ENTREVISTA

"Moro não deixou legado no Ministério da Justiça", diz Gilmar Mendes

Ministro do STF concedeu entrevista à Rádio Jornal nesta quinta-feira (18) e apontou a saída de Sergio Moro da pasta como "melancólica"

LOURENÇO GADÊLHA
LOURENÇO GADÊLHA
Publicado em 18/06/2020 às 12:40
Carlos Moura/SCO/STF
FOTO: Carlos Moura/SCO/STF

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes apontou a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública como “melancólica”. Em entrevista ao Passando a Limpo desta quinta-feira (18), o jurista destacou que a declaração se baseia no fato que o ex-ministro não deixou nenhum legado enquanto esteve ministro no governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido).

“Ter tirado Moro de Coritiba foi muito importante para acabar com aquela teatralidade e todo aquele modelo de estado regressivo de espetáculo que se criava. Mas ele saiu de forma muito melancólica do governo Bolsonaro, inclusive com essa polêmica de interferência na Polícia Federal ou não. O fato é que ele não deixou nenhum legado no Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Se perdeu nesse discurso anti-corrupção, não atacou a questão da segurança. Todos dizem que o pouco da Segurança Pública que o ministério cuidou vinha da gestão anterior, com o ministro Raul Jungmann”, afirmou.

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De acordo com Gilmar Mendes, o ex-juiz da Lava Jato foi levado ao governo sob a mediação do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. No entanto, apesar de discordar da pirotecnia criada por Moro à frente da operação, Mendes considera uma decisão equivocada o ex-juiz ter abandonado o judiciário para integrar o governo federal. “Moro fez uma escolha bastante complicada porque sendo juiz da Lava Jato com toda aquela projeção, ele optou depois por servir ao governo Bolsonaro, que era adversário do PT. Isso tem sido criticado em prosa e verso, inclusive por aliados seus. Acho que isso foi um erro crucial na sua trajetória. Ele não deveria ter aceito esse convite”.

Declarações de Weintraub

Mendes também comentou as declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, na reunião ministerial de 22 de abril. Na ocasião, Weintraub classificou os integrantes do STF como "vagabundos" e sugeriu cadeia a eles. “Aquela reunião tem aspectos muito interessantes, porque é um modus faciendi de como não governar. Nós estamos em meio à pandemia, as famílias todas que tem filhos para fazer o Enem estão esperando uma notícia e o ministro não dá nenhuma palavra sobre a sua atividade e a sua pasta. Pelo contrário, sai desferindo aqueles ataques gratuitos ao Supremo Tribunal Federal, como se fossemos nós que estivéssemos impedindo o governo de governar. Foi um término lamentável", afirmou.

Jair Bolsonaro

O ministro do STF ainda criticou as recorrentes tentativas do presidente Bolsonaro em colocar um possível uso das Forças Armadas em conflitos entre os poderes. “Agora veio essa mensagem como se fosse possível usar as Forças Armadas ou para arbitrar conflitos de poderes ou mesmo para ser usada como ameaça a outros poderes que não estivessem atuando de forma como a presidência espera. Isso é absurdamente equivocado. O presidente é o chefe supremo das Forças Armadas, mas nos limites da Constituição. As Forças Armadas pós-88 têm compromisso democrático e têm cumprido isso”, concluiu.

Ouça a entrevista na íntegra: