Psicologia em Movimento: Você sabe o que é mitomania? Há uma passagem bíblica, no livro de João, em que Jesus afirma que "o Diabo é o pai da mentira". Embora a mentira esteja associada ao Diabo, não há um filho de Deus que não tenha mentido algum dia, em qualquer fase da vida, sendo o ato de mentir
um comportamento que pode ser considerado até mesmo corriqueiro.
Mas nem toda mentira tem a mesma natureza ou razão de ser. Enquanto algumas mentiras podem não indicar transtorno psicológico grave, outras o revelam. Nesse caso, a mentira é mais do que uma prática lúdica ou um exercício de imaginação criativa tão característico da infância, por exemplo.
Por desconhecer empiricamente o sentido de realidade na vida cotidiana, a criança, sobretudo na primeira infância, faz livre uso da sua capacidade fabulativa: capacidade que por variadas razões, e de diferentes formas, pode acompanhá-la pela vida adentro, sem necessariamente vir a constituir-se num transtorno.
Mas existem também casos em que a mentira adquire o caráter de um distúrbio psíquico grave: o que geralmente acontece quando o ato de mentir se torna um comportamento compulsivo, de caráter sistemático e repetitivo. Nesse caso, a pessoa mente, não por ser incapaz de distinguir o que é a realidade da fantasia, mas porque ela tenta negar ou alterar a realidade por essa lhe ser adversa ou dolorosa. Deste modo, a mentira é uma maneira de reconstruir fragmentos da realidade de vida, tornando-os menos dolorosos, suportáveis, sem com isso romper com a realidade, haja vista que o mentiroso compulsivo sabe que está mentindo. Ele continua vinculado à realidade e não fora dela, como, em geral, acontece com as pessoas que deliram.
A mentira como um comportamento compulsivo, sistemático e repetitivo (a mentira como um transtorno de personalidade, portanto), que iremos abordar na Coluna Psicologia em Movimento desta noite, com o psicólogo Sylvio Ferreira.
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