Não se comprometem

Opinião: camarotes são a ruína do BBB 22

Com medo do cancelamento, famosos entram no BBB 22 para se autopromover e ignoram as dinâmicas naturais do reality

Vitória Floro
Vitória Floro
Publicado em 28/02/2022 às 11:52 | Atualizado em 28/02/2022 às 12:20
Análise
Reprodução / TV Globo
Tiago Abravanel desistiu do BBB 22 no último domingo (27) - FOTO: Reprodução / TV Globo

O ano era 2020 e o Big Brother Brasil anunciava uma mudança na dinâmica de seleção dos participantes que mudaria para sempre a maneira com que a audiência passaria a se relacionar com o programa.

Pela primeira vez na história do reality, parte do elenco de confinados seria formada por pessoas com um certo nível de fama. Dos 18 participantes, metade seriam figuras já conhecidas pela mídia, que fariam parte de um grupo chamado de camarote.

Os anônimos, pertencentes à parte remanescente de participantes, configurariam o grupo pipoca. Durante o primeiro programa do ano o apresentador Tiago Leifert explicou que não existiria desvantagem: o primeiro paredão seria formado apenas por membros do mesmo grupo.

Assim, não existia o risco de um desconhecido competir com a força dos fãs de um artista famoso na disputa do paredão.

Com o passar das semanas, o medo de que os pipocas do BBB 20 fossem deixados de lado não parece não ter sido justificado pelos desejos da audiência. Na final da edição, duas camarotes chegaram ao pódio, não em primeiro lugar, que ficou para a médica Thelma, participante da pipoca.

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Em 2021 a história se repetiu. Parte dos camarotes formou um grupo de vilões que foram, um por um, eliminados com altas taxas de rejeição. Não dói lembrar do recorde quebrado por Karol Conká, eliminada com 99,17% dos votos.

Com o BBB 22 a história se repete e, dessa vez, cansa o público. Com muito a perder, os camarotes fazem sessões de fotos profissionais para atualizar as redes sociais, criam uma identidade visual e entram com treinamento de mídia, equipe de produção, administradores de perfil com formação em marketing, posts planejados, roupas de grife selecionadas para bombar nos trends e projetos pessoais para alavancar a carreira enquanto estão sob o holofote.

Entram no BBB para trabalhar e não para jogar. A equipe de Naiara Azevedo, por exemplo, enfrentou uma disputa com a família de Marília Mendonça para conseguir os direitos autorais de uma parceria da dupla que já havia sido engavetada por Marília anos antes. Tudo isso para que a canção pudesse ser lançada enquanto Naiara aproveitava a visibilidade do BBB.

Jade Picon não perde a chance de avisar aos patrocinadores que está “treinando para as publis que vai receber” e Tiago Abravanel declarou que gostaria de fazer um BBB do amor, sem brigas, já que o cancelamento vai mal para o bolso e para os seguidores.

O neto de Sílvio Santos, temeroso, desistiu do BBB 22 no último domingo (28), não falou com ninguém, apertou o botão de desistência e saiu. Deixou para trás o prêmio de R$ 1,5 milhão, dinheiro que motiva grande parte dos participantes pipoca a continuarem na disputa, mas que não faz falta para Tiago.

Nos próximos dias, Tiago deve voltar para a sua cobertura com mais de 500 m² no Brooklin, bairro nobre de São Paulo, onde o metro quadrado pode chegar até R$ 13 mil.

Poderá, então, descansar na poltrona da sala, feita pelo artista Sérgio Matos e avaliada em R$ 35 mil, depois, se quiser, deve esquecer os dias de Xepa jantando na sua mesa de mármore, tranquilo em saber que não precisa do BBB 22 para pagar as dívidas da faculdade, ajudar a família ou sair do aluguel.

Tiago e tantos outros camarotes do BBB 22, cumprem a missão de atrapalhar o jogo com medo do comprometimento e do cancelamento, saem sem sofrer as consequências de um sonho não conquistado.

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