Dia da Mulher

Dia da Mulher: Debate da Rádio Jornal fala sobre a importância de mulheres ocuparem cargos de liderança

Mulheres do meio jurídico, do empreendedorismo e da Ciência conversaram sobre os desafios e importância de ocupar postos de poder no mercado, na edição especial do Debate

Gabriel dos Santos Araujo Dias
Gabriel dos Santos Araujo Dias
Publicado em 08/03/2021 às 12:23
Luisi Marques/JC Imagem
FOTO: Luisi Marques/JC Imagem

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Debate da Super Manhã da Rádio Jornal recebeu três mulheres fortes, pioneiras, que modificam o ambiente em que vivem e trabalham e que, acima de tudo, lutam por mais respeito para todas as mulheres. Para falar sobre os desafios e importância de mulheres assumirem cargos de liderança, foram convidadas a presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB–PE, a advogada Manoela Alves, a empreendedora Simony César, que foi destaque da lista Under 30 da revista Forbes do ano passado, e a cientista e pesquisadora emérita da Fundação Oswaldo Cruz, a doutora Alzira Almeida. O Debate especial foi apresentado pelas jornalistas Mônica Carvalho e Mirella Martins.

Ouça ao debate

Em 88 anos de fundação da seccional de Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil, Manoela Alves é a primeira conselheira negra. Na avaliação dela, isso representa um avanço, mas ainda há muito a se fazer. “É um grande avanço para mulheres pretas e institucionalmente para a OAB. Quando a gente enfrenta o racismo, a gente enfrenta o racismo institucional. A OAB sai na vanguarda, quando coloca uma pessoa preta neste espaço. Muito ainda tem a se andar. Num conselho de 80 pessoas, sou a única pessoa negra. Precisamos avançar para que tenha ainda mais representatividade”, disse.

Ela acredita que, em breve, a seccional poderá ter também a primeira mulher como presidente da instituição. “A OAB vem democratizando seus quadros. Agora, tivemos nomeação de várias pessoas para a escola superior como diretores e diretoras pretos e pretas. Acredito que não estamos longe de ter uma presidente mulher e que seja uma mulher aguerrida e que, de fato, esteja lá para garantir pautas de gênero”, frisou.

Mobilidade

Filha de uma ex-cobradora de ônibus, foi no transporte público do Recife que Simony César viu que precisava fazer algo pelas mulheres. “Eu morava em Dois Unidos e pegava três ônibus para ir e outros três para voltar da faculdade. Vi muito assédio contra mulheres no transporte e entendi o quanto a violência de gênero é um fator impeditivo de mulheres no ensino superior e no mercado de trabalho”, explicou no Debate.

Simony criou então um Nina, uma funcionalidade tecnológica que pode ser acessada em diversos aplicativos para que permite denúncias de assédio nos serviços de mobilidade urbana. “Andando por várias cidades, eu só conversei com uma secretária [mulher] de mobilidade, que foi em Natal [capital do Rio Grande do Norte]. Então, não são as mulheres que tomam as diretrizes do setor”, alerta, Simony, que também já foi vítima da violência urbana no transporte público.

“Em 2019, estava em uma parada de ônibus na frente do estádio do Santa Cruz, às 18h, ao lado de dois homens. Um assaltante chegou, me encurralou e me deu três facadas. Os homens que estavam na parada correram e a minha sorte foi uma mulher que estava passando de carro, que parou e me socorreu”, lembra.

Ciência

Muito antes da pandemia do novo coronavírus, quando a peste bubônica se alastrava pelo Brasil, a doutora Alzira Almeida já estava nos laboratórios para pesquisar e ajudar milhares de pessoas que padeciam do mal. Mas nem por isso ela deixou de enfrentar dificuldades. “Eu era casada com com o chefe da equipe brasileira, mas ele era chefe porque era homem. Nós tinhamos a mesma titulação. Eu tive que lutar muito para me impor, para mostrar minha capacidade e não ser apenas a esposa do médico”. “Depois, ele se aposentou e eu fui chefiar a equipe, mas tinha muita resistência. Eu determinava algo e a equipe, predominantemente masculina, respondia: ‘mas o doutor fulano não fazia isso’ e eu tinha de explicar que o doutor fulano já havia se aposentado, que a ciência se atualizava e que as informações que valeriam, a partir de então, seriam as que eu preconizava”, se recorda.

Hoje, Alzira fica feliz em ver a ciência com mais rostos femininos. “Atualmente, as mulheres conquistaram grande espaço na pesquisa científica. Muito diferente de quando eu comecei, há 55 anos, onde predominavam os homens. Mulheres eram consideradas menos capazes. Havia uma espécie de boicote contra as mulheres. Vejo com muita alegria que as mulheres ganharam muito espaço”, afirmou.