CUIDADO

Pesquisadora alerta que volta às aulas presenciais não pode considerar apenas os estudantes

Os órgãos de educação têm discutido como voltar às aulas presenciais de forma segura diante da pandemia do novo coronavírus

Ísis Lima
Ísis Lima
Publicado em 27/07/2020 às 16:00
Reprodução/TV Jornal Interior
FOTO: Reprodução/TV Jornal Interior

Estados e municípios de todo o Brasil têm discutido caminhos para o retorno às escolas após meses sem a presença dos alunos nas salas de aula. O maior desafio, neste momento, tem sido encontrar caminhos seguros e conscientes para essa volta no meio da pandemia do novo coronavírus. Pensando em auxiliar gestores, trabalhadores e a comunidade das instituições de ensino de maneira geral, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz, lançou o “Manual sobre biossegurança para reabertura de escolas no contexto da covid-19”.

A professora e pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz, uma das autoras do manual, Anamaria Corbo, comentou que as instituições de ensino têm tido muitas dúvidas com relação ao retorno seguro neste momento de pandemia. Ela pondera que o documento não defende a volta, neste momento, às salas de aula e explica o porquê. “O manual não está defendendo uma retomada agora das instituições de ensino, do trabalho presencial. Há uma série de discussões, que elas têm que acontecer, relacionadas ao quando que se volta”, disse. “Alguns estudos têm mostrado que a transmissibilidade em determinadas faixas etárias é menor. E isso, para alguns, justifica o retorno, por exemplo, das crianças menores. Mas a discussão que a gente faz é a seguinte: você não pode pensar só no retorno do estudante. Você tem o trabalhador da limpeza, o docente, o trabalhador que está no atendimento da escola, aquela pessoa que vai fazer o transporte dessas crianças, o transporte dos trabalhadores que geralmente é em transporte coletivo (...) Todo cuidado que a gente tem que ter para que a escola não se transforme no ponto de disseminação do vírus”, afirmou.

A pesquisadora Anamaria Corbo também reforça que as escolas têm especificidades, consideradas pelo manual, que não podem ser ignoradas neste momento. “A gente não pode considerar escola como estabelecimento comercial como outro qualquer. Ou seja, não é só colocando álcool gel na entrada, medindo a temperatura das pessoas que a gente vai conseguir garantir esse retorno seguro”, disse. “[O manual] tem uma série de orientações que mostra um pouco a complexidade do que é a organização do espaço escolar para garantir esse retorno com segurança. Vai desde os cuidados com a circulação interna, o que você faz no horário de alimentação, porque é o momento em que você retira a máscara e a transmissibilidade pode ser maior, como você vai fazer o transporte dos estudantes e trabalhadores (...) Se você identifica um aluno que é assintomático, o que você faz? Como você organiza a gestão de trabalho no âmbito da escola? Como é que você trabalha com os trabalhadores, docentes que são grupo de risco, os estudantes também?”, completou.

Segundo a professora, também é importante saber como será estabelecida a interlocução com outros gestores municipais, como os da vigilância em saúde, assistência social, área de transporte. “O que a gente defende é que essa retomada das atividades presenciais de ensino não pode ser tratada como uma questão que vai envolver somente a secretaria municipal de educação ou a direção da escola. É uma discussão complexa, que vai envolver toda a comunidade escolar”, afirmou.

O “Manual sobre biossegurança para reabertura de escolas no contexto da covid-19” pode ser acessado no site da Fiocruz clicando neste link.