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Pesquisadores da UFPB desenvolvem inseticida natural capaz de matar o Aedes aegypti

O mosquito Aedes aegypti é o vetor de transmissão da dengue, zika e chikungunya

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 10/07/2020 às 17:05
Foto: Agência Brasil
FOTO: Foto: Agência Brasil

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Algodão) desenvolveram um inseticida natural que consegue matar o mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como a dengue, a zika, a chikungunya e a febre amarela urbana. O produto é feito de extrato de Agave sisalana, planta conhecida como sisal, que é utilizado para produzir cordas e vassouras.

A professora e pesquisadora do Departamento de Biologia Celular e Molecular da UFPB, responsável pelo inseticida, Fabíola Cruz, explica como a pesquisa teve início. “Começou em 2012 com uma ideia que a Embrapa, que é nossa parceira nessa pesquisa, trouxe para gente de um conhecimento popular. Eles traziam relatos de que os produtores de sisal utilizavam o suco de sisal, jogavam sobre os animas de criação e observavam que os carrapatos desses animais caíam. Surgiu aquela curiosidade científica: será que por trás desse conhecimento popular tem alguma coisa científica?”, contou. “Nós começamos a pesquisar a Agave sisalana, que é o sisal, e realmente foi uma surpresa para gente porque essa planta tem um potencial inseticida bastante importante, mata o mosquito em muito pouco tempo”, completou.

A professora apontou que a principal forma de combate às doenças causadas pelo Aedes aegypti é o controle do mosquito, por isso a descoberta é tão importante. “Se a gente conseguir controlar o vetor a gente consegue controlar essas outras doenças porque a única forma de transmissão dessas doenças é através do mosquito”, comentou.

Humanos podem usar o inseticida?

De acordo com a pesquisadora, ainda não é possível afirmar se o inseticida é seguro para humanos e testes estão sendo realizados para saber a toxicidade do produto. “Testamos ele em embrião de peixe-zebra, que é um tipo de teste que a gente faz para avaliar a toxicidade, e ele foi tóxico para esse embrião. A gente fez um estudo de toxicidade com um crustáceo bem pequenininho, chamado de Artemia salina, e ele [o inseticida] também foi tóxico para esse crustáceo. Fizemos um estudo com caprinos e ovinos e ele não foi tóxico”, detalhou. “É possível que ele seja tóxico para organismos muito pequenos, mas é possível que ele seja seguro para utilização para humanos. Isso tem a ver com uma série de questões fisiológicas”, salientou Fabíola Cruz.

A pesquisadora comenta ainda que, mesmo sendo natural, é possível que o inseticida seja tóxico, por isso é importante realizar os testes. “A gente precisa pontuar que mesmo produtos naturais podem ser tóxicos. Existem muitas plantas que são tóxicas e a gente precisa ter esse cuidado. As nossas pesquisas nós avaliamos a atividade inseticida sobre o mosquito e estamos avaliando ainda a toxicidade deste produto”, disse.

Geração de economia

A pesquisadora também comentou que a descoberta é uma ótima notícia para a indústria do sisal, já que boa parte do material era desperdiçado. “A indústria do sisal só aproveita em torno de 10% da planta, que é a fibra, que justamente vai fazer a corda, vassoura e outras coisas. 90% da planta são resíduos líquidos, que a gente chama do suco do sisal. Esse resíduo, hoje, não tem nenhuma utilidade pela indústria, vai para o lixo”, afirmou. “Na medida que a gente está propondo a utilização desse suco do sisal como inseticida a gente estaria resolvendo vários problemas. Um que é tirar esse resíduo da natureza e dar a ele uma finalidade que é muito nobre porque a gente vai estar ajudando a combater esse mosquito. E o outro que é aumentar muito a renda do produtor do sisal, que agora ele passaria a aproveitar 100% da planta e não só 10%”, concluiu.