Quatro homens invadiram uma emissora de rádio e ameaçaram um radialista que fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco. O crime aconteceu na noite dessa terça-feira (6). Os invasores se declararam apoiadores de Bolsonaro e ficaram furiosos após o profissional fazer questionamentos sobre a política sanitária do presidente na pandemia do novo coronavírus. Nesta quarta-feira (7), comemora-se o Dia do Jornalista.
O alvo dos invasores foi o radialista Júnior Albuquerque, da Rádio Comunidade. “Há algumas semanas, entrou em pauta as quase 300 mil mortes por covid-19 no Brasil (na época ainda não havíamos superado esta triste marca) e eu fiz um comentário opinativo, onde expus que no meu ponto de vista, Hitler não era o único culpado do genocídio que aconteceu na Alemanha, pois quem o apoiou e quem se calou também teve sua parcela de culpa. Assim como no Brasil, em relação à covid-19, os eleitores de Bolsonaro que concordam com a política sanitária que ele vinha fazendo, também iam ter culpa e a história ia dizer isso", explicou, ao Jornal do Commercio, o profissional, que trabalha há 10 anos na área.
Após o comentário, Júnior passou a receber ameaças. No último dia 30, o radialista voltou ao assunto e disse, ao vivo, que gostaria de conversar com apoiadores do presidente Bolsonaro.
"Eu disse que queria que esse pessoal fosse até a rádio para a gente debater e eles me explicarem o motivo de tanta raiva e também me mostrarem o que foi que o presidente deles fez de bom”, lembrou.
Mesmo convidados para participar de um debate civilizado e pacífico, os apoiadores que estiveram na emissora nessa terça-feira preferiram adotar uma postura ameaçadora e agressiva. “Quando foi ontem eles invadiram o estúdio da rádio e me ameaçaram", afirmou Júnior. A identidade dos agressores ainda não foi revelada.
De acordo com o profissional, os invasores só não bateram nele porque outros radialistas da emissora estavam no local. Júnior já prestou queixa na Polícia Civil e disse que vai procurar o Ministério Público de Pernambuco para registrar a ameaça.
Veja o vídeo:
Nota da Asserpe
Por meio de nota, a Associação de Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco (Asserpe) condenou o episódio e pediu resposta das autoridades. A Asserpe também solidarizou com o radialista Júnior Albuquerque e a Rádio Comunidade.
Confira a nota completa:
"A Asserpe condena o episódio de invasão de um estúdio de rádio na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, ocorrido nesta terça (6).
A Rádio Comunidade tinha programa apresentado pelo radialista Júnior Albuquerque. Segundo relatos, ele cobrava maior atuação do Governo Federal na pandemia e foi surpreendido por militantes políticos do presidente Jair Bolsonaro que invadiram os estúdios, o intimidaram e o ameaçaram.
O fato de tratar-se de emissora comunitária não associada não muda a posição de nossa entidade, por tratar-se de ameaça à liberdade de imprensa, a qual defendemos de forma altiva. Também porque abre um perigoso precedente que ameaça todos os veículos, inclusive comerciais.
A Asserpe espera resposta a altura em virtude da gravidade do incidente pelas autoridades que investigam o caso.
A Asserpe defende de forma intransigente a liberdade de imprensa conquistada pelos veículos de comunicação e condena todo ataque à esse direito fundamental.
Por fim, se solidariza com o radialista Júnior Albuquerque e à Rádio Comunidade, esperando que fatos como esses não se repitam."
Nota do Sinjope
O Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco também condenou o episódio. Confira a nota completa da entidade:
Agressões a jornalistas crescem no Brasil
De acordo com levantamento feito pela Fenaj, o Brasil registrou 428 casos de ataques a profissionais de imprensa em 2020. Este número é 105% maior do que as notificações do ano anterior. Entre os casos, foram registrados dois assassinatos.
Para a Fenaj, o agravamento dos números está relacionado à chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Sozinho, Bolsonaro foi responsável por 175 ataques. Foram 145 ataques genéricos e generalizados a veículos de comunicação e a jornalistas, 26 casos de agressões verbais, um de ameaça direta a jornalistas, uma ameaça à TV Globo e dois ataques à FENAJ.
Para a Fenaj, a postura de Bolsonaro incentiva os apoiadores do presidente a agredirem jornalistas. “Esse crescimento está diretamente ligado ao bolsonarismo, movimento político de extrema-direta, capitaneado pelo presidente Jair Bolsonaro, que repercute na sociedade por meio dos seus seguidores. Houve um acréscimo não só de ataques gerais, mas de ataques por parte desse grupo que, naturalmente, agride como forma de controle da informação. Eles ocorrem para descredibilizar a imprensa para que parte da população continue se informando nas bolhas bolsonaristas, lugares de propagação de informações falsas e ou fraudulentas”, disse Maria José Braga, presidenta da FENAJ, membra do Comitê Executivo da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) e responsável pela análise dos dados.