"Parecia até um adeus", afirma jornalista responsável pela Rádio Vaticano
Da luta contra a pedofilia à autorização da bênção de casais do mesmo sexo, papa Francisco foi de encontro aos setores mais conservadores da Igreja

Nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira (21), a morte do papa Francisco foi anunciada. Jorge Mario Bergoglio faleceu aos 88 anos e deixou um legado na Igreja Católica.
Na Vila de Conciliação, que dá acesso ao Vaticano, as pessoas estão “quase incrédulas” pela notícia, de acordo com o jornalista responsável pela Rádio Vaticano e pelo Vatican News, Silvonei José.
Em entrevista à Rádio Jornal, ele contou que as pessoas pareciam não acreditar na notícia. “A gente via as pessoas quase incrédulas pela notícia, em função de ter visto o Santo Padre ontem na conclusão da Santa Missa de Páscoa, e depois, quando ele pediu para descer de papamóvel e passar entre os fiéis presentes na grande procissão. Parecia até um adeus, um ‘eu quero estar com o povo’”, relatou.
Para ele, a proximidade com o público é um reflexo dos discursos e da postura do pontífice, que também pediu, em todas as ocasiões, para que as pessoas rezassem por ele. “Isso dá o tom daquilo que nós estamos vivendo agora: as pessoas rezam pelo papa Francisco. É tristeza na Terra e alegria no céu”, afirmou o jornalista.
Legado
Primeiro papa americano, Jorge Mario Bergoglio foi uma personalidade de destaque em todo o mundo por lutar por uma reforma na Igreja Católica e pregar a simplicidade.
Para Silvonei José, a marca é um legado a ser seguido pelo próximo papa. “A gente viu esse vento que veio lá da Patagônia abrindo essas janelas seculares para tirar muita poeira. Seria muito difícil pensar num caminho ao contrário ou um um vento lateral, depois daquilo que nós vivemos”, destacou.
Da luta contra a pedofilia na Igreja ao diálogo com todas as religiões e à autorização da bênção de casais do mesmo sexo, por exemplo, Jorge Mario Bergoglio foi de encontro aos setores mais conservadores da Igreja e da sociedade católica do mundo inteiro.
“O papa pedia reformas, não pintar as paredes de branco para ficar bonito, mas reformas profundas. O próximo que vai vir vai ser um homem de grandíssima responsabilidade por tudo aquilo que nos deu o papa Francisco: tudo aquilo que ele pediu que se fizesse pelos últimos, pelos descartados, pelos migrantes, pelos refugiados, pelas mulheres…Quem vem agora vai ter um grande legado para continuar”, destacou o jornalista.
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Quem vem agora vai ter um grande legado para continuarSilvonei José - jornalista e coordenador da Rádio Vaticano e do Vatican News
Próximos passos
De acordo com o coordenador da Rádio Vaticano, os próximos dias serão divididos em três partes até a escolha do próximo papa.
No primeiro momento, serão realizadas as exéquias, que são as cerimónias religiosas fúnebres da Igreja Católica. “Eu creio que nós estamos nesse momento ainda das exéquias, nesse momento de ação de graças pela vida de Francisco”, explicou Silvonei.
Em seguida, acontece o novenário, que são nove dias que antecedem o conclave. Durante esse período, um conjunto de orações são rezadas por nove dias seguidos pelos fiéis.
Por fim, acontece o conclave, o momento de escolha do novo papa pelos cardeais.
O conclave é um momento de grande repercussão em todo o mundo. Ele tem início com a Missa Pro Eligendo Romano Pontifice, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, com a presença de todos os cardeais eleitores.
Em seguida, eles vão para a Capela Sistina, onde ficam isolados, sem comunicação externa.
“Em geral, são duas votações de manhã e duas votações à tarde”, contou Silvonei. Após as votações há a análise das urnas para comunicar ao mundo se foi feita a escolha de um novo papa. Quando a fumaça é preta, não houve eleição, e quando a fumaça é branca, um novo pontífice foi escolhido.
Ao final da cerimônia, o escolhido comunica qual nome gostaria de ser chamado, se veste com os trajes de papa, cumprimenta os cardeais em um juramento de fidelidade e dá a sua primeira bênção ao mundo.
Para Silvonei José, o italiano Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, é um “candidato lógico”. Ele é considerado um moderado e candidato capaz de unir diferentes alas da Igreja.
“É o segundo homem na esteira do papa Francisco, foi o braço direito dele”, afirmou. Além de Pietro Parolin, outros candidatos apontados são o italiano Matteo Zuppi, Arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, o filipino Luis Antonio Tagle, Pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, o hungro Péter Erd, Arcebispo de Esztergom-Budapeste, e o francês Jean-Marc Aveline, Arcebispo de Marselha.
Quem vem agora vai ter um grande legado para continuar
Silvonei José - jornalista e coordenador da Rádio Vaticano e do Vatican News