"O grande beneficiário será o setor corporativo", diz economista sobre programa de incentivo a carros populares
Ação faz parte do Programa Mover, regulamentado para criar metas para segurança veicular, descarbonização e reciclagem de automóveis
O Governo Federal está prestes a criar o chamado Carro Sustentável, que reduzirá o IPI de automóveis mais baratos desde que atendam a determinados requisitos e sejam produzidos no país.
A ação faz parte do Programa Mover (Mobilidade Verde), que, em abril de 2025, foi regulamentado para criar metas para a segurança veicular, descarbonização e reciclagem dos automóveis.
O economista e professor Clidenor Lima Júnior foi entrevistado pela Rádio Jornal nesta segunda-feira (07).
Na conversa, ele analisou a nova medida do governo federal voltada ao setor automotivo, criticando a falta de planejamento estratégico e apontando que os principais beneficiados devem ser grandes empresas, locadoras e frotistas — e não a população de baixa renda.
Ele também abordou os desafios para tornar o Brasil competitivo como exportador de veículos e fez ressalvas ao discurso ambiental que cerca os carros elétricos.
Medida sem direção clara
Ao comentar a proposta do governo federal de incentivar a indústria automobilística com benefícios fiscais até 2026, Clidenor afirmou que a iniciativa carece de planejamento estratégico.
Para ele, trata-se de uma solução improvisada, que não enfrenta os desafios estruturais do setor.
“Está se tentando fazer um remendo. Falta um pensamento estratégico de longo prazo para o país. A medida, que deve durar até 2026, exclui os carros elétricos — afinal, não há fabricação nacional desses veículos.”
“Mais da metade das vendas de carros hoje é feita de forma direta para frotistas, locadoras e grandes empresas. São esses os principais beneficiados. Se o objetivo é ter uma indústria automobilística forte e exportadora, precisamos repensar as alíquotas de impostos, que variam de 30% a 48%.”
Impacto limitado na população
Na avaliação do professor, a medida não deve alcançar a maior parte da população.
Ele critica a exclusão das classes mais baixas do mercado e alerta para o risco de distorções no sistema de incentivos.
“O país está envelhecendo. Precisamos pensar de forma inclusiva, considerando todas as faixas etárias, gostos e desejos.”
“Hoje, quem é pobre não compra carro. E a classe média baixa, no máximo, adquire um veículo usado. É esse o país que estamos construindo.”
“Repito: o grande beneficiário será o setor corporativo. A medida cria uma distorção. Se isso é um conceito, parece mais uma improvisação. Não há mercado para isso no resto do mundo. É mais uma jabuticaba.”
Ausência de planejamento industrial
O economista também apontou a falta de ambição do Brasil em se tornar um exportador relevante no setor automotivo. Segundo ele, a política atual não considera esse caminho.
“Nosso problema é a ausência de planejamento estratégico — e de coragem. Não conseguimos enxergar o Brasil como um país exportador de automóveis. Hoje, atendemos apenas nichos pequenos.”
“Há também uma falsa narrativa ecológica. Fala-se muito de carro elétrico, mas esquecem que as baterias usam metais pesados e poluentes, sem destino adequado.”
“Parte-se da ideia de que os carros a combustão estagnaram tecnologicamente, como se não fosse possível reduzir emissões e melhorar sua eficiência — o que é falso.”
Foco nos grandes compradores
Por fim, Clidenor reforçou que os principais beneficiados pela medida serão empresas que já dominam grande parte do mercado automotivo nacional.
A população de baixa renda, segundo ele, seguirá à margem dessas políticas.
“Quem vai lucrar são os grandes compradores. Eles já respondem por metade da produção nacional.”
“Nos modelos de entrada, entre R$ 70 mil e R$ 90 mil, a participação dos frotistas varia de 54% a 94%. A população comum dificilmente será alcançada. No máximo, será arranhada.”
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