guerra no leste europeu

GUERRA NA UCRÂNIA: Rússia se aproxima de Kiev e arrasta Mariupol para uma catástrofe humanitária

Tanto as autoridades ucranianas quanto as russas qualificaram a situação humanitária de várias cidades como "catastróficas"

Elton Ponce
Elton Ponce
Publicado em 12/03/2022 às 19:48 | Atualizado em 12/03/2022 às 19:55
Notícia
Dimitar DILKOFF / AFP
Evacuados atravessam uma ponte destruída enquanto fogem da cidade de Irpin, em Kiev - FOTO: Dimitar DILKOFF / AFP

As forças russas apertaram o cerco a Kiev neste sábado (12) e bombardearam áreas civis de outras cidades ucranianas, como Mikolaiv e Mariupol, em uma situação humanitária desesperadora após quase duas semanas de sítio.

Tanto as autoridades ucranianas quanto as russas qualificaram a situação humanitária de várias cidades como "castróficas".

Bombardeios russos destruíram neste sábado o aeroporto de Vasylkiv, cerca de 40 km ao sul de Kiev, onde um depósito de gasolina pegou fogo, informou o prefeito da cidade.

Os subúrbios do noroeste da capital, como Irpin e Busha, levam dias sob bombardeios russos, enquanto os blindados de Moscou avançam pelo eixo do nordeste.

O conselheiro da presidência ucraniana, Mikhailo Podolyak, afirmou que Kiev "está sitiada" e que as tropas russas também concentram seus esforços em Mariupol e várias outras localidades do centro do país.

Os serviços de Inteligência ucranianos informaram neste sábado que sete pessoas, entre elas uma criança, morreram na sexta-feira em um ataque russo, enquanto eram evacuadas do povoado de Peremoga, perto de Kiev.

.

GENYA SAVILOV / AFP
Veículo militar queimado em um posto de controle na cidade de Brovary, nos arredores de Kiev - GENYA SAVILOV / AFP

"Os ocupantes abriram fogo contra um grupo de civis, composto exclusivamente por mulheres e crianças", informou a Inteligência ucraniana no Facebook. 

Em Mariupol, cidade portuária estratégica às margens do Mar de Azov, o cerco estabelecido há doze dias isolou seus moradores do resto do mundo, privando-os, ainda, de água, gás e energia elétrica.

É uma situação "quase desesperadora", advertiu a organização Médicos sem Fronteiras (MSF), dois dias depois de um representante do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) reportar brigas por comida.

"As tropas russas não deixaram nossa ajuda entrar na cidade", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, prometendo que vai tentar novamente enviar provisões.

"Mariupol sitiada é atualmente a pior catástrofe humanitária do planeta. São 1.582 civis mortos em 12 dias, enterrados em valas comuns como esta", disse o chefe da diplomacia da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em um tuíte acompanhado de uma foto de uma vala com cadáveres.

.

Aris Messinis / AFP
Centro de pediatria depois que a unidade foi transferida para o porão do hospital que está sendo usado como abrigo antiaéreo, em Kiev - Aris Messinis / AFP

O general Mikhail Mizintsev, do Centro de Controle de Defesa Nacional russo, admitiu que "a situação humanitária na Ucrânia continua se deteriorando rapidamente e em algumas cidades alcançou proporções catastróficas".

Mas atribuiu o drama aos "nacionalistas" ucranianos, acusando-os de instalar minas em áreas residenciais, de destruir infraestruturas e de reter a população civil, particularmente em Mariupol.

O Ministério Ucraniano de Relações Exteriores informou neste sábado que as forças russas bombardearam a mesquita do sultão Soliman de Mariupol, mas o presidente da associação desta mesquita, Ismail Hacioglu, explicou em seguida que o templo não foi atingido pelos ataques contra o bairro onde se encontra.

Hacioglu informou que dentro da mesquita havia trinta cidadãos turcos, "inclusive crianças", e que sua associação tinha tentado evacuá-los em quatro ocasiões, sem sucesso.

Em Mikolaiv, 200 km a nordeste de Mariupol, os bombardeios provocaram um incêncio em um hospital e muitos moradores tiveram que fugir, informou um jornalista da AFP.

"Estão atacando áreas civis, sem nenhum alvo militar", disse o diretor do hospital, Dmytro Lagochev.

 

 

O Pentágono estimou em 8 de março que as tropas russas, confrontadas a uma dura resistência, tinham perdido entre 2.000 e 4.000 soldados.

Zelensky estimou neste sábado que "ao redor de 1.300 militares" ucranianos morreram desde o início da invasão ucraniana, em 24 de fevereiro, e que o exército russo tinha perdido "ao redor de 12.000 homens", sem dar detalhes destes balanços.

Em 2 de março, o exército russo (que mobilizou cerca de 150.000 soldados) afirmou ter perdido 500 soldados, um número que não atualizou desde então.

A crise humanitária levou cerca de 2,6 milhões de ucranianos ao exílio, aos quais se somam cerca de dois milhões de deslocados, segundo a ONU.

O maior êxodo tem sido para a Polônia, que recebeu 1,5 milhão de pessoas, segundo os serviços fronteiriços daquele país. 

O presidente russo, Vladimir Putin, acusou as forças ucranianas de "violações flagrantes" do direito humanitário, como "assassinatos de opositores", "tomada de reféns por parte de civis" e seu "uso como escudos humanos".

Ele fez as acusações durante uma conversa por telefone com o presidente francês, Emmanuel Macron, e o chefe de governo alemão, Olaf Scholz, aos quais pediu para pressionar Kiev para que dê um fim a estes atos.

Mas a Presidência francesa afirmou que estas acusações eram "mentiras". 

Durante uma coletiva de imprensa, Zelensky destacou neste sábado que a Rússia adotou uma "abordagem fundamentalmente diferente" nas negociações para pôr fim ao conflito.

Segundo o presidente ucraniano, Moscou não se limita mais a "dar ultimatos". Ao contrário, Zelensky disse que se sentia "feliz de receber um sinal da Rússia", depois de o presidente russo afirmar ter havido "passos positivos" nas últimas negociações bilaterais.

Na quinta-feira, a Turquia acolheu as primeiras negociações entre os ministros de Assuntos Exteriores russo e ucraniano desde o início da invasão.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse neste sábado às agências de notícias russas que as conversas entre as delegações russa e ucraniana "continuam" por videoconferência, sem dar maiores detalhes. 

Os Estados Unidos e seus aliados ocidentais continuam pressionando economicamente Moscou, abrindo a porta a tarifas alfandegárias punitivas e diminuindo o comércio com o país.

O ministro da Economia da Alemanha informou neste sábado que seu país quer prescindir do petróleo russo até o fim do ano e do carvão no outono no hemisfério norte.

Atualmente, a Alemanha importa da Rússia um terço de seu petróleo e quase 45% de seu carvão, segundo estatísticas governamentais. Em relação ao gás, em 2020 representava algo mais de 50%.

As autoridades italianas anunciaram ter apreendido um iate no valor de 578 milhões de dólares, pertencente ao oligarca russo Andrei Melnichenko, incluído na lista de pessoas sancionadas pela União Europeia (UE).

Além da pressão econômica, os países ocidentais enviaram material militar à Ucrânia, mas evitam um confronto direto entre a Otan e Moscou que, nas palavras do presidente americano, Joe Biden, provocaria "a Terceira Guerra Mundial".

Um material enviado em comboios que, segundo advertiu a Rússia neste sábado, poderia ser atacado.

GENYA SAVILOV / AFP
Veículo militar queimado em um posto de controle na cidade de Brovary, nos arredores de Kiev - FOTO:GENYA SAVILOV / AFP
Aris Messinis / AFP
Centro de pediatria depois que a unidade foi transferida para o porão do hospital que está sendo usado como abrigo antiaéreo, em Kiev - FOTO:Aris Messinis / AFP