O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou, nesta terça-feira (11), que o país é o primeiro do mundo a registrar uma vacina contra a covid-19. No entanto, o anúncio está cercado de suspeitas da comunidade médica e científica internacional, inclusive da Organização Mundial da Saúde (OMS), com relação a eficácia dessa imunização. Para o médico representante da Sociedade Brasileira de Imunizações em Pernambuco, Eduardo Jorge, o anúncio do país é um desserviço.
“Eu acredito isso como um desserviço num momento tão difícil para a humanidade, quando todas as expectativas estão em torno de uma vacina que vá conseguir controlar a pandemia da covid”, criticou o médico.
Segundo a atualização mais recente da OMS, do dia 31 de julho, sobre as vacinas para covid-19 em desenvolvimento no mundo, a vacina russa ainda estava na fase um do processo, mas são necessárias três etapas para desenvolver uma imunização. “As vacinas precisam passar por fases muito bem direcionadas, definidas e publicadas para que a população tenha acesso, os cientistas e os médicos. Os chamados estudos pré-clínicos, estudos de fase I, estudos de fase II, estudos de fase III. Não há, até o momento, nenhum estudo de fase I ou II publicado da vacina da Rússia. A gente sabe que é uma vacina parecida com a de Oxford, que utiliza também a plataforma de vetor viral, a plataforma de adenovírus, mas se sabe muito pouco, porque nunca se publicou como é esta vacina”, detalhou.
Doutor Eduardo Jorge critica ainda o que chamou de uma corrida para sair na frente com relação ao registro da vacina. “Esse anúncio hoje, acompanhado de estardalhaço do presidente e do ministro da Saúde, que a vacina foi registrada no Ministério da Saúde da Rússia. Isso não significa absolutamente nada. É muito importante que as pessoas tenham essa consciência”, alertou o especialista.
O médico acredita que a vacina pode funcionar, mas questiona a forma como foi divulgada. “Eu até acredito que a vacina funcione, que possa ser usada, que seja uma boa vacina já que tem o mesmo racional teórico de Oxford. Mas eles jamais poderiam registrar essa vacina sem divulgar os estudos de fase I e II”, comentou o médico. “De concreto, a gente precisa ver os estudos desta vacina de fase I, de fase II e os estudos de fase III que vão começar agora. Pode ser que essa vacina funcione, que seja mais uma plataforma, que seja mais uma opção para o mundo inteiro e a gente torce que sim (...) entretanto, a gente precisa ter a certeza e ver esses dados e não somente a conversa do presidente ou do ministro da Saúde”, concluiu.
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