PANDEMIA

Infectologista alerta que coronavírus tem transmissão muito maior do que H1N1

O infectologista comparou o impacto da pandemia do H1N1 com a do coronavírus e defendeu os bloqueios para evitar a propagação do vírus

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 26/03/2020 às 18:00
Marcello Casal Jr/ AgÊncia Brasil
FOTO: Marcello Casal Jr/ AgÊncia Brasil

O médico infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Felipe Prohaska, comparou a pandemia do coronavírus com a do H1N1 e apontou que a velocidade de transmissão do novo vírus tem sido “muito maior”. Ele defende as medidas de bloqueio como forma de barrar a transmissão.

“A velocidade de transmissão do coronavírus tem sido muito maior do que H1N1 e isso tem aterrorizado a todos (...) Com essa velocidade de contágio que o corona tem você pode ter uma mortalidade, em números absolutos, que seja comparado ou até superior [a do H1N1]. Esse período prolongado de sintomas [do coronavírus], que é a grande dificuldade. A influenza você tem transmissão, geralmente, por cinco a sete dias e o coronavírus a gente tem esse registro de 14 dias. Ou seja, às vezes um período três vezes maior e contaminando bem mais pessoas”, alertou o especialista.

O médico lembra que na época da pandemia de H1N1 a falta de medidas para minimizar a propagação do vírus foi determinante para a proporção que o vírus tomou. “A grande diferença nessa questão do coronavírus é que ninguém quer reviver um surto pandêmico como foi a H1N1 em 2009. Foi muito criticada [à época] a falta de medidas de isolamento e bloqueio até chegar a vacina [de H1N1]. Até a vacina ser disponível, a doença poderia ter sido minimizada para não ter tido tantas mortes. E é essa mudança de política hoje que a OMS [Organização Mundial da Saúde] está tendo com o coronavírus”, detalhou. “Esse bloqueio radical precisa de um período para dar tempo da vigilância sanitária, epidemiológica e da estrutura hospitalar terem condições de absorver isso de uma forma programada”, completou.

Ele fala sobre a operação que o Estado tem montado para atender os pacientes. “Aqui em Pernambuco, estão sendo criados vários leitos de UTI para quando a epidemia chegar com força termos um serviço de saúde pronto para absorver. Senão vamos repetir os mesmos erros da H1N1”, afirmou.

Felipe Prohaska lembra que o bloqueio não será permanente, mas aponta que os grupos de risco precisarão adotar algumas medidas. “A vida vai ter que voltar ao normal, se é que podemos chamar de normal. Porém, provavelmente, nós devemos continuar com bloqueio vertical. Isso quer dizer que os idosos, que são as principais vítimas desse vírus, eles vão ter que ter o isolamento social diferenciado comparado ao restante da população”, destacou.

H1N1

Em 2019, o Brasil notificou 3.430 casos de H1N1. Apenas casos graves acabam sendo notificados, pois a imensa maioria dos infectados nem recorre a serviços médicos. Desses, 796 pessoas morreram. isso dá à gripe H1N1 uma taxa de letalidade de 23,2% no Brasil em 2019.

No Brasil, o novo coronavírus, em apenas um mês, já causou 57 mortes e 2.433 casos confirmados. Só em Pernambuco, houve 2 novos óbitos por conta da Covid-19 entre esta quarta (25) e quinta-feira (26).

“A H1N1 entrou pandemicamente em 2009, 11 anos atrás. Nós começamos a ter os primeiros casos, muito concentrados no México, onde foi o maior epicentro, e depois [a doença] disseminou para outras regiões. O Brasil foi acometido naquele surto entre 2009 e 2010 e a H1N1 tinha a perspectiva de mortalidade alta, pegava muito idoso, criança e, principalmente, gestante, com uma agressividade com gestante muito grande. Houve uma instituição de políticas e medidas, mas houve muitos óbitos e muitos casos (...) Com a vacina a gente teve o controle da pandemia na época, que durou em torno de 12,14 e 16 meses”, relembrou o infectologista.

No entanto, ele afirma que ainda há muito óbitos causados pela H1N1 no Brasil, mesmo com a vacina. “De 2009 até 2020, a H1N1 é uma constante no número de óbitos no País. Isso se deve a nossa baixa adesão à vacinação. Apesar da gente ter a vacina disponível de forma gratuita para os grupos de risco, ultimamente tem tido uma baixa procura e isso tem viabilizado a permanência do H1N1 todos anos com altos índices de mortalidade, inclusive superior ao que a gente vai encontrar agora com o coronavírus”, finalizou.

Vacinação

A campanha de vacinação do Ministério da Saúde teve início na última segunda-feira (23). Nesta primeira etapa os públicos prioritários são idosos e trabalhadores da saúde. Mais duas etapas serão realizadas para públicos diferentes.

A vacina, composta por vírus inativado, é trivalente e protege contra os três vírus que mais circularam no Hemisfério Sul em 2019: Influenza A (H1N1), Influenza B e Influenza A (H3N2).

A etapa seguinte da campanha terá início no dia 16 de abril, com o objetivo de vacinar doentes crônicos, professores (rede pública e privada) e profissionais das forças de segurança. A última fase, que começa no dia 9 de maio, dará prioridade a crianças de 6 meses a menores de 6 anos, pessoas com 55 a 59 anos, gestantes, puérperas (até 45 dias após o parto), pessoas com deficiência, povos indígenas, funcionários do sistema prisional, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas e população privada de liberdade.