Quadrilhas altamente armadas sitiam cidades e promovem crimes em diferentes partes do país. Em um dos episódios de maior repercussão, ocorrido em Araçatuba, no interior de São Paulo, reféns foram usados como escudos humanos, ao menos três pessoas foram mortas e quatro ficaram feridas.
Só no estado de São Paulo, foram ao menos seis cidades atacadas, em pouco mais de um ano, pelo chamado "novo cangaço" foi registrado. Além disso, Criciúma (SC) e Cametá (PA) tiveram relatos de modos de atuação similares, no ano passado.
As práticas desses grupos armados, que entram nas cidades e aterrorizam parte da população, saíram do Nordeste para se espalhar pelo país, especialmente pelas regiões Sul e Sudeste. A expressão do "novo cangaço" apareceu nos anos 1990, em referência a assaltos praticados em municípios nordestinos.
O termo ganhou repercussão, após gangues altamente armadas atacarem cidades de pequeno e médio porte, visando sobretudo a assaltar bancos, lojas de luxo e instituições financeiras.
"O termo tem apelo midiático. Muitos cangaceiros formavam bandos para vingar a morte de familiares assassinados por fazendeiros e coronéis, que, por sua vez, também tinham seus bandos, os quais cometiam atrocidades, tomavam terras", afirma o jornalista Válter Xéu, que vive em Salvador.
Essa bandidagem atual não se inspirou no cangaço e, provavelmente, nem deve saber do que se trata. O que eles querem é dinheiro para comprar drogas e armas. É inapropriada a comparação", avalia o jornalista.
O policial civil Pedro Paulo Chaves Mattos, que atua no Rio Grande do Norte, diz que o neologismo já foi incorporado para descrever episódios desse tipo, como o ocorrido em Araçatuba. "A expressão já está difundida no meio, embora ainda a maneira mais comum de chamar esses grupos seja por quadrilha ou bandos", diz.
Ele diz que, apesar da melhora em alguns indicadores de segurança pública, falta ao Governo Federal um projeto nacional. "A diminuição nos homicídios se deve sobretudo ao cessar-fogo pactuado entre facções criminosas que atuam no país e, inclusive, preferem agir assim para não chamar a atenção", afirma.
Desde 2000, a professora Jania Perla Diógenes de Aquino, da Universidade Federal do Ceará, estuda a característica dos principais assaltos a bancos. Ela mapeou ao menos 30 ações, desde 2018, somente no estado de São Paulo.
Esse fenômeno, que já rompeu as divisas do Nordeste, vem unindo antigas práticas do banditismo a uma crescente profissionalização do crime. Os cangaceiros de antes dão lugar a quadrilhas interestaduais, com forte planejamento nas ações e equipamentos suficientes para subjugar polícias locais.
O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima chama a atenção para impactos políticos.
"Em política, mesmo as coincidências chamam a atenção. O ataque em Araçatuba, com táticas e armas de guerra, foi no mesmo dia em que a base do governo concluiu um parecer favorável à aprovação do perigoso PL 'Antiterrorismo'. Mais combustível em uma semana já tensa", afirmou.
"Atacar Araçatuba, que em razão da concentração de presídios na região tem estrutura policial reforçada, foge do padrão do 'novo cangaço'. Mas a Polícia Militar do Estado de São Paulo e a Polícia Civil têm policiais experientes que logo deverão esclarecer o crime", complementou.
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