PESQUISA

Fiocruz encontra fragmentos do novo coronavírus na rede de esgoto

No entanto, não há evidências científicas que confirmem a transmissão do coronavírus pela rede de esgoto

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 29/04/2020 às 17:22
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Pesquisadores da Fiocruz detectaram a presença de fragmento do novo coronavírus em esgotos de Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Apesar da descoberta, ainda não há evidências científicas de que o vírus possa ser transmitido pela rede de esgoto, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A pesquisadora Camille Mannarino, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, reforça a informação. “Não existe nenhuma evidência de que possa ser possível a transmissão de coronavírus pelo esgoto. Essa é posição da OMS. O que a gente encontra no esgoto são fragmentos virais. O que sobra do vírus depois que ele foi destruído pelo sabão, calor e pela salinidade do esgoto (...) Os pesquisadores que trabalham com virologia ambiental têm fortes indícios de que esse vírus não está ativo no esgoto e não tem capacidade de infectar a população”, explicou.

A pesquisadora Camille Mannarino, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, explica que o estudo foi realizado em outro países, como China, Holanda, Austrália e França, que detectaram fragmentos do vírus na rede de esgoto. “Esse estudo foi fundamentado em alguns estudos internacionais que foram lançados anteriormente que mostram que pacientes com coronavírus excretam fragmentos virais nas fezes”, disse.

Segundo a pesquisadora, o objetivo é antecipar a presença do novo coronavírus antes que o paciente precise procurar uma unidade de saúde. “Nosso objetivo é conseguir encontrar fragmentos virais na rede de esgoto antes que pessoas acometidas com a doença procurem um sistema de saúde. A gente consegue fazer essa determinação de maneira precoce. A pessoa pode ter sido infectada, pode ter a doença, seja assintomática ou com sintomas brandos ou que ela não vá procurar uma unidade de saúde, mas ela já está excretando o vírus. Isso é uma forma de fornecer subsídios para o sistema de saúde atuar nessas comunidades”, detalhou.

Fragmentos do novo coronavírus em áreas sem registros de infectados

De acordo com a pesquisadora, foram encontrados fragmentos do coronavírus em locais que não há registros de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. “A gente já tem resultados que permitem mostra que mesmo em algumas comunidades onde não existem casos registrados, a gente tem a presença de fragmentos virais no esgoto. Isso é importante para a vigilância em saúde mover ações da atenção primária em saúde e otimizar recursos, que a gente sabe que são tão escassos nessa época”, comentou.

O estudo, realizado em parceria com a Prefeitura de Niterói, é pioneiro no país e a cidade de foi escolhida por ter 95% dos esgotos coletados. Camille Mannarino aponta que o estudo reforça a importância de saneamento básico. “Essa pesquisa contribui para mostrar que nos locais onde existe saneamento básico, essa pode ser uma ferramenta de fornecimento de informações para vigilância em saúde. A gente começou a fazer essa pesquisa em Niterói porque a cidade tem 95% dos esgotos coletados e a gente tem controle sobre a rede de esgoto. Nos locais onde não existem esgoto coletado não é possível fazer esse tipo de trabalho. Então, a gente deixa de ter informações que poderiam agregar à vigilância em saúde e melhoraria da qualidade de vida da população”, defendeu.