SERTÃO DE PERNAMBUCO

Pankararus denunciam novas ameaças contra indígenas

A reserva indígena Pankararu está situada nos municípios de Jatobá, Petrolândia e Tacaratu, no Sertão de Pernambuco

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 11/08/2020 às 18:47 | Atualizado em 14/02/2022 às 17:43
Bia Pankararu/ Instagram Povo Pankararu
FOTO: Bia Pankararu/ Instagram Povo Pankararu

Situada nos municípios de Jatobá, Petrolândia e Tacaratu, no Sertão pernambucano, a reserva indígena Pankararu foi criada em 1942, ano em que a Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu a existência de povo indígena no local. A demarcação das terras é uma luta travada por mais de 70 anos. São mais de 30 de batalha judicial para a retirada da população que não é da mesma etnia. A última decisão de desocupação saiu no dia 8 de março de 2018.

Segundo o diretor do Núcleo de Estudo e Pesquisa de Etnicidade da Universidade Federal de Pernambuco, Renato Athias, a demarcação das terras Pankararu tem registros públicos datados de 1938. “De 1938 para cá elas estão sendo cada vez mais não só requisitadas pelos índios, porque eles têm direito, mas essas terras fazem parte de um conjunto de terras Pankararu dessa região”, disse.

Depois de anos de trâmites judiciais, no dia 13 de setembro de 2018, a Polícia Federal de Pernambuco realizou a Operação Pankararu. A ação desocupou 12 imóveis na localidade e devolveu a posse das terras aos índios.

Denúncias

Sob constantes ameaças de invasores às terras, há tempos o povo Pankararu não sabe o que é viver em paz. No final de julho, uma placa foi instalada dentro do território demarcado onde estavam escritos mais de 10 nomes de indígenas marcados para morrer.

 
 
 
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Pankararu segue recebendo ameaças diretas de morte as nossas lideranças! Pra quem não se lembra, ou não sabe, Pankararu passou décadas enfrentando na justiça todos os trâmites de desintrusão de posseiros do nosso território, intrusão que chegou ocupar 20% de 8.100 hectares que é reserva indígena demarcada e homologada. Só em 2018 tivemos causa ganha em todas as instância por onde o processo transitou. Todos os diálogos e prazos foram dados, respeitados e abusados, as piadas, as tocaias, as ameças se tornaram cada vez mais frequentes até os incêndios criminosos na madrugada do após segundo turno das eleições presidenciais. Semana sim, outra não, arames cortados e árvores aparecem nas propriedades dos pankararu, bilhetes e agora uma placa! A matéria que o @cimi_conselhoindigenista nos trouxe hoje também nos traz a perguntada repetida desde 1.500: Quando vão nos deixar em paz? Outras perguntas caberiam, milhares, mas o que mais perturba são as faltas de RESPOSTAS! Onde estão as investigações dos incêndios em 2018/2019? Onde estão as medidas protetivas no território? ONDE ESTÁ A FUNAI, MP, PF, Governo do Estado, alguém?! A quem interessa nossas mortes? A quem interessa esse descaso? Nós seguimos segurando numa mão a Força Encantada e na outra a certeza de que a justiça não falha, seja a dos homens, ou a do universo, não nos calarão! RESISTÊNCIA!

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Um indígena, que prefere não se identificar por questão de segurança, ainda afirma que até escolas e posto de saúde foram atacados como forma de intimidação ao povo Pankararu. “Vez ou outra eles voltam, à noite, encapuçados, armados, colocam fogo nas escolas, numa igreja, dois postos de saúde, destruíram a rede de abastecimento de água. Estamos sem água desde 2017. E agora eles retornam com ameaças. Isso é uma forma de tentar retornar ao território, só que eles não vão intimidar o nosso povo. Nós não vamos nos calar, não vamos nos intimidar com a pressão que eles têm feito”, afirmou.

Diante de toda a insegurança vivida, o indígena afirma não querer vingança. Deseja apenas justiça para o povo Pankararu. “Nós não queremos nos sujar, nos igualar a esses vândalos. Pedimos à Justiça, aos órgãos de controle que intervenham”, disse.

Procurada pela reportagem da Rádio Jornal, a Polícia Federal de Pernambuco informou que só pode se pronunciar depois de receber dos Pankararus denúncias de casos concretos.

Ouça a matéria completa, que tem produção de Gabriela Bento e texto de Airton Vasconcelos: