CORONAVÍRUS

Uma coisa pode ser confundida com a outra, diz especialista sobre persistência da covid-19 e reinfecção

Sequeciamento genético do vírus é essencial para a confirmação de casos de reinfecção da covid-19

Yuri Nery
Yuri Nery
Publicado em 02/10/2020 às 17:50
Gian Galani Fotografias/ PUCPR
FOTO: Gian Galani Fotografias/ PUCPR

Pesquisadores do mundo inteiro estão debruçados nas pesquisas para descobrir e entender como o novo coronavírus se comporta nas pessoas. E quando o assunto é imunidade ao vírus, um dos fatores que muito tem chamado a atenção é a possibilidade de reinfecção pela covid-19. Nos mês de agosto pesquisadores de Hong Kong confirmaram o primeiro caso de reinfecção do mundo para a doença. E um estudo realizado em Pernambuco alertou para a reinfecção em dois profissionais de saúde, um homem e uma mulher. O doutor em ciências biológicas, Max Lima, explica que casos de reinfecção podem ser confundidos com a persistência do coronavírus.


“Se você não faz todas essas análises, uma coisa pode ser confundida com a outra, sim. não é muito difícil de isso acontecer, não. Nesse caso, no estudo da UFRJ, e até do estudo aqui em Pernambuco, ambos são muitos bons, são indícios muito bons, mas, pelo que eu vi, eles não fizeram o sequenciamento do vírus. Então a gente não pode dizer com certeza se a primeira cepa que infectou a pessoa é diferente da segunda. A gente não tem como comparar isso. Então uma coisa pode muito bem se confundir com a outra”, disse.

Como comprovar a reinfecção


Marx Lima explica alguns aspectos que devem ser analisados para confirmar um caso de reinfecção pela covid-19. “Para você comprovar que um evento de reinfecção aconteceu, é um trabalho bem árduo (...) Primeiro a gente precisa que a pessoa infectada tenha feito um teste PCR e esse teste tenha dado positivo. O Teste PCR é o que detecta material genético do vírus. então, geralmente isso significa infecção ativa. Depois desse teste positivo, você passa o período de recuperação e o ideal é que se tenha um teste sorológico para ver se a pessoa tem anticorpo para a doença. O famoso IGG e IGM. Após isso, se faz outro PCR para saber se o resultado vai dar negativo, ou seja, se a pessoa não tem mais material genético do vírus dentro dela. Depois você espera um período. E se a pessoa manifestar sintomas de novo (...) você isola o vírus e sequência ele”, detalhou.

O sequenciamento do vírus

O biólogo destaca que o sequenciamento do vírus é essencial no processo de pesquisa necessário para a identificação de casos de reinfecção da covid-19 nas pessoas. “O ideal é que na primeira infecção você tenha sequenciado o vírus. E aí nesse segundo caso você também isola e sequência o vírus. Depois você compara essas duas cepas virais, dessas duas linhagens, e vê se elas são diferentes uma da outra. Se a resposta for sim, muito provavelmente é um evento de reinfecção. Aliás, quase com certeza. Se a resposta for não, você pode ter uma pessoa que foi reinfectada pela mesma cepa do vírus. O que é muito improvável. E a outra possibilidade é a persistência do vírus”, disse.

Imunidade coletiva

Para o especialista, falar de imunidade permanente ou coletiva em locais em que a novo coronavírus fez muitas vítimas é bastante delicado. “Imunidade permanente é algo que a gente precisa ter muito cuidado de falar, em locais que a covid-19 correu solta. Hoje a gente está vendo uma complicação séria. O caso de Manaus, por exemplo, que está tendo de novo uma alta de casos e de mortes. Então, é muito complicado você falar em imunidade duradoura ou até imunidade coletiva”, alertou.

Persistência dos sintomas na população jovem


Ele ainda faz um alerta para a população jovens, que segundo estudos internacionais, é a que mais tem apresentado persistência do sintoma da covid-19. “Aqui no Brasil a gente ainda está engatinhando nisso, a gente está pesquisando. É muita coisa para pesquisar. Mas, em outros países já foram avaliados alguns pontos. No Reino Unido, se viu que 10% das pessoas que tiveram casos moderados da covid-19, tiveram sintomas persistentes. E a maioria dessas pessoas que tiveram sintomas persistentes, são jovens. Pessoas de no máximo 45 anos. Então, é uma coisa para a gente ficar atento. Porque são os jovens que estão agora circulando mais. Que estão voltando mais próximo da vida normal”, finalizou.