A reclamação dos passageiros é geral e apresenta uma reação concreta no Brasil. De acordo com o anuário da Confederação Nacional de Transportes (CNT), em quatro anos, o número de passageiros que usam o ônibus caiu 25,9%.
Nas duas últimas décadas, a redução é ainda maior. Chega a 35,6%. São 137 milhões de pessoas a menos que utilizam transporte coletivo no país.
Para o presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) Otávio Cunha, a culpa da redução é do poder público.
"O setor está deixando de ser competitivo. Há 10 anos, a velocidade dos ônibus era de 25km/h. Hoje é de 15 km/h. Eles ficam parados no trânsito disputando espaço com automóveis. Este fenômeno está ligado à falta de investimentos em transporte público", frisou Otávio.
Pernambuco também segue a tendência nacional. De 2012 a 2017, a queda no número de passageiros chegou a 24%.
A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) também reforça que a crise econômica, a alta taxa de desemprego e o valor da tarifa de transporte contribuem para debandada dos passageiros.
O professor Leonardo Julio fez as contas e decidiu comprar uma moto. Agora, ele consegue chegar mais rápido nos lugares e gastando menos.
"Eu chego mais rápido na casa dos alunos ou nas empresas, onde eu trabalho, do que se fosse com transporte público E, por incrível que pareça, é mais barato eu ir de moto do que com transporte público", completou o professor Leonardo Junior.
Atualmente, Recife é a capital brasileira, onde o motorista gasta mais tempo no trânsito. O deslocamento de carro no horário de pico demora em média 86% a mais em comparação com os horários sem congestionamento.
Diante desses gargalos, a tecnologia encontrou uma oportunidade de negócio. Desde 2014, os aplicativos de transporte se popularizam no Brasil.
Para o coordenador do plano de mobilidade do Recife, Sideney Schreiner, esse aumento nas opções de transporte beneficia os usuários.
"Na perspectiva do usuário, é óbvio que o aumento das opções de transporte é sempre positivo. Você encontra um nicho da população que pode fazer esta migração. O impacto disso, porém, pode acarretar em problemas, como congestionamentos”, ressalta Sideney.
Só o aplicativo 99, um gigante do setor, tem 300 mil motoristas cadastrados e 15 milhões de usuários ativos no brasil. A empresa criada em 2012 vem acumulando um crescimento anual na casa dos três dígitos.
O presidente da 99, Matheus Moraes, afirma que o serviço do aplicativo ajuda a melhorar a mobilidade urbana.
"A gente fez um estudo recente que mostra que os carros de aplicativo, no horário de pico representam apenas 1% do total de carros em circulação. Na madrugada, este percentual sobe pra 50%. Ou seja, nosso objetivo é tentar reduzir o trânsito. A nossa ideia é fazer com que o carro deixe de ser uma propriedade e passe a ser um serviço, em que totalmente use de forma eficiente”, argumentou Matheus Moraes.
Desde 2016 que o contabilista Leandro Moura usa aplicativos de transporte pra ir ao trabalho. Ele alega que a comodidade e o custo benefício em relação ao táxi foram decisivos para abandonar o uso de ônibus.
“Eu uso aplicativo de transporte particular quando, normalmente, estou atrasado, porque tem uma estimativa de quando vou chegar. Não preciso esperar e nem enfrentar calor. Em relação ao conforto, é melhor. Em relação as distancias que enfrento, o custo benefício é até melhor que esperar um ônibus ", afirmou Leandro.
Além dos problemas já apresentados, a população ainda precisa lidar com a violência. De janeiro a julho deste ano, a secretaria de Defesa Social de Pernambuco registrou 528 assaltos a ônibus – somente na Região Metropolitana do Recife.
Estes números fizeram com que a designer de interiores, Ana Emília, optasse por utilizar uma plataforma voltada apenas para o transporte de mulheres.
" Infelizmente, a mulher continua sendo assediada em pleno século 21. Então, eu acho que ter a garantia de que o motoristas não vai fazer uso de má fé é muito importante pra nossa segurança”, falou Ana Emília.
Em 2017, surgiu o aplicativo Mary Drive direcionado exclusivamente para mulheres – sejam passageiras ou motoristas. Um dos motivos da criação do aplicativo é o assédio e a violência relatados por muitas mulheres ouvidas nas pesquisas de opinião realizadas pelos empresários.
"O principal é a segurança. Por conta de tanto assédio, pensamos em criar um aplicativo que também oferece serviços para a mulher ", argumentou Rhuan Torres- um dos idealizadores do Mary Drive.
Mas para resolver os problemas de mobilidade das grandes cidades, também é preciso pensar além dos carros. Em países da Europa, por exemplo, a cultura das bicicletas é prevalente.
Nestes lugares, boa parte da população se locomove diariamente pelas ciclovias. Os ônibus e outros veículos param para dar passagem aos ciclistas.
O modal passou a ser mais utilizado no Brasil. Para se ter ideia, as capitais do país já contam com 3.291 km de vias destinadas a bicicletas, o que representa um aumento de 133% em quatro anos.
"Meu principal modal de transporte pra pequenas distancias é a bicicleta. Aqui nós temos uma rede de ciclofaixas, relativamente boa, e isso faz com que a gente se sinta mais seguro do que ficar competindo espaço com carro na rua. O ônibus sempre fica como última opção por conta do tempo de espera, do trânsito e do percurso das linhas. Além disso, pesa a violência por conta dos assaltos. Então, tento ponderar e cogitar uma carona solidária dividindo com amigos e outras pessoas ", frisou o estudante Marcos Muniz que adotou a bicicleta como principal modal de locomoção.
Para o coordenador do plano de mobilidade do Recife, Sideney Schreiner, o gargalo no trânsito se resolve com sistemas integrados.
"A solução da mobilidade em qualquer cidade do mundo é com sistema integrado de transporte público coletivo com rede cicloviária e calçadas de qualidade. Não existe receita mágica. Não existe solução com os modos individuais. A gente não tem uma experiência no mundo de cidades de grande e médio porte que tenha sucesso construindo a sua mobilidade com sistemas individuais”, frisou Sideney Schereiner.
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