Caso Suzane Von Richthofen

Pais de Suzane von Richthofen: Veja detalhes do último dia de vida de Manfred e Marísia, antes de serem mortos pelos irmãos Cravinhos

Assassinatos dos pais de Suzane von Richthofen completam 19 anos daqui um mês; caso volta a ser lembrado após lançamento de filmes sobre o crime

Com informações do jornal O Estado de São Paulo
Com informações do jornal O Estado de São Paulo
Publicado em 30/09/2021 às 10:42
Reprodução/ Internet
FOTO: Reprodução/ Internet

Há quase 19 anos, o dia 30 de outubro de 2002 tinha tudo para ser uma quarta-feira como outra qualquer na vida da família Von Richthofen. Com um sobrenome pouco comum e difícil de ser pronunciado, o alemão Manfred vivia no Brasil desde a juventude, quando a família emigrou para cá nos anos 50. Formou-se em engenharia e trilhou uma carreira profissional com muitas vitórias. Naquele dia, chegou ao prédio da Dersa, estatal de desenvolvimento rodoviário de São Paulo onde era diretor, às 9h09. Em sua sala de 20 metros quadrados no sétimo andar do edifício, como todos os dias, notava porta-retratos com as fotos da família que repousavam sobre sua mesa. Ele não sabia que, menos de 24 horas depois, estaria morto, por decisão de uma das figuras de maior destaque nas fotografias: a filha mais velha, Suzane.

O caso voltou a ser bastante lembrado com o lançamento dos filmes "A menina que matou os pais" e "O menino que matou meus pais". No último dia de vida, Manfred estava eufórico. Finalmente, havia a perspectiva de sair a ordem de serviço para elaboração do projeto do trecho sul do Rodoanel Mário Covas, uma importante estrutura rodoviária que, hoje em dia, circunda a região central da região metropolitana de São Paulo. "Nós vamos fazer o Rodoanel", disse Manfred ao gerente da Divisão de Planejamento e Custo da Dersa, Oswaldo Uyemura. Os dois conversaram por cerca de 15 minutos naquele dia.

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O próximo passo seria analisar uma projeção da obra deixada para depois. "Amanhã vemos isso", disse Manfred. Ao fim do expediente, pegou o paletó, a pasta de couro, trancou a porta e foi embora. Ele não voltaria mais para aquele lugar.

Marísia

Discreta e muito elegante, a esposa de Manfred, Marísia, também levou um dia normal. Psiquiatra, esteve em seu consultório na Rua República do Iraque, número 808, das 7h até por volta das 13h, onde atendeu pacientes. De acordo com as investigações, não se percebeu nenhuma mudança na conduta da médica ao longo daquela quarta-feira. Procurada pela reportagem do Estadão, uma funcionária de Marísia preferiu não comentar sobre aquele dia. Os vizinhos da família disseram que todos eram muito discretos.

Suzane von Richthofen
Suzane von Richthofen
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E Suzane? O que fez naquele dia?

Como se sabe, na madrugada do dia seguinte, 31 de outubro, Manfred e Marísia foram mortos a pauladas a mando da filha deles, Suzane von Richthofen, com 18 anos na época. Segundo os investigadores, a jovem também teve um dia considerado normal.

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Estudante de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Suzane esteve na sala de aula de número 208, do segundo andar do campus, durante a manhã, onde assistiu aulas de sociologia e fundamentos do direito público. A professora Daniela Campos narrou para os policiais que ela estava "calma, tranquila, como sempre" naquele dia, apesar de ter ficado calada durante a aula. "Ela nunca foi participativa dentro de sala de aula, mas tirava boas notas", explicou a professora.

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Uma colega de classe disse que Suzane estava "normal" e comentou que os alunos com quem ela estudava sentiam dificuldade de acreditar que a jovem havia mandado matar os pais. "Ela é meiga e carinhosa", refletiu.

Noite do crime

Não há muitos detalhes de como Manfred e Marísia foram dormir no dia 30. O que se sabe é que, após os pais se recolherem, Suzane e o então namorado, Daniel Cravinhos, levaram o irmão dela, Andreas, de 15 anos, para uma lan house. O garoto ligou o computador às 23h47, segundo apurou a Polícia Civil de São Paulo.

Suzane e Daniel não ficaram com Andreas. Ao saírem, foram buscar Cristian, irmão de Daniel, e seguiram até a mansão dos Richthofen no bairro nobre do Brooklin. Ao entrarem na residência, Suzane foi até o quarto dos pais para confirmar que as vítimas estavam dormindo e fez sinal para que os assassinos entrassem no quarto.

O processo mostrou que Daniel espancou Manfred e Cristian, Marísia. Pai e mãe tiveram afundamento de crânio causado pelas agressões. Suzane teria ficado em um corredor e não teria visto os assassinatos.

Após as mortes, os três bagunçaram a biblioteca da mansão para tentar fazer crer que o crime se tratava de um roubo seguido de morte. Eles também roubaram dinheiro e joias da casa. Cristian foi embora, e Suzane foi a um motel com Daniel, na tentativa de ter uma desculpa para explicarem onde estavam no momento do crime.

Em seguida, foram buscar Andreas na lan house. O irmão de Suzane desligou o computador às 2h55 do dia 31. Eles voltaram para casa e, lá, Suzane fingiu não saber o que estava acontecendo e chamou a polícia.