O cantor e compositor Neguinho da Beija-Flor foi atacado por uma colunista da rádio Jovem Pan nessa quarta-feira (30). Identificada como Zoe Martinez, a mulher branca disse que o artista é "negro de uma forma que, na escuridão, você só vê a gengiva".
O comentário racista foi feito exatamente no dia em que Neguinho da Beija-Flor completava 73 anos de idade. A mulher defendia o ex-piloto Nelson Piquet que fez comentários racistas contra Lewis Hamilton, quando aproveitou a oportunidade para também atacar o sambista.
A fala racista de Zoe foi feito ao vivo e pode ser usado como prova, caso Neguinho decida mover um processo judicial contra a colunista e a Jovem Pan.
Beija-Flor repudia comentário racista
Ainda na quarta-feira (30), a Beija-Flor divulgou um comunicado no qual repudia o ataque racista de Zoe Martinez.
"Neguinho não escapa do racismo. Nem aos 73. Nem no dia do próprio aniversário. Por isso, a Beija-Flor de Nilópolis vem a público repudiar as recentes menções ao artista em redes sociais e programa de rádio", diz a nota.
"Usuários [de redes sociais] utilizaram erroneamente o nome de Neguinho da Beija-Flor para tentar amenizar a declaração do ex-piloto brasileiro". "O mesmo foi feito na terça pela apresentadora Zoe Martínez. Elevando o grau do equívoco cometido por internautas, a profissional disse ao vivo: 'Então, o Neguinho da Beija-Flor também é, né? Racista. E olha que ele é negro, negro, assim... que na escuridão a gente só vê a gengiva'. As frases de Zoe Martínez revoltam e causam repugnância em familiares e admiradores do aniversariante do dia", acrescenta a nota.
"O sentimento é o mesmo na escola em que ele construiu a brilhante carreira, reconhecida nacional e internacionalmente. Ninguém tem licença para falar por Neguinho da Beija-Flor. Para presumir ou ironizar sua postura diante da intolerância. Para sugerir que ele tenha sido condescendente ao assumir uma identidade que ressignifica um modo preconceituoso de falar. Para embasar essa falsa percepção a partir da aparência do cantor", diz também o comunicado.
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A Beija-Flor também lembra que Neguinho "sempre utilizou o espaço conquistado para batalhar pela inclusão de pessoas negras na sociedade brasileira".
A escola de samba disse que o compositor e cantor canta versos para falar sobre cultura e religiões afro. "A ocasião mais recente em que essa postura ficou nítida foi na folia deste ano, em abril, quando coube a Neguinho a tarefa de cantar com maestria o samba-enredo Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor".
"Uma mensagem antirracista que se mostra ainda mais necessária diante daqueles que utilizam o apelido do sambista para justificar uma fala racista, feita por uma figura de grande alcance midiático".
Antes de "Neguinho da beija-Flor", o artista era chamado de "Neguinho da Vala". "Era nos buracos da favela, com esgoto corrente que ele, ainda criança, caçava rãs, muçuns e cascudos --daí o reconhecimento entre aqueles com quem convivia", explica a nota.
"Como Neguinho, muitas outras crianças pretas e pobres ainda se divertem da mesma maneira. Em Nilópolis, elas ao menos crescem ao som da voz do cantor e incentivadas pelo exemplo dele. Não é assim no restante do Brasil", destacou a Beija-Flor.
A escola também disse que espera um pedido de desculpas e finalizou a nota parabenizando Neguinho da Beija-Flor. "A ele, nossa escola deseja muito mais anos de vida, música, reconhecimento e luta", concluiu.
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