INVESTIGAÇÕES

Caso Beatriz: tudo sobre um dos mais controversos casos policiais do Brasil

O assassinato da menina Beatriz Angélica Mota completou seis anos em 2021

Marcelo Aprígio
Marcelo Aprígio
Publicado em 20/01/2022 às 8:45 | Atualizado em 22/11/2022 às 9:47
Notícia
Reprodução/ Facebook
A menina Beatriz Angélica Mota foi assassinada a facadas em dezembro de 2015 - FOTO: Reprodução/ Facebook

Um dos mais controversos casos policiais do Brasil completou seis anos em 2021. O assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, morta a facadas em 10 de dezembro de 2015 em um colégio particular de Petrolina, em Pernambuco, chamou a atenção de todo o Estado nos últimos anos. Isso porque a investigação do Caso Beatriz é longa e passou por diversas instabilidades.

Beatriz foi assassinada durante a festa de formatura da irmã, no colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde o pai era professor de inglês. Desde lá, o caso passou por oito delegados, uma média de um a cada nove meses. Recentemente, ficou sob responsabilidade de uma força-tarefa formada por quatro profissionais.

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Arquivo Pessoal / Cortesia
CASO BEATRIZ Menina Beatriz foi morta aos 7 anos a facadas durante uma festa na escola onde estudava em Petrolina, no Sertão de Pernambuco - Arquivo Pessoal / Cortesia

Além disso, nos últimos seis anos, foram sete perícias, 24 volumes no inquérito, 442 depoimentos e 900 horas de imagens analisadas.

Pouco depois do crime, a Polícia Civil acreditava que conseguiria identificar o autor do crime com facilidade dado o alto número de possíveis testemunhas — eram mais de 2,5 mil pessoas na formatura — e diante da possibilidade de câmeras de monitoramento terem registrado a circulação e possível atuação do suspeito.

Porém, as imagens das câmeras de segurança da escola foram apagadas inicialmente. Uma investigação foi aberta para determinar se o sumiço foi acidental ou proposital.

Pedido de prisão

Por causa disso, em dezembro de 2018, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), a pedido do Ministério Público, determinou a prisão preventiva de Alisson Henrique de Carvalho Cunha, funcionário terceirizado do colégio.

O TJPE entendeu, na ocasião, que ele apagou as imagens e interferiu na investigação. Cunha não se entregou e foi considerado foragido. Em setembro de 2019, porém, a corte revogou o mandado de prisão.

O desaparecimento das imagens passou a ser investigado em uma apuração à parte. Apesar disso, a Secretaria de Defesa Social (SDS) diz que todas as imagens foram recuperadas e entregues ao Ministério Público. Além disso, três pessoas foram indiciadas nesse inquérito.

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 Reprodução/TV Globo
Suspeito foi flagrado por câmeras de segurança no dia do crime - Reprodução/TV Globo

No intervalo entre os anos, em 2017, imagens de uma câmera de segurança da área externa da escola, com resolução não tão nítida, mostravam um homem circulando no entorno do colégio. Ele foi apontado como suspeito de matar Beatriz.

Nada disso, porém, confortou os pais de Beatriz, Sandro Mota e Lucinha Mota, que, com dúvidas sobre os rumos da apuração, contrataram uma empresa dos EUA para a realização de uma investigação paralela sobre o caso. Os detalhes são mantidos em sigilo pela família.

A empresa contratada divulgou em maio de 2021 um retrato falado do suspeito de matar a menina. Mas não conseguiu identificar o homem na época.

Caminhada até o Recife

Sete meses depois, em dezembro de 2021, Sandro e Lucinha fizeram uma caminhada de Petrolina até o Recife, pedindo justiça. O trajeto de mais de 700 km findou ao chegarem à capital, em 28 de dezembro. Na ocasião foram recebidos pelo governador Paulo Câmara (PSB) e por secretários de Estado na sede da administração de Pernambuco.

Câmara manifestou apoio a um dos principais pleitos da família de Beatriz: a federalização da investigação do caso. No mesmo dia, o gestor assinou a demissão do perito Diego Henrique Leonel de Oliveira Costa, que atuou no caso.

De acordo com a corregedoria da SDS, ele prestou consultoria de segurança por meio de uma empresa da qual é sócio ao colégio onde Beatriz foi morta. Esse tipo de atuação é vedado por lei, segundo a administração estadual.

Suspeito identificado

No começo de janeiro de 2022, a SDS divulgou que o suspeito de matar a menina foi preso após confessar o homicídio. A pasta também explicou as circunstâncias nas quais aconteceu o crime.

Segundo a secretaria, a menina teria se assustado ao ter contato com o suspeito quando foi beber água. De acordo com os investigadores, o homem, então, teria deferido dez facadas em Beatriz para silenciá-la. Ele ainda teria agido aleatoriamente, o que é contestado pela família de Beatriz.

O suspeito M.S, de 40 anos, vivia em situação de rua, segundo a SDS, e teria entrado na escola já com a faca e com a intenção de pedir dinheiro aos participantes do evento para poder deixar Petrolina e voltar à cidade de Trindade, também no Sertão, onde vivia com a família.

A SDS disse que conseguiu chegar ao suspeito por meio da comparação do DNA do homem, preso desde 2017 por outro crime, com o coletado na faca usada no crime.

O DNA dele foi inserido na base de dados estadual em 2019, quando houve uma atualização no banco. O primeiro indício que levou ao nome dele surgiu no final de 2021, quando se descobriu que seu DNA era o mesmo DNA encontrado na faca, segundo a polícia.

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DIVULGAÇÃO/MPPE
Promotora de Justiça Ângela Cruz e secretário Humberto Freire - DIVULGAÇÃO/MPPE

No início deste ano, o suspeito foi submetido a um procedimento relacionado ao outro processo ao qual responde, ocasião em que houve nova coleta de seu DNA. Em seguida, esse material foi usado para confirmar o que a polícia tinha atestado anteriormente.

O DNA que estava na faca foi comparado com o material genético de 125 pessoas consideradas suspeitas.

Após isso, o Ministério Público Estadual (MPPE) pediu a realização de novas perícias complementares. A informação foi repassada pela promotora Ângela Cruz, coordenadora do Grupo de Atuação Conjunta Especial (Gace), que acompanha o caso. 

Um dia após a revelação de ser apontado como autor da morte de Beatriz, o homem foi transferido de Salgueiro, onde estava preso por estupro de vulnerável, para uma unidade penitenciária de Igarassu, na região metropolitana do Recife, no dia 13 de janeiro.

Carta negando confissão

O caso Beatriz ganhou um novo capítulo em 17 de janeiro de 2021: o homem suspeito de matar a menina escreveu uma carta na qual afirma que foi forçado a confessar o crime.

"Eu sou inocente, eu não matei a criança, confessei na pressão. Pelo amor de Deus, eles querem minha morte, preciso de ajuda. Estou com medo de morrer, quero viver. Eu não sou assassino", diz trecho de texto assinado por M.S, de 40 anos, apontado como suspeito.

REPRODUÇÃO/TV JORNAL
RELATO Advogado esteve em programas de TV mostrando o papel com o texto que diz ser do suspeito - REPRODUÇÃO/TV JORNAL

Na carta, o suspeito ainda afirmou querer falar com a mãe de Beatriz, Lucinha Mota e disse querer proteger a sua mãe. "Quero falar com a mãe da criança. Quero a proteção de minha mãe", escreveu.

O homem finalizou a carta assinando seu nome, a data e com a frase "Deus é fiel e justo".

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