Centro de polêmicas relacionadas às ilegais obstruções de estradas por bolsonaristas que não aceitam a vitória de Lula para presidente, o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, já foi processado pelos crimes de ameaça de morte, espancamento e corrupção. Na corporação, respondeu a oito sindicâncias internas, mas o teor das investigações é protegido por um sigilo de 100 anos decretado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Silvinei Vasques entrou na PRF em 1995 e tem graduações nas áreas de Direito, Economia, Administração e Segurança Pública. Ele chegou ao posto máximo da corporação em abril de 2020, após ser indicado pelo senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do atual presidente da República. Dias antes do segundo turno das eleições 2022, Silvinei publicou em uma rede social um pedido de votos em Bolsonaro e apagou a postagem em seguida.
PROCESSOS
Em outubro de 2000, Silvinei Vasques espancou o frentista de um posto de gasolinas na cidade de Cristalina, em Goiás. De acordo com relato da vítima, a agressão aconteceu depois que o policial pediu para que seu carro fosse lavado e foi informado de que o estabelecimento não tinha aquele serviço, segundo apuração da CNN Brasil.
Na ocasião, de acordo com as investigações, Silvinei desferiu chutes e socos contra o trabalhador. O processo também conta com laudos médicos que confirmam as agressões.
Por causa desse processo, um processo disciplinar interno foi aberto e, em 2006, chefe da divisão de coordenação de assuntos disciplinares, Josina Soares de Oliveira, sugeriu que Silvinei Vasques fosse demitido da PRF.
“Opina no sentido da penalidade de demissão do policial rodoviário Silvinei Vasques”, registra o documento interno ao qual a CNN teve acesso. A penalidade não foi aplicada por prescrição.
"Tiro na testa"
De acordo com apuração da revista Piauí, Silvinei Vasques também já foi investigado por cobrar propina de uma empresa especializada em guincho que gostaria de operar em Joinville, em Santa Catarina.
O inquérito registrou que o PRF chegou a ameaçar um dos chantageados "com um tiro na testa", já que "não tinha [nada] a perder". O caso também prescreveu.
Ainda segundo a Piauí, ao longo da carreira na PRF, Silvinei Vasques respondeu a oito sindicâncias internas. Os detalhes desses processos, no entanto, estão protegidos por um decreto de sigilo de 100 anos estabelecido pelo presidente Jair Bolsonaro.
Operação da PRF no 2º turno
De acordo com reportagem do jornal O Estado de São Paulo, a operação da PRF que parou veículos durante o 2º turno da eleição, no dia 30 de outubro, atrasando a chegada de eleitores às seções eleitorais, foi determinada pelo Palácio do Planalto, como forma de atrapalhar a chegada de eleitores do PT às urnas eletrônicas.
Em 26 de outubro, Silvinei Vasques se encontrou com João Henrique de Freitas, chefe da assessoria especial do presidente da República. No dia 28, o diretor-geral da PRF também se encontrou com Anderson Torres, o ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Não se sabe o que foi debatido nos encontros.
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Segundo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, as operações não impediram que nenhum eleitor chegasse à sua seção eleitoral para votar.
MPF pede que PF investigue Vasques
Nos bloqueios ilegais de caminhoneiros bolsonaristas em rodovias federais, Silvinei Vasques está sendo acusado pelos apoiadores de Lula de estar sendo leniente com as pautas antidemocráticas.
O Ministério Público Federal, então, pediu que a Polícia Federal abra um inquérito para investigar Silvinei Vasques. A suspeita é de que ele tenha cometido crimes de prevaricação ou conivência com os atos antidemocráticos.
"O inquérito policial deverá investigar se os bloqueios de veículos realizados pela PRF em várias estradas, principalmente na região Nordeste, no dia da votação, respeitaram a legislação e se não constituíram ofensa ao livre exercício do direito de voto pelos cidadãos abordados", diz o MPF, segundo o jornal O Globo.
"A investigação requisitada pelo MPF neste feriado também verificará se houve omissão do Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal em relação aos bloqueios criminosos de rodovias que estão ocorrendo em todo o país desde a divulgação do resultado das eleições. É que o fato pode caracterizar os crimes de prevaricação (art 319) e participação por omissão nos crimes praticados pelos invasores das rodovias (arts. 359-L e 359-M do Código Penal)", acrescenta o ofício enviado à Superintendência da PF.
"As condutas do diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, ao descumprir a decisão do TSE e realizar operações policiais que teriam impedido o deslocamento de eleitores, pode caracterizar os crimes previstos nos artigos 319 e 330 do Código Penal. A conduta do diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, ao deixar de orientar as ações da instituição para o exercício de suas atribuições, no sentido de impedir o bloqueio das rodovias federais pode caracterizar o crime do artigo 319 do Código Penal", diz o documento.
Até a última atualização desta reportagem, não havia informação sobre se a PF acatou o pedido do MPF.
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