolsonaro assumir a Presidência.
“Durante esses quatro anos, piorou muito as situações graves. Chegou malária, desnutrição do povo Yanomami. E, desde então, o pessoal não recebeu nenhuma ajuda”, disse, em entrevista ao Fantástico, o líder indígena Junior Hekurari.
Mudança no governo Lula

Ao assumir a Presidência e tomar conhecimento das graves denúncias, Lula visitou Roraima para se encontrar com os Yanomami. O presidente decretou estado de emergência e enviou profissionais de saúde para atender os indígenas.
De acordo com o governo, mais de mil indígenas foram resgatados com graves problemas de saúde.
"O cenário que encontramos é de guerra. Hoje nós estamos implantando um hospital de campanha aqui em Boa Vista para resolvermos o problema de assistência dos indígenas que estão alojados na Casa de Apoio e também dando assistência aos indígenas que estão chegando", disse o secretário de Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba.
Cestas básicas também estão sendo entregues às famílias que permanecem nas aldeias, enquanto os garimpeiros permanecem trabalhando no local e intimidando indígenas e servidores públicos.
Operações da Polícia Federal e do Ibama estão tentando desarticular os garimpeiros, destruindo, inclusive, aeronaves e máquinas usadas pelos criminosos.
De acordo com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o governo deve fazer uma megaoperação para combater o garimpo ilegal.
Nessa segunda-feira (30), o presidente Lula determinou que o tráfego aéreo e fluvial seja cortado na região para dificultar a circulação dos garimpeiros.
"As iniciativas visam combater, o mais rápido possível, o garimpo ilegal e outras atividades criminosas na região impedindo o transporte aéreo e fluvial que abastece os grupos criminosos", disse Lula em nota enviada à imprensa.
"Vamos atuar firmemente e o mais rápido possível na assistência de saúde e alimentação ao povo Yanomami e no combate ao garimpo ilegal", acrescentou o presidente nas redes sociais.