América Latina: o resgate da doutrina do 'quintal dos Estados Unidos' e a resposta brasileira
Em meio a ameaças de tarifas e crescente influência chinesa, Estados Unidos voltam a mirar a região, que o Brasil se recusa a chamar de 'quintal'
A possibilidade de um 'tarifaço' de 50% sobre produtos brasileiros paira no ar, intensificando as tensões geopolíticas na América Latina. Nesse cenário, o secretário de defesa dos Estados Unidos, Pitt Hegsef, tem vocalizado críticas à crescente influência da China na América do Sul e Central, indicando que os EUA agora miram o Canal do Panamá em uma tentativa de retomar sua presença na região, a qual denominou de "quintal". Mas de onde vem essa ideia de que a América Latina é um "quintal" dos Estados Unidos? E qual a posição do governo brasileiro diante dessa retórica?
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A Doutrina Monroe e o 'quintal' norte-americano
O termo "quintal" é uma herança direta da Doutrina Monroe, que moldou a forma como os Estados Unidos se referiam à América Latina e ao Caribe. De acordo com essa doutrina, devido à proximidade territorial, os EUA se consideravam "tutores" de todo o continente americano. Em 1904, o então presidente estadunidense, Theodore Roosevelt, cunhou a famosa expressão do "grande porrete", afirmando que "falar suave com um grande porrete na mão levará o país longe".
Atualmente, o presidente Donald Trump tem declarado manifestamente seus planos de "retomar a velha orientação imperial dos Estados Unidos". Essa postura é explicada pela dependência que os EUA projetam ter da América Latina e do Caribe, à medida que os efeitos da imposição de tarifas comerciais a quase o mundo inteiro começam a ser sentidos.
Histórico de intervenções e a política do 'grande porrete'
A história do século XX é marcada por práticas de intervenção dos Estados Unidos na região, alinhadas à doutrina do "grande porrete". Houve ocupações diretas em países como o Haiti, entre 1915 e 1932, e na Nicarágua, de 1912 a 1933. Além disso, os EUA apoiaram ditaduras militares na América Latina envolvidas na Operação Condor durante a Guerra Fria, o que influenciou diretamente a democracia brasileira entre 1964 e 1985.
A Doutrina Monroe surgiu em um período de efervescência de independências na América Latina, como a do Peru em 1821, Bolívia em 1825, Uruguai em 1828 e Equador em 1830. Naquele período, os estadunidenses justificavam suas ações, revestindo-as de "valores universais".
China e EUA: A Disputa por Parcerias Comerciais na Região
No contexto atual, a imposição de tarifas comerciais pelos EUA poderia impedir que os países da América Latina negociassem com nações como a China. No entanto, o gigante asiático é hoje o principal parceiro comercial de importantes economias regionais, como Brasil, Peru e Chile. Já os Estados Unidos ocupam essa posição de principal parceiro entre nações como México, Guatemala, Colômbia e Equador.
A posição brasileira: 'não somos quintal'
Em uma clara resposta aos norte-americanos e à reedição da retórica do "quintal", o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, já declarou que "o Brasil não é um quintal, é um país livre, soberano, com interesses próprios do povo". Lula também enfatizou a necessidade de respeito mútuo, afirmando: "Nós tratamos os Estados Unidos com muito respeito porque temos 200 anos de relações diplomáticas e queremos ser tratados com o mesmo respeito".
A postura brasileira reflete a determinação em defender sua soberania e seus próprios interesses comerciais e diplomáticos, diante de uma renovada investida da antiga doutrina imperial dos Estados Unidos na região.
*Texto gerado com auxílio de IA a partir de conteúdo autoral da Rádio Jornal com edição de jornalista profissional