Apologia ao Nazismo

Em Pernambuco, suásticas são pichadas ao lado da palavra "mito" em paredes de assentamento do MST

Testemunhas relatam que suspeitos são quatro homens que vestiam camisas amarelas; casa de coordenadora também foi alvo de incêndio; suásticas foram pichadas em centro de formação que leva o nome de Paulo Freire

Gabriel dos Santos
Gabriel dos Santos
Publicado em 14/11/2022 às 12:11 | Atualizado em 16/11/2022 às 8:38
Notícia
TV Jornal Caruaru
Suásticas e a palavra "mito" foram pichados em assentamento MST em Caruaru, no último sábado (12 de novembro) - FOTO: TV Jornal Caruaru

Um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi alvo de um incêndio e de pichações em Caruaru, no Agreste pernambucano. Nas paredes, os criminosos desenharam suásticas e escreveram a palavra "mito" várias vezes. Até o momento, ninguém foi preso.

O crime aconteceu na madrugada do último sábado, 12 de novembro. Membros do MST relataram que os suspeitos de cometerem as pichações são quatro homens que foram vistos dentro do assentamento. Eles vestiam camisas amarelas, segundo as testemunhas. 

As suásticas foram pichadas nas paredes do Centro de Formação Paulo Freire e são símbolo do movimento Nazista, que matou milhares de judeus na Europa na primeira metade do século XX.

"Mito" é como o presidente da República, Jair Bolsonaro, é chamado por alguns apoiadores. 

Lideranças veem clara motivação política em ataque

A casa da coordenadora do centro de formação também foi incendiada durante o ataque. Moradores da região contiveram as chamas e ninguém ficou ferido, embora a casa tenha sido parcialmente destruída. 

"Para a gente foi um ato bolsonarista, que se repete em todo o Brasil. Agora, veio para Pernambuco e se repetiu com todas as pichações como vocês estão vendo", disse uma das lideranças do MST, em entrevista à TV Jornal de Caruaru. 

"A gente repugna essa ação. Já procuramos a Justiça. A perícia já foi feita no local. A gente defende a democracia, um país democrático para todos nós", completou.  

No momento do crime, havia uma festa em um parque de vaquejada localizado em frente ao assentamento. O MST acredita que os criminosos aproveitaram que os moradores da região estavam distraídos com a festa para atacar o local.

Nesse ataque, a pichação das suásticas pode configurar, a depender das conclusões dos investigadores, crime de apologia ao Nazismo, que, no Brasil, é inafiançável.

Polícia Civil investiga

Em nota, a Polícia Civil informou que já abriu um inquérito para investigar os crimes. "A PCPE informa que registrou no dia 12.11, através da 14a Delegacia seccional de Caruaru, uma ocorrência de incêndio doloso na zona rural do município. Um inquérito policial foi instaurado e outras informações poderão ser repassadas após a completa elucidação dos fatos", disse o texto enviado pela assessoria de imprensa da Polícia Civil local. 

* Com informações de Karol Matos, da TV Jornal Caruaru.

Comunidade judaica acompanha situação

Coordenador de comunicação da Federação Israelita de Pernambuco, Jáder Tachlitsky, cobrou uma apuração séria sobre o caso.

"Isso se verificou em outros estados, agora em Pernambuco. Amanhã onde será? É fundamental que isso não caia no vazio. É imperativo que as autoridades ajam com o máximo rigor para apurar os responsáveis e puni-los na forma da lei", disse Tachlitsky.

"A comunidade judaica de todo o país está alerta, através de sua representação nacional, a Confederação Israelita do Brasil. Uma parcela de nossa comunidade é formada por descendentes de vítimas do Holocausto. Somos parte da sociedade brasileira e estamos comprometidos com a estabilidade democrática de nosso país e com a prevenção aos discursos e ações de ódio", acrescentou. 

Na semana passada, judeus de todo o mundo lembraram os 84 anos da "Noite dos Cristais", como ficou chamado um dos eventos mais mortais do Nazismo. Na avaliação de Jáder Tachlitsky a educação é o meio para que a sociedade não se esqueça do horror já registrado em outros períodos históricos. 

"Para enfrentar essa situação a educação é o grande antídoto. Necessitamos trabalhar junto às novas gerações para que aprendam as lições da história. Para que sejam “vacinadas” contra os discursos que pregam o ódio, a intolerância, a segregação. É um dever de toda a sociedade transformar cada escola num bastião de defesa da liberdade e da vida harmônica entre todos os segmentos da sociedade", afirmou. 

Comentários