Enquanto a população mundial aguarda ansiosa pela chegada da vacina contra o novo coronavírus, o Brasil enfrenta uma crise em torno do imunizante. O presidente da República, Jair Bolsonaro, disse, novamente, esta semana, que a vacina não será obrigatória no país. A postura do chefe de Estado tem preocupado especialistas da área de saúde. Para o médico pediatra e representante da Sociedade Brasileira de Imunização em Pernambuco, Eduardo Jorge, mais importante será educar e persuadir a população.
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“A questão de ser obrigatória ou não, na minha concepção, é menos relevante. A gente sempre fala que a persuasão e a educação são as medidas mais importantes para conscientização da população (...) Se a gente não passar a certeza para a população de que a vacina é a maneira mais eficaz de protegê-la, a gente pode obrigar, mas não vai dentro da casa buscar essa pessoa, nem fiscalizar todas as pessoas que estão andando na rua, [para saber] se estão vacinadas ou não”, apontou.
No entanto, o especialista explica que essa obrigatoriedade pode acontecer de forma indireta. “Só se matricula na escola com o cartão de vacinação em dia”, exemplificou. “Essa preocupação da obrigatoriedade é mais uma manipulação política por trás disso, de interesses individuais. Eu acho que a população vai estar conscientizada e quando tivermos uma vacina segura, efetiva, com possibilidade de acesso às pessoas de alto risco, o trabalho será esse: educação e persuasão”, completou.
Médico lamenta politização de vacina
A fala do presidente Jair Bolsonaro sobre a não obrigatoriedade da vacinação veio logo após o Instituto Butantan, em São Paulo, divulgar que a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo instituto com tecnologia chinesa, é a mais segura em fase final de testes no Brasil. Após o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciar a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, o presidente desautorizou o ministro ao mandar cancelar o acordo de compra.
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Doutor Eduardo Jorge lamenta a situação. “Eu vejo isso com muita tristeza. Uma das poucas coisas respeitáveis deste país é o Programa Nacional de Imunizações (PNI) (...) Quando a gente vê um político a, b ou c utilizando da pandemia ou da vacina para defender outros interesses, a gente vê isso de forma muito lamentável. O que a população tem que entender, e o que as sociedades médicas vão trabalhar arduamente, é que independente do país que venha essa vacina, a gente quer que os estudos de fase 3 comprovem a efetividade dessas vacinas e a segurança”, afirmou.
Na avaliação do médico, das 10 vacinas em fase três no mundo, se mais de uma atingir a eficácia, isso seria importante para aumentar o volume de imunização para a população. “O mundo tem 8 bilhões de pessoas. Se formos vacinar o mundo inteiro, e todo mundo tomar as duas doses, nós iremos precisar de várias vacinas”, comentou.