Operação da PF

Saiba como a Polícia Federal encontrou R$ 30 mil entre as nádegas do vice-líder do governo no Senado

Chico Rodrigues teria escondido o dinheiro na cueca durante abordagem policial; o senador foi alvo de operação da PF

Carol Coimbra
Carol Coimbra
Publicado em 15/10/2020 às 8:32
Pedro França/Agência Senado
FOTO: Pedro França/Agência Senado

Durante uma operação sigilosa que investiga desvios de recursos públicos destinados ao combate a pandemia do coronavírus, vindos de emendas parlamentares, a Polícia Federal encontrou dinheiro escondido dentro da cueca do vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR) nesta quarta-feira (14) em Boa Vista, capital de Roraima. O vice-líder do governo Jair Bolsonaro foi alvo da operação e escondeu a quantia entre suas nádegas enquanto os policiais realizavam abordagem. A ordem de busca e apreensão tinha autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso.

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, que contou com apuração de duas fontes que tiveram acesso a informações da investigação, o valor encontrado na cueca do parlamentar foi de R$ 30 mil. No total, a quantia encontrada na casa do senador se aproximava de R$ 100 mil.

Essa investigação apura indícios de irregularidades em contratações feitas com dinheiro público, que teriam gerado sobrepreço em torno de R$ 1 milhão.

Informações da PF

Os informes oficiais da PF, devido ao caso ser sigiloso se limitam a informações de que foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão durante a operação, em Boa Vista. Operação essa que busca a "desarticulação de possível esquema criminoso voltado ao desvio de recursos públicos, oriundos de emendas parlamentares".

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Desvid-19

A operação Desvid-19, realizada em Roraima, apura o "desvio de recursos públicos por meio do direcionamento de licitações", segundo informações da Controladoria-Geral da União (CGU), que também faz parte da investigação.

De acordo a CGU, as contratações suspeitas de irregularidades, realizadas no âmbito da Secretaria de Estado da Saúde, envolveriam aproximadamente R$ 20 milhões que deveriam ser utilizados no combate ao novo coronavírus.

Jair Bolsonaro

A operação que mirou o senador foi realizada no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro disse que daria uma "voadora no pescoço" de quem se envolver em corrupção.

A expressão foi dita uma semana depois de o presidente ter afirmado que a Lava Jato acabou porque, segundo ele, “não há casos de irregularidades em sua gestão”.

A promessa também foi feita no momento em que Bolsonaro vem sendo criticado por militantes e por lavajatistas que apontam o enfraquecimento da pauta anticorrupção no governo.

Leo Índio

Léo Índio, primo dos filhos do presidente da república trabalha como assessor parlamentar no seu gabinete de Chico Rodrigues no Senado. Léo Índio é bastante íntimo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e é conhecido por ter livre trânsito no Palácio do Planalto.

De acordo com auxiliares de Bolsonaro ouvidos sob reserva pelo jornal O Estado de S. Paulo no Palácio do Planalto, Rodrigues deve deixar o cargo de vice-líder do governo. O motivo seria que a imagem de Bolsonaro por manter o senador nesse posto depois do escândalo poderia ficar suja. A expectativa é a de que o próprio parlamentar entregue o cargo.

Resposta do senador

Em nota à imprensa, Rodrigues disse que tem "um passado limpo e uma vida decente" e afirmou nunca ter se envolvido em escândalos. "Acredito na justiça dos homens e na justiça divina. Por este motivo estou tranquilo com o fato ocorrido hoje em minha residência em Boa Vista, capital de Roraima. A Polícia Federal cumpriu sua parte em fazer buscas em uma investigação na qual meu nome foi citado. No entanto, tive meu lar invadido por apenas ter feito meu trabalho como parlamentar, trazendo recursos para o combate ao Covid-19 para a saúde do Estado", disse ele.

O senador contou ainda que, ao longo de 30 anos na política, conheceu "muita gente mal intencionada", a fim de macular sua imagem. "Ainda mais em um período eleitoral conturbado como está sendo o pleito em nossa capital", afirmou.

Caso André do Rap

Durante o julgamento do caso do traficante André do Rap, o ministro Luís Roberto Barroso fez uma menção à operação realizada pela Polícia Federal.
O ministro afirmou que estava monitorando o cumprimento de mandados de busca e apreensão que envolviam uma autoridade com foro no Supremo, sem revelar quem era "Desviar dinheiro da saúde em plena pandemia é mais do que corrupção e chega bem próximo do assassinato. Devemos ter em conta que isso não é aceitável. Precisamos continuar no esforço de desnaturalização das coisas erradas no Brasil", falou o ministro.