BRASIL

“Parece que a vida das pessoas não é importante”, diz médico sobre ação do Governo Federal na crise do coronavírus

Luiz Aureliano criticou a maneira como o presidente Jair Bolsonaro conduz o país diante de uma das maiores crises sanitárias do Brasil

LOURENÇO GADÊLHA
LOURENÇO GADÊLHA
Publicado em 08/07/2020 às 14:35
José Cruz/ Agência Brasil
FOTO: José Cruz/ Agência Brasil

O médico sanitarista Luiz Aureliano, em entrevista à Rádio Jornal nesta quarta-feira (8), criticou o que chamou de “falta de planejamento” do Governo Federal para organizar e supervisionar as ações de enfrentamento à pandemia da covid-19, além da ausência da construção de um maior diálogo com os estados e municípios, responsáveis pela execução das medidas de combate ao coronavírus.

“No Brasil não há planejamento. Infelizmente temos um presidente que diz 'e daí?' para as vítimas do coronavírus. O papel do Governo Federal é organizar e supervisionar as ações de combate ao vírus que serão executadas pelos estados e municípios, mas isso não acontece. É uma briga permanente. Fica muito difícil enfrentar uma pandemia agindo assim. Parece que a vida das pessoas não é importante. O Brasil é um país sem planejamento agindo na base do improviso. Já falta recurso somando os três entes federativos e não tem planejamento, não tem definição de prioridade para definir o papel de cada um”, criticou.

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Aureliano também criticou a maneira como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) conduz o País no enfrentamento a uma das maiores crise sanitárias da história do Brasil.

“O presidente da República não consegue sentar com os governadores. Vive numa disputa política-eleitoral permanente, 24h por dia em todos os dias da semana. Dessa forma é impossível combater com seriedade esse vírus. Agora o presidente vem dizer que está tomando hidroxicloroquina. Ele está tomando é placebo. Ele não é louco de tomar esse medicamento com 65 anos de idade. Qual o exemplo que ele passa para as pessoas? Tem gente que vem me procurar pedindo para passar ivermectina ou hidroxicloroquina só porque o presidente disse que estava tomando. As pessoas pobres acreditam”.

Interior

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Residente em Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, o médico se mostrou extremamente preocupado com o avanço da covid-19 para o interior dos estados. “A tendência é cada vez pior por aqui. Estamos aumentando o número de casos e óbitos. A pandemia está migrando da Região Metropolitana, do Agreste e do Litoral para o Sertão. É uma situação difícil porque os prefeitos pressionados pelos empresários estão reabrindo o comércio, com aglomerações de pessoas, que não têm consciência. Não temos leito de UTI em Serra Talhada. Os hospitais privados conveniados com o SUS não aceitam receber pacientes com suspeita de covid. É um absurdo. Discriminar pacientes é uma coisa que está nos preocupando”, lamentou.

Aureliano aponta as aglomerações e a falta de informação como um dos principais fatores para a rápida proliferação do vírus no interior do estado. "A principal fonte de transmissão é de pessoa para pessoa. Poucos dias atrás uns amigos se reuniram para fazer uma farra. Resultado? Alguns deles se agravaram e um já morreu nesta semana. Então é uma situação muito difícil e preocupante. A preocupação é muito grande porque vai morrer, principalmente, os mais pobres, já que as pessoas mais ricas têm condições de migrar para os hospitais da capital utilizando o plano de saúde", disse.

" Não há uma política de prevenção, de educação permanente para que a nossa população possa se resguardar e se proteger. É uma luta pela sobrevivência. A gente não tem leito hospitalar para atender essa demanda que ainda vai estourar. Aqui no Sertão ainda não chegou no ápice", finalizou o médico sanitarista Luiz Aureliano.

Ouça a entrevista na íntegra: