Com a pandemia do novo coronavírus no mundo, a orientação é manter um distanciamento social e permanência das famílias em suas casas. O nível de tensão que a situação estimula potencializa diversos problemas já existentes, inclusive, a violência doméstica contra mulheres e crianças. A experiência chinesa demonstra que o número de denúncias triplicou nos três meses de quarentena a que foram impostos os cidadãos daquele país. Segundo uma ONG de Defesa da Mulher na China, algumas medidas foram tomadas para ajudar mulheres a pedirem ajuda durante o período de isolamento.
Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) indicam que na justiça do Brasil ocorrem mais de um milhão de processos relacionados à Lei Maria da Penha. A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou na última semana em seu canal no Twitter que o período de isolamento durante a pandemia do novo coronavírus pode aumentar a incidência de violência doméstica no país. Na publicação, ela pediu ajuda para divulgar o disque 180 para violações contra as mulheres e o disque 100 para casos que envolvem crianças e idosos.
Preciso que todos vocês compartilhem o máximo possível o Ligue 180 (para violações contra mulheres) e o Disque 100 (no caso de agressões a crianças, idosos, etc). Nesse período em que teremos mais pessoas em casa há um risco maior. Me ajudem.https://t.co/n1TzU7Rwoa
— Damares Alves (@DamaresAlves) March 20, 2020
A coordenadora da executiva nacional do Movimento Mulheres em Luta, Marcela Andrade, afirma que a situação é preocupante. "Infelizmente essa é uma realidade com números gigantescos no mundo todo que acabam se combinando com as mazelas dessa nova pandemia que estamos vivendo. Tivemos alguns índices que apontam para esse problema e recentemente saiu uma pesquisa do Rio de Janeiro que aponta um crescimento de 50% no número de denúncias nos casos de violência doméstica no plantão jurídico que está sendo garantido", lamentou.
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Marcela também destaca que falta uma atuação e políticas mais efetivas do governo para evitar que os casos se elevem. Ela defende uma campanha para exigir que sejam implementadas medidas para conter o avanço da violência doméstica. "Não há dúvida que as políticas são muito escassas. No ano passado, o governo Bolsonaro não investiu nenhum centavo na rede de atenção às mulheres vítimas de violência. Neste ano, a Secretaria de Mulheres sofreu um corte significativo no seu orçamento. Essa negligência que vem de anos vai se expressar como consequência dessa pandemia e desse momento crítico que o mundo vem vivendo", disse.
ONU Mulheres
Nesta semana, a ONU Mulheres elaborou um documento sobre os possíveis impactos da crise gerada pelo Covid-19 para as mulheres. Entre eles, está o aumento da violência de gênero. A entidade avalia que o impacto econômico da pandemia pode criar barreiras adicionais para deixar alguns homens mais violento.
A entidade também recomenda que o governo garanta a continuidade dos serviços essenciais para responder à violência contra mulheres, desenvolvendo novas modalidades de prestação de serviços no contexto atual. Além disso, a entidade defende que é necessário aumentar o apoio às organizações especializadas de mulheres para fornecer serviços de apoio nos níveis local e territorial.