Todos nós temos os nossos pontos de fuga, haja vista que quase sempre vivemos em busca de um ideal a ser atingido, mas no deparamos com um modo de ser que opera na contramão do que, em realidade, nós somos. O choque entre o que idealizamos ser e o que somos é a causa de muita lamentação e tormento. E de muita frustração, na forma da não aceitação de si.
A não aceitação do seu corpo, do seu estado social, da sua condição financeira, são exemplos do desencontro entre o que o que desejamos e o que a vida nos oferece, muitas vezes. Nesses casos, é comum as pessoas se projetarem num lugar ou condição outra em que estão ou acham que se encontram. Ao não se aceitarem ou ao se sentirem desconfortáveis consigo mesmas, elas acabam promovendo uma torção na imagem e, ao assim procederem, dão início a um processo de negação de si. É claro que a cada um de nós é dado o desejo de sonhar ser o que estabelecemos como ideal a ser alcançado --- é o nos faz desejar nos situarmos num lugar outro que não o lugar em que nos encontramos.
Fazer uma cirurgia plástica, mudar a coloração do cabelo, submeter-se a um regime dietético, ou mesmo a uma cirurgia bariátrica, no entanto, não faz com que nos tornemos um outro diferente do que éramos antes. A despeito das possíveis mudanças processadas, não surge uma outra pessoa no meu lugar. O que eu realizei foi uma ação, ou conjunto de ações, onde eu me sinto melhor, mais interessante, mais confortável e feliz comigo mesmo. Ponto! Por sua vez, a negação de si é muito mais do que um ideal a ser atingido e que se contrapõe aos modos como nos sentimos e nos percebemos. A negação de si é uma espécie de fuga ilusória de si mesmo, que leva as pessoas a negarem os seus desejos mais intensos e os seus sentimentos mais verdadeiros.
Ninguém pode fugir das suas verdades, fugir de si mesmo. Alguém poderá até mascarar os seus pensamentos e desejos, mas sempre será atormentado por tudo o que em si quer negar. A negação de si é o oposto da afirmação da vida, por nos tornar um simulacro do que somos sem nos levar a lugar algum. Infelicitando nossas vidas, ao torná-las tristes e amargas. É sobre esse modo de construção de si, na forma de negação, que iremos abordar, esta noite, na Coluna Psicologia em Movimento, com o psicólogo Sylvio Ferreira.