A médica sanitarista e professora da Universidade de Pernambuco (UPE), Bernadete Antunes, classifica como “desumano” permitir a compra de vacinas contra a covid-19 por empresas privadas para aplicação nos funcionários. A Câmara dos Deputados adiou nesta quarta-feira (31) a votação do projeto e a matéria deve ser analisada na próxima semana.
“É extremamente arriscado. Eu acho que os empresários que têm dinheiro e que têm uma lucratividade nesse país tinham que estar se preocupando, no aspecto mais humano, de conseguir se juntar e produzir a vacina no país. Essa coisa de estar afrouxando para o sistema privado é muito desumano”, criticou a especialista.
Segundo a médica sanitarista, caso a medida seja aprovada, o gerenciamento da vacinação ficará “pior do que já está”, pois serão definidas prioridades no processo de imunização sem levar em consideração as indicações feitas pela ciência.
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Atualmente, a lei permite a compra de imunizantes por pessoas jurídicas, mas as empresas precisam doar todo o estoque para o Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto o governo não concluir a imunização de grupos prioritários.
Coordenação nacional do processo
Para a médica, no momento, é importante que o processo de vacinação tenha uma coordenação nacional, como acontece com outras vacinações, que são coordenadas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). “A gente está num momento muito delicado. O processo de vacinação no país é muito lento. Essa vacinação tem que ter uma coordenação nacional para que todo mundo possa seguir uma definição. Não é a estratégia de uma ou outra empresa que vai resolver o processo de vacinação”, disse.
Empresas deveriam produzir vacinas
Doutora Bernadete Antunes acrescenta que as empresas deveriam estar se unindo para produzir o imunizante. “A gente tinha que estar investindo mais era na própria produção. O país tinha que ter empresas que se interessassem em produzir nacionalmente para aumentar o volume de vacinas no país. Estima-se que, mesmo que gente possa comprar, como a gente retardou muito a compra, não vamos ter estoque nos outros ambientes produtores para dar conta do que o mundo precisa”, concluiu.