Lázaro Barbosa

Carta de Lázaro Barbosa: veja texto que pode ter sido escrito por criminoso dizendo que não se entregaria e falando da relação com o pai

Carta foi encontrada em chácara na região por onde Lázaro Barbosa passou; criminoso foi morto em operação da polícia nessa segunda-feira

Gabriel dos Santos
Gabriel dos Santos
Publicado em 29/06/2021 às 8:12 | Atualizado em 15/03/2023 às 20:14
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Antes de morrer, Lázaro Barbosa teria escrito uma carta dizendo que não se entregaria e que preferiria morrer a voltar para a cadeia. O texto foi encontrado em uma chácara na região por onde o criminoso era procurado e onde morreu durante operação da polícia nessa segunda-feira (28). A perícia ainda não confirmou se a carta foi, de fato, escrita por Lázaro Barbosa, mas o texto conta detalhes da vida do homem de 32 anos que ficou famoso em todo o país, após conseguir se manter foragido por 20 dias, apesar de uma enorme força-tarefa de buscas que contava com 270 policiais. Até esta quarta-feira (30), a família ainda não foi buscar o corpo de Lázaro Barbosa.

O texto foi lido pelo apresentador Geraldo Luís, da TV Record, que também é citado na carta. Em vários trechos, há erros de português. Se de fato foi escrito por Lázaro Barbosa, o texto traz relatos de uma infância com violência doméstica e detalhes da vida do criminoso nas cadeias por onde passou, antes de fugir.

>>> Dois dias após morte, corpo de Lázaro segue no IML. Veja aqui o que pode acontecer.

Leia a carta que teria sido deixada por Lázaro Barbosa:

"Olá. Nesse mundo todo mundo tem o prazer de ter eu nele. Sou Lázaro Barbosa de Sousa, que pela primeira vez escrevo. Não como estão dizendo que escrevi isso ou aquilo. Não sei muito escrever, pois não terminei a 7ª série direito. Não estou aqui para justificar pois nada justifica tamanha crueldade", diz trecho da carta.

 

>>> Na hora da morte, Lázaro estava com mais de R$ 4 mil no bolso, segundo polícia.

 

"Para começar, você Geraldo [Luís, apresentador da TV Record], fala disso como papagaio, fala porque ouviu, mas a verdade é outra. Você falou que meu remédio é cadeia (?), é porque você não conhece Deus. Você que fala que eu faço macumba para a PM não me pegar , é um mentiroso e em você não existe verdade", está também escrito na carta.

Depois disso, a carta relata a infância de Lázaro e os problemas com o pai dele. "Eu nasci no interior da Bahia. Fui e sou sofrido. Como muitos, vivi arrancando toco para ganhar R$ 5,00 por dia. Sai da escola para trabalhar. Como muitos, esse ai que se diz ser meu pai e quer Justiça me abandonou". "Eu e meu irmão vivia catando mamona para ele vender e beber cachaça e chegar bêbado quebrando as portas. Eu vivia no mato porque minha mãe vivia no mato, com nós no mato, com medo dele. Com 13 anos, sai de casa e vim para Goiás, atrás de uma vida melhor. Ele já estava aqui há muito tempo. Pensei que ele poderia me ajudar, mas ele não fez isso. Me colocou fora de casa e disse que não aceitaria um vagabundo", é possível ler na carta.

 

>>> "Vou morrer, mas levo vocês", teria dito Lázaro a policiais.

 

A carta segue: "Minha tia Amélia que me ajudou, mas eu cresci uma pessoa revoltada com tantas coisas que não dá para descrever tudo. Mas não sou eu que passei só por isso. Ele está assim hoje porque Deus castigou ele com dois derrames na cabeça de tanta cachaça".

Vida na prisão

Lázaro teria escrito então sobre sua vida na cadeia. Ele foi preso na Bahia, no Distrito Federal e em Goiás, mas fugiu todas as vezes. "Olá, Brasil. Eu Lázaro, vivi preso por sete anos por crimes, sendo inocente. Meu irmão se envolveu com uma rapariga, que roubou a carteira dele. Já tomando umas, vindo do estabelecimento dela, e percebeu que ela teria roubado ele. Voltou para buscar o dinheiro dele e ela já estava fechada. Fui preso, lá dentro da prisão sofri pior que cachorro sem dono. Apanhava todo dia, toda hora, rasparam meu cabelo, minhas sobrancelhas foram raspadas. O diretor pedia para os presos me bater. Sofri nove meses sem poder falar até ser reencaminhado para o Distrito Federal".

 

>>> Polícia acredita que Lázaro não agia sozinho e que fazendeiro de 74 anos preso era um dos líderes da quadrilha.

 

"Eu tenho coração, saudades, sentimentos. Meu amor verdadeiro é minha mãe e uma garota chamada Ellen, a filha que Deus me deu", escreveu. "Meu coração não voltaria mais, pois sou traumatizado da cadeira. Quando fui preso em Águas Lindas, até me estuprar, me estupravam e me batiam com cassetete. Se os agentes quisessem e tem denúncia, podem olhar minha ficha. Isso ninguém fala".

"Tudo que eu passei me fez me tornar uma pessoa, mas eu temo somente a um: meu Deus", segue a carta. "Não vou me entregar, pois sei tudo que vou passar. Prefiro a morte. Lá não é centro de reeducação. Lá, é planeta de bandido. Peço perdão primeiramente ao Criador".

A carta é assinada por Lázaro Barbosa de Sousa.

Morte de Lázaro

Lázaro foi morto em operação policial na manhã da segunda-feira (28), no bairro de Itamaracá, em Águas Lindas de Goiás, bem perto do Distrito Federal. Segundo os policiais, o homem estava perto da casa de uma ex-sogra e reagiu. Na troca de tiros, o criminoso foi alvejado com mais de 30 tiros.

Lázaro chegou a ser levado ao hospital, mas morreu na unidade de saúde, de acordo com o secretário Rodney Miranda. Este foi o fim da caçada contra o homem de 32 anos que levou pânico a moradores de cidades como Edilândia e Cocalzinho de Goiás, durante 20 dias de fuga.

As buscas por Lázaro começaram em 9 de junho, quando ele foi apontado como principal suspeito de cometer uma chacina contra quatro pessoas de uma mesma família em Ceilândia, no DF.