Transfobia

Mulher trans é esfaqueada até a morte no Agreste de Pernambuco; em um mês, esta é a terceira trans morta no Estado

Fabiana tinha 30 anos de idade. De acordo com primeiras informações, ela teria pedido para ir ao banheiro pouco antes de ser assassinada

Atualizada às 17h28
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Publicado em 07/07/2021 às 10:15
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Uma mulher trans foi brutalmente assassinada em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, na madrugada desta quarta-feira (7). Fabiana, de 30 anos de idade, foi morta com vários golpes de faca. Um suspeito de cometer o assassinato foi linchado pela população. Esta é a terceira trans morta no Estado em um mês. Além das vítimas que morreram, uma transexual foi queimada viva no centro do Recife e está internada em estado grave.

O crime desta quarta-feira aconteceu no bairro de Cruz Alta, nas margens da rodovia PE-160. A delegada Erica Feitosa, que investiga a morte de Fabiana, informou a veículos de imprensa que a vítima vivia na região, era “tranquila” e “não se envolvia em confusão”.

Segundo apuração da TV Jornal, havia um grupo bebendo. Antes de morrer, ela teria perguntado onde era o banheiro. Ao se aproximar do banheiro, ela foi surpreendida e esfaqueada. De acordo com os investigadores, Fabiana foi atingida em várias partes do corpo. "Não houve nenhuma possibilidade de defesa", disse a delegada Erica Feitosa.

Testemunhas ouviram os gritos de Fabiana e correram até o local. Chegando lá, espancaram um homem de 22 anos de idade, identificado como "Gaúcho", que é o principal suspeito de cometer o crime. O homem foi socorrido e levado para o Hospital da Restauração, no Recife. Ele está sendo custodiado pela polícia. Fabiana morreu no local. A polícia ainda não sabe o que motivou o ataque.

"Foram muitos golpes de faca, inclusive bastante profundos. Inclusive, o pescoço todo. Então, a vítima não tinha nenhuma possibilidade de defesa", disse a delegada.

"As pessoas relatam que Fabiana não se envolvia em confusão, não mexia com ninguém. Enquanto o autor, não era uma pessoa comumente vista na comunidade", acrescentou a delegada. Também de acordo com a delegada, câmeras de segurança da região podem ajudar nas investigações.

Terceira trans morta em menos de um mês

Fabiana é a terceira trans morta em Pernambuco em menos de um mês. Em junho, Kalyndra Nogueira da Hora foi encontrada morta dentro de casa. O principal suspeito é o companheiro da vítima. Além disso, na última segunda-feira (5), a cabeleireira Crismilly Pérola Bombom, de 37 anos, foi encontrada morta em uma rua do bairro da Várzea, zona oeste do Recife, com um tiro na nuca. A família acredita que a morte de Pérola tenha sido motivada por preconceito. Ninguém foi preso. Um mês antes de ser morta, a vítima já havia ficado ferida em um outro ataque transfóbico.

>>> Mãe de Pérola pede fim da LGBTfobia.

Mulher trans queimada viva no Recife

Além das vítimas que, infelizmente, morreram, outra trans ainda se recupera de um ataque cometido no final do mês de junho em Pernambuco. Roberta Silva, de 33 anos de idade, foi queimada viva nas proximidades do Cais de Santa Rita, no centro do Recife. Ela teve 40% do corpo queimado.

Por causa dos ferimentos, Roberta teve os dois braços amputados. Ela está entubada na UTI do Hospital da Restauração e o estado de saúde dela é considerado grave. Um adolescente de 17 anos foi apreendido suspeito de cometer o ataque.

Secretaria da Mulher de Pernambuco se pronuncia

Por meio de nota, a Secretaria da Mulher de Pernambuco informou que desde o caso de Roberta Silva a pasta "instituiu o Comitê de Prevenção e Enfrentamento da Violência LGBTFóbica para estruturar as ações de enfrentamento a essa violência". Além disso, a secretária Ana Elisa Sobreira estaria "acompanhando pessoalmente os casos das trans Kalindra (Recife), Roberta (Recife), Pérola (Recife) e Fabiana (Santa Cruz do Capibaribe).

Veja a nota completa:

"A Secretaria da Mulher de Pernambuco (SecMulher-PE) desenvolve um trabalho de acompanhamento e prevenção dos crimes cometidos contra as mulheres, por meio da Câmara Técnica para o Enfrentamento da Violência de Gênero - do Pacto pela Vida. Desde o último dia 24 de junho, quando a trans Roberta, 33 anos, teve 40% do corpo queimado, crime que chocou a sociedade pelo requinte de crueldade do acusado, a SecMulher-PE, instituiu o Comitê de Prevenção e Enfrentamento da Violência LGBTFóbica para estruturar as ações de enfrentamento a essa violência.

As instituições que compõem o comitê estão trabalhando de forma integrada para capacitar, assessorar, mobilizar e criar ações, em articulação com os municípios, oferecendo prevenção, acolhimento às vitimas e punição aos agressores. O comitê conta com as secretarias estaduais da Mulher; Desenvolvimento Social, Criança e Juventude; Saúde; e Educação e Esportes; Coordenadoria LGBT de Pernambuco; Secretaria da Mulher do Recife; Centro de Referência Clarice Lispector; Saúde da População LGBT de Jaboatão; SDS – GT Racismo da Polícia Civil; Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBT; Gerencia da Livre Orientação Sexual; Centro de Combate a Homofobia; Secretaria de Saúde do Recife; Coordenação Estadual de Saúde LGBT, entre outros órgãos. A Rede de Enfrentamento da Violência contra as Mulheres do Estado de Pernambuco, atualmente com 597 equipamentos, dará reforço ao comitê.

Outra iniciativa da SecMulher-PE para o enfrentamento da violência LGBTFóbica será uma capacitação, no próximo dia 13 de julho, com a equipe de teleatendentes da Ouvidoria da Mulher de Pernambuco (0800-281-81-87), 12 coordenadoras regionais da SecMuher-PE, servidoras e servidores e as coordenadorias e secretarias dos municípios, com o tema “Dialogando o Enfrentamento à Lesbofobia, Bifobia e Transfobia”. A capacitação antecede uma campanha que será lançada este mês, com cartazes afixados nos ônibus, metrôs, equipamentos públicos e demais locais de acesso à população da Região Metropolitana do Recife e do interior de Pernambuco.

A secretária da Mulher de Pernambuco, Ana Elisa Sobreira, ressalta que vem acompanhando pessoalmente os casos das trans Kalindra (Recife), Roberta (Recife), Pérola (Recife) e Fabiana (Santa Cruz do Capibaribe), e que esse conjunto de ações será praticado de forma efetiva e permanente até que nenhuma mulher sofra violência ou seja morta pela sua condição de gênero ou orientação sexual."